Reportagem de Giovani Grizotti mostra o envolvimento de policiais com o tráfico de drogas - TELEDOMINGO, RBS TV, 3/7/2011
Escutas telefônicas exclusivas mostram o envolvimento de policiais com o tráfico de drogas na Capital. A matéria mostra o esquema super organizado do crime. Um esquema que conta com informantes dentro da polícia.
Agente da Civil e policial militar estariam alertando traficantes sobre ações da BM na zona norte de Porto Alegre - GIOVANI GRIZOTTI | RBS TV, ZERO HORA 04/07/2011
Carga horária rígida, turnos bem definidos, assistência de policiais militares e propina de R$ 10 mil a um agente negociada por um advogado. São ingredientes de um esquema descoberto pela Polícia Civil e pelo Ministério Público que resultou no pedido de prisão preventiva de um agente e de um soldado da Brigada Militar (BM) por suposto envolvimento com traficantes da Vila Santa Rosa, na zona norte de Porto Alegre.
Escutas telefônicas sobre o caso foram reveladas ontem, em reportagem exibida pela RBS TV no programa Teledomingo. Com autorização da Justiça, agentes da 12ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre grampearam durante seis meses os telefones de traficantes da região.
Foram cerca de 5 mil horas de conversas que revelam o funcionamento do grupo criminoso. Segundo a polícia, os traficantes se organizavam como uma empresa. E cumpriam até carga horária.
– Tem jornada de trabalho que se inicia às 7h, durante 24 horas, em turnos de seis horas – afirma o delegado César Carrion.
O telefone do policial militar Rubem Edson Gomes dos Santos, do 20º Batalhão, também foi interceptado. Ele é suspeito de avisar os traficantes sobre operações da BM.
– Sempre tem um PM que avisa. O PM (Santos) fala com outro PM que está na sala de operações e ele diz: “ó, hoje vai ter operação. Várias viaturas assim, assim... Pode avisar o cara”– descreve o delegado.
Na gravação exibida pela RBS TV, o PM conversa com o colega que opera o sistema de rádio do batalhão e pergunta se há operações policiais na boca de fumo da Vila Santa Rosa:
– Tá ruim pra hoje?
– É, todas guarnições, todas guarnições – responde o PM da sala de rádio.
Em seguida, segundo a investigação, Santos telefona a um suposto traficante.
– É, eu falei com ele (colega da sala de rádio). Ele me ligou agora há pouco. Tá meio embaçado. Tão com umas operações aí – afirma o PM.
Operação prende quatro, e 11 estão foragidos
Santos teve a prisão preventiva solicitada à Justiça na sexta com um agente da 22ª delegacia (Porto Seco) e de um advogado. Identificado como Carlos Ferreira de Abreu, o agente teria recebido R$ 10 mil para não prender um dos integrantes do bando. O advogado teria intermediado o esquema.
Na noite de terça-feira, cerca de 140 policiais civis e militares fizeram uma operação para cumprir 30 mandados de busca na Vila Santa Rosa. Foram apreendidos cerca de um quilo de maconha e uma balança de precisão. Quatro suspeitos foram presos. Outros 11 tiveram prisão decretada e estão foragidos.
Quando a polícia chegou ao local, não havia traficantes na boca de fumo. Cinco horas antes, à luz do dia, a equipe da RBS TV fez imagens da venda de drogas no local.
CONTRAPONTOS
O que diz o policial civil: O policial civil citado na reportagem não foi localizado, mas, em conversa com superiores, negou as acusações.
O que diz o policial militar: O PM também negou envolvimento com traficantes e disse que ficou surpreso com o pedido de prisão.
Diálogos íntimos. Gravações das conversas entre PM e traficantes eram parte de uma investigação da Polícia Civil e do Ministério Público:
PM Santos pergunta a colega da sala de rádio do Batalhão sobre operações policiais na Vila Santa Rosa:– Tá ruim pra hoje?
PM do sistema de rádio do Batalhão: – É, todas guarnições, todas guarnições.
Em seguida, Santos telefona a um suposto traficante: – É, eu falei com ele (colega da sala de rádio). Ele me ligou agora há pouco. Tá meio embaçado. Tão com umas operações aí.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
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