ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

domingo, 31 de agosto de 2014

EM ÁREAS COM UPP, PODE FAZER CAMPANHA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2336 


por Eliane Lobato


ENTREVISTA


José Mariano Beltrame - "Garanto que em áreas com UPPs pode fazer campanha"

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro diz não haver provas de que milicianos ou traficantes impeçam os candidatos de irem às favelas e afirma que só continua no cargo se Pezão for eleito governador



COOPTADO
"O menor, hoje, é mais usado pelo aparato criminoso do que antes", diz ele


O sotaque gaúcho de José Mariano Beltrame, 57 anos, nascido em Santa Maria (RS), é, aparentemente, o único impedimento para que ele seja confundido com um carioca. Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro há quase sete anos, ele faz caminhadas pela cidade, incluindo subúrbio e favelas, comemora tomando chope com amigos e a mulher, mãe de um de seus três filhos, em bares populares e adota o estilo informal para se vestir. No trabalho, Beltrame criou um divisor de águas na vida dos cariocas: o projeto Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), que teve início em dezembro de 2008, quando foi instalada a primeira unidade no Morro Dona Marta, em Botafogo, no governo Sérgio Cabral (PMDB). Faltam apenas duas para alcançar a meta de 40.



"Antes, 'amarildos' eram mortos, mas não ficávamos sabendo.
Hoje, tem investigação, punição. A polícia elucidou esse crime"



As UPPs são aprovadas pela maioria dos moradores do Rio, incluindo os que vivem em favelas – 73,6% disseram, em pesquisas, que as áreas ainda “têm problemas, mas são a melhor coisa que já aconteceu na Segurança Pública do Rio”. Os bastidores desse projeto estão esmiuçados na biografia “Todo Dia É Segunda-feira”, que ele lançou recentemente pela editora Sextante. Beltrame diz não se opor à decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tropas federais da Força Nacional para garantir a segurança nas eleiçoes no Rio. A base do pedido foi, justamente, um documento elaborado pela Secretaria de Segurança Pública.



"A polícia lida com constrangimento com o crack porque se estiver
consumindo é crime; se não estiver, não é. O policial não pode
ficar esperando o cara acender o cachimbo!"



ISTOÉ - Candidatos estão sendo impedidos de fazer campanha em favelas por traficantes ou milicianos?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Não temos nenhum registro oficializado, formalizado, só denúncia anônima. Temos gente em vários lugares tentando levantar essas informações, mas, enquanto não tivermos provas contundentes de que isso está de fato acontecendo, eu, como profissional de inteligência, não posso pedir forças nacionais para atuar no Rio de Janeiro. Não tenho e nunca tive nenhum tipo de escrúpulo de pedir esse tipo de ajuda. Pelo contrário, acho que o Rio é pioneiro nisso.

ISTOÉ - Mas a Secretaria de Segurança Pública entregou um relatório ao desembargador eleitoral Fábio Uchôa no qual diz que em 41 comunidades o tráfico ou a milícia decidem sobre a realização de campanhas.

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Mandei esse relatório em caráter reservado exatamente porque está em fase de levantamento, de apuração. Não vou dizer o conteúdo deste relatório porque sou um profissional de inteligência. É assim que a polícia trabalha: transformando uma informação recebida em uma prova. Mas não há provas ainda. Não adianta tapar o sol com a peneira e dizer que vai cobrir todo e qualquer lugar do Rio onde tenha crime, 24 horas por dia, sete dias por semana. O que eu garanto é que em áreas com UPPs pode fazer campanha, não tem problema, basta o candidato comunicar ao Comando (da polícia) que eu tenho certeza que fará.

ISTOÉ - E onde não tem UPP?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Onde não tem é porque nunca teve, sei lá o que faziam antes. Se pagavam, se combinavam, que tipo de moeda de troca. Como é que faziam campanha na Cidade de Deus (favela da zona oeste)? Na (favela) Mangueira (zona central)? Hoje, nesses lugares, que têm UPPs, eu garanto que eles podem fazer. Agora, no Chapadão (favela da Pavuna, zona norte) nunca puderam. O modus operandi que a gente levantou é o seguinte: tudo, em área de crime, entra via associação dos moradores. Seja milícia, seja tráfico, tudo entra através de alguns integrantes dessas associações. Não posso dizer que são todos que integram nem que são todas as associações. Por simpatia ou dinheiro, fazem algum tipo de acordo para permitir ou inviabilizar.

ISTOÉ - A quem interessa dizer que não se pode fazer campanha em favelas se nenhum candidato registrou isso?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Em primeiro lugar, há pessoas que são contrárias ao que foi feito pelo Estado dentro dessas áreas, como (a facção criminosa) Comando Vermelho, a milícia e todos os criminosos que perderam poder com a chegada das UPPs. Tiramos o controle territorial deles, houve perda financeira muito grande. Eles procuram desmoralizar ou desestabilizar o projeto de várias formas.

ISTOÉ - Quase seis anos depois da primeira UPP, como avalia a experiência, levando em conta episódios como o do Amarildo (de Souza, pedreiro torturado e morto na UPP da favela da Rocinha, em 2013)?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Antigamente, “amarildos” eram mortos, mas não ficávamos sabendo. Hoje, tem investigação, punição. A polícia trabalhou na favela da Rocinha (zona sul) e elucidou esse crime, como se elucida no asfalto. Os policiais foram afastados, estão todos presos, o processo está em fase de alegações finais e eu acredito, sem dúvida nenhuma, na expulsão de todos. Eu sempre disse que vocês nunca iriam ouvir da minha boca que “nós vencemos”. Porque segurança pública é um jogo que não permite vencer. Minha avaliação sobre as UPPs é muito boa. Se lembrarmos como essas áreas eram, vemos uma evolução fantástica. A taxa de retorno nas escolas aumentou sensivelmente, da mesmo forma que o nível de aproveitamento dos alunos. O valor dos imóveis no entorno desses lugares cresceu e, dentro dessas áreas, há desenvolvimento microeconômico.Temos problemas ainda? Sim, temos. Não tenho a pretensão de mudar isso a médio prazo porque são medidas estruturantes que, por isso, não dão resultado a curto prazo. E digo mais: tem de ir aos poucos mudando a própria polícia, que tem de entrar e se capacitar cada vez mais, melhorar mais. 
 
ISTOÉ - Qual é o objetivo prioritário das UPPs?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Não é acabar com o tráfico de drogas, como muitos pensam. Até porque prevalece a velha lógica: enquanto houver vício (consumidor), haverá renda e, em consequência, mercado. O objetivo da UPP é salvar vidas. O que a gente quer é que o chefe de família possa ir e voltar do trabalho, que as pessoas não sejam mais impedidas de entrar na própria casa por ordem de criminosos, etc. Quando fizemos a UPP, nossa preocupação era salvar vidas. Morriam, anualmente, 42 pessoas por 100 mil habitantes, hoje são 26. Está bom? Não, não está bom. Mas está muito melhor. Em UPP, esse é um dado fantástico, o nível de homicídio é 8,9 por 100 mil, abaixo do que a ONU estabelece. No Dona Marta não tem homicídio há três anos.

ISTOÉ - O crack é, hoje, a pior droga do País?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Sem dúvida, e vejo um futuro bastante pessimista para o Brasil em relação ao crack. É uma droga barata, com R$ 1 ou R$ 2 você adquire. Hoje, temos uma legião de pessoas que vivem como verdadeiros zumbis. Sabe por que eles andam sempre em grupos? Porque a dependência dessa droga é diferente, a fissura, como dizem, se repete de uma maneira muito rápida, duas ou três horas depois. Então, o dependente precisa estar perto de quem possa ter a droga, do “ponto de venda”. Diferentemente do viciado em cocaína, que compra sua droga e vai consumir em casa, nas coberturas. Acho que hoje a polícia lida com isso com um constrangimento muito grande porque se estiver consumindo é crime; se não estiver, não é crime. O policial não pode ficar ali parado esperando o cara acender o cachimbo!

ISTOÉ - Alguns candidatos ao governo do Rio já manifestaram interesse em trabalhar com o sr., se forem eleitos. Pretende continuar?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Eu só posso continuar com o (o Luiz Fernando) Pezão (governador atual e também candidato pelo PMDB). Tudo o que foi feito teve um avalista, um apoiador inconteste. Quem assinou o custo, alto, foi o governo Sérgio Cabral (de quem Pezão era vice). Eu tenho que acreditar em quem começou isso e me deu carta branca. São valores muito fortes. Então, meu compromisso é com o Pezão. Se não for ele o eleito, vou tirar férias e, depois, cuidar da minha vida.

ISTOÉ - O sr. levou o candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) para visitar uma UPP. Significa apoio?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - O que eu fiz com Aécio Neves já fiz com autoridades nacionais, internacionais, e faço com a presidenta Dilma (Rousseff), se ela quiser, até porque ela é parceira nisso, ou com a Marina (Silva, candidata do PSB) também, se ela achar interessante. Fiquei muito honrado quando um candidato, no caso, o Aécio, quis conhecer uma UPP. Sinto, inclusive, que é minha obrigação mostrar, falar sobre segurança pública, que as pessoas pensam que é sinônimo de polícia, no Brasil, e isso é um erro enorme.

ISTOÉ - O que é então?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Envolve uma cadeia de instituições, como o Judiciário, o legislador, a prefeitura. Existe, por exemplo, a Lei 12.403 do Código de Processo Penal (2011), que não permite prender alguém cujo crime tenha pena menor do que quatro anos. Então, quando roubarem o cordão, a bolsa, o celular de alguém, não chamem a polícia porque ela nada poderá fazer, já que esses crimes têm penas inferiores. Receptação (de carro, joias, etc.) também não dá cadeia porque a pena é de três anos. O policial hoje é um cara constrangido porque sabe que vai ficar quatro horas numa delegacia para fazer a autuação do roubo e, no final, todos sairão juntos – criminoso, vítima, policial. A sociedade sabe dessa lei? Foi consultada? Aprovou? Na Rocinha, 85% dos infratores levados para a delegacia saem junto com os policiais. No centro do Rio, 40% dos delitos são cometidos por menores de idade, e nós temos uma lei que tem 20 anos e estabelece que menor não vai preso.

ISTOÉ - O sr. defende que menores sejam encarcerados?

JOSÉ MARIANO BELTRAME - Não, mas acho que quem cometeu um crime deve sofrer uma ação exemplar do Estado, correspondente ao ato que cometeu. O menor, hoje, é mais usado pelo aparato criminoso do que antes. Quero que as pessoas saibam disso, que existem leis que são assim e que, se elas quiserem modificar, precisam se movimentar.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

POLICIAL É RENDIDO E VIATURA DO DENARC É ROUBADA






ZERO HORA 25/08/2014 | 23h55


Policial é rendido e viatura do Denarc é roubada na Capital. Peugeot 307 preto, utilizado como viatura discreta, foi recuperado cerca de duas horas depois em Canoas



Um policial civil foi atacado por pelo menos dois assaltantes armados na zona norte da Capital, por volta das 21h30min desta segunda-feira. O Peugeot 307preto em que ele estava, utilizado como viatura discreta pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), foi levado.

De acordo com o delegado Cleomar Marangoni, titular da 4ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico (DIN), o veículo foi roubado na rua Ricalde Marquês, no bairro Jardim São Pedro. Ainda não há confirmação sobre o destino da arma do policial.

— Ainda não sei como foi a ação, porque não falei com o policial. Mas ele estava a trabalho e, na hora da abordagem, sozinho. Não ficou ferido — disse Marangoni.

Cerca de duas horas depois, os policiais encontraram o Peugeot, abandonado, no bairro Estância Velha, em Canoas. Ainda não há suspeitos e ninguém foi preso.

domingo, 24 de agosto de 2014

DE PROFESSOR A POLICIAL


Revista da Polícia Militar do Rio de Janeiro – n° 5/Ano III – Agosto de 1988



George L. Kirkham



Como professor de Criminologia, tive problemas durante algum tempo, devido ao fato de que, seguindo a maioria daqueles que escrevem livros sobre assuntos policiais, eu nunca havia sido policial. Contudo, alguns elementos da comunidade acadêmica norte-americana, tal como eu, agiram muitas vezes precipitadamente ao apontar erros da nossa polícia. Dos incidentes que lemos nos jornais, formamos imagens estereotipadas, como as do policial violento, racista, venal ou incorreto. O que não vemos são os milhares de dedicados agentes da polícia, homens e mulheres, lutando e resolvendo problemas difíceis para preservar nossa sociedade e tudo que nos é caro. Muitos dos meus alunos tinham sido policiais, e eles várias vezes opunham às minhas críticas o argumento de que uma pessoa só poderia compreender o que um agente da polícia tem de suportar quando se sentisse na pele de um policial. Por fim, me decidi a aceitar o desafio. Entraria para a polícia e, assim, iria testar a exatidão daquilo que vinha ensinando.

Um dos meus alunos (um jovem agente que gozava licença para freqüentar o curso, pertencente à Delegacia de Polícia de Jacksonville, Flórida) me incitou a entrar em contato com o Xerife Dale Carson e o Vice-Xerife D. K. Brown e explicar-lhes minha pretensão. Lutando por um distintivo Jacksonville parecia-me o lugar ideal. Um porto marítimo e um centro industrial em crescimento acelerado. Ali ocorriam, também, manifestações dos maiores problemas sociais que afligem nossos tempos: crime, delinqüência, conflitos raciais, miséria e doenças mentais. Tinha, igualmente, a habitual favela e o bairro reservado aos negros. Sua força policial, composta por 800 elementos, era tida como uma das mais evoluídas dos Estados Unidos. Esclareci ao Xerife Carson e ao Vice-Xerife Brown de que pretendia um lugar não como observador, mas como patrulheiro uniformizado, trabalhando em expediente integral durante um período de quatro a seis meses. Eles concordaram, mas impuseram também a condição de que eu deveria, primeiro, preencher os mesmos requisitos que qualquer outro candidato a policial, uma investigação completa do caráter, exame físico, e os mesmos programas de treinamento. Haveria outra condição com a qual concordei prontamente em nome da moral. Todos os outros agentes deviam saber quem eu era e o que estava fazendo ali. Fora disso, em nada eu me distinguiria de qualquer agente, desde o meu revólver Smith and Wesson .38 até o distintivo e o uniforme.

O maior obstáculo foram as 280 horas de treinamento estabelecidas por lei. Durante quatro meses (quatro horas por noite e cinco noites por semana), depois das tarefas de ensino teórico, eu aprendia como utilizar uma arma, como aproximar-me de um edifício na escuridão, como interrogar suspeitos, investigar acidentes de trânsito e recolher impressões digitais. Por vezes, à noite, quando regressava a casa depois de horas de treinamento de luta para defesa pessoal, com os músculos cansados, pensava que estava precisando era de um exame de sanidade mental por ter-me metido naquilo. Finalmente, veio a graduação e, com ela, o que viria a ser a mais compensadora experiência da minha vida. Patrulhando a rua Ao escrever este artigo, já completei mais de 100 rondas como agente iniciado, e tantas coisas aconteceram no espaço de seis meses que jamais voltarei a ser a mesma pessoa. Nunca mais esquecerei também o primeiro dia em que montei guarda defronte à porta da Delegacia de Jacksonville. Sentia-me, ao mesmo tempo, estúpido e orgulhoso no meu novo uniforme azul e com a cartucheira de couro.

A primeira experiência daquilo que eu chamo de minhas “lições de rua” aconteceu logo de imediato. Com meu colega de patrulha, fui destacado para um bar, onde havia distúrbios, no centro da zona comercial da cidade. Encontramos um bêbado robusto e turbulento que, aos gritos, se recusava a sair. Tendo adquirido certa experiência em admoestação correcional, apressei-me a tomar conta do caso. “Desculpe, amigo”, disse eu sorridente, “não quer dar uma chegadinha aqui fora para bater um papo comigo?” O homem me encarou incrédulo, com os olhos vermelhos. Cambaleou e me deu um empurrão no ombro. Antes que eu tivesse tempo de me recuperar, chocou-se de novo comigo e, desta vez, fazendo saltar da dragona a corrente que prendia meu apito. Após breve escaramuça, conseguimos levá-lo para a radiopatrulha. Como professor universitário, eu estava habituado a ser tratado com respeito e deferência e, de certo modo, presumia que isso iria continuar assim em minhas novas funções. Estava porém, aprendendo que meu distintivo e uniforme, longe de me protegerem do desrespeito, muitas vezes atuavam como um imã atraindo indivíduos que odiavam o que eu representava. Confuso, olhei para meu colega, que apenas sorriu. Teoria e prática Nos dias e semanas seguintes, eu iria aprender mais coisas.

Como professor, sempre procurava transmitir aos meus alunos a idéia de que era errado exagerar o exercício da autoridade, tomar decisões por outras pessoas ou nos basearmos em ordens e mandatos para executar qualquer tarefa. Como agente de polícia, porém, fui muitas vezes forçado a fazer exatamente isso. Encontrei indivíduos que confundiam gentileza com fraqueza – o que se tornava um convite à violência. Também encontrei homens, mulheres e crianças que, com medo ou em situações de desespero, procuravam auxílio e conselhos no homem uniformizado. Cheguei à conclusão de que existe um abismo entre a forma como eu, sentado calmamente no meu gabinete com ar condicionado, conversava com o ladrão ou assaltante à mão armada, e a maneira pela qual os patrulheiros lidam com esses homens – quando eles se mostram violentos, histéricos ou desesperados.

Esses agressores, que anteriormente me pareciam tão inocentes, inofensivos e arrependidos depois do crime cometido, como agente de polícia, eu os encarava pela primeira vez como uma ameaça à minha segurança pessoal e a da nossa própria sociedade. Aprendendo com o medo tal como o crime, o medo deixou de ser um conceito abstrato para mim, e se tornou algo bem real, que por várias vezes senti: era a estranha impressão em meu estômago, que experimentava ao me aproximar de uma loja onde o sinal de alarme fora acionado; era uma sensação de boca seca quando, com as lâmpadas azuis acesas e a sirena do carro ligada, corríamos para atender a uma perigos chamada onde poderia haver tiroteio. Recordo especialmente uma dramática lição no capítulo do medo.

Num sábado à noite, patrulhava com meu colega uma zona de bares mal freqüentados e casas de bilhares, quando vimos um jovem estacionar o carro em fila dupla. Dirigimo-nos para o local, e eu pedi que arrumasse devidamente o automóvel, ou então que fosse embora, ao que ele respondeu inopinadamente com insultos. Ao sairmos da radiopatrulha e nos aproximarmos do homem, a multidão exaltada começou a nos rodear. Ele continuava a nos insultar, recusando-se a retirar o carro. Então, tivemos que prendê-lo. Quando o trouxemos para a viatura da polícia, a turba nos cercou completamente. Na confusão que se seguiu, uma mulher histérica abriu meu coldre e tentou sacar meu revólver. De súbito, eu estava lutando para salvar minha vida. Recordo a sensação de verdadeiro terror que senti ao premir o botão do armeiro na radiopatrulha onde se encontravam nossas armas longas.

Até então, eu sempre tinha defendido a opinião de que não devia ser permitido aos policiais o uso de armas longas, pelo aspecto “agressivo” que denotavam, mas as circunstâncias daquele momento fizeram mudar meu ponto de vista, porque agora era minha vida que estava em risco. Senti certo amargor quando, logo na noite seguinte, voltei a ver, já em liberdade, o indivíduo que tinha provocado aquele quase motim – e mais amargurado fiquei quando ele foi julgado e, confessando-se culpado, condenaram-no a uma pena leve por “violação da ordem”.

Vítimas silenciosas Dentre todas as trágicas vítimas que vi durante seis meses, uma se destaca. No centro da cidade, num edifício de apartamentos, vivia um homem idoso que tinha um cão. Era motorista de ônibus aposentado. Encontrava-os quase sempre na mesma esquina, quando me dirigia para o serviço, e por vezes me acompanhavam durante alguns quarteirões. Certa noite, fomos chamados por causa de um tiroteio numa rua perto do edifício.

Quando chegamos, o velho estava estendido de costas no meio de uma grande poça de sangue. Fora atingido no peito por uma bala e, em agonia, me sussurrou que três adolescentes o tinham interceptado e lhe exigiram dinheiro. Quando viram que tinha tão pouco, dispararam e o abandonaram na rua. Em breve, comecei a sentir os efeitos daquela tensão diária a que estava sujeito. Fiquei doente e cansado de ser ofendido e atacado por criminosos que depois seriam quase sempre julgados por juizes benevolentes e por jurados dispostos a conceder aos delinqüentes “nova oportunidade de se reintegrarem ao convívio da sociedade”.

Como professor de Criminologia, eu dispunha do tempo que queria para tomar decisões difíceis. Como policial, no entanto, era forçado a fazer escolhas críticas em questão de segundos (prender ou não prender, perseguir ou não perseguir), sempre com a incômoda certeza de que outros, aqueles que tinham tempo para analisar e pensar, estariam prontos para julgar e condenar aquilo que eu fizera ou aquilo que não havia feito.

Como policial, muitas vezes fui forçado a resolver problemas humanos incomparavelmente mais difíceis do que aqueles que enfrentara para solucionar assuntos correcionais ou de sanidade mental: rixas familiares, neuroses, reações coletivas perigosas de grandes multidões, criminosos. Até então, estivera afastado de toda espécie de miséria humana que faz parte do dia-a-dia da vida de um policial Bondade em uniforme freqüentemente , fiquei espantado com os sentimentos de humanidade e compaixão que pareciam caracterizar muitos dos meus colegas agentes da polícia.

Conceitos que eu considerava estereotipados eram, muitas vezes, desmentidos por atos de bondade: um jovem policial fazendo respiração boca-a-boca num imundo mendigo, um veterano grisalho levando sacos de doces para as crianças dos guetos, um agente oferecendo a uma família abandonada dinheiro que provavelmente não voltaria a reaver.

Em conseqüência de tudo isso, cheguei a humilhante conclusão de que tinha uma capacidade bastante limitada para suportar toda a tensão a que estava sujeito. Recordo em particular certa noite em que o longo e difícil turno terminara com uma perseguição a um carro roubado. Quando largamos o serviço, eu me sentia cansado e nervoso. Com meu colega, estava me dirigindo para um restaurante a fim de comer qualquer coisa, quando ouvimos o som de vidros que se partiam, proveniente de uma igreja próxima, e vimos dois adolescentes cabeludos fugindo do local. Nós os alcançamos e pedi a um deles que se identificasse. Ele me olhou com desprezo, xingou-me e virou as costas com intenção de se afastar. Não me lembro do que senti. Só sei que o agarrei pela camisa, colei seu nariz bem no meu e rosnei: “Estou falando com você, seu cretino!” Então meu colega me tocou no ombro, e ouvi sua confortante voz me chamando à razão: “Calma, companheiro!” Larguei o adolescente e fiquei em silêncio durante alguns segundos. Depois me recordei de uma das minhas lições, na qual dissera aos alunos: “O sujeito que não é capaz de manter completo domínio sobre suas emoções, em todas as circunstâncias, não serve para policial”. Desafio complicado.

Muitas vezes perguntara a mim próprio: “Por que uma pessoa quer ser policial?”. Ninguém está interessado em dar conselhos a uma família com problemas às três da madrugada de um domingo, ou em entrar às escuras num edifício que foi assaltado, ou em presenciar, dia após dia, a pobreza, os desequilíbrios mentais, as tragédias humanas.

O que faz um policial suportar o desrespeito, as restrições legais, as longas horas de serviço com baixo salário, o risco de ser assassinado ou mutilado? A única resposta que posso dar é baseada apenas na minha curta experiência como policial. Todas as noites eu voltava para casa com um sentimento de satisfação e de ter contribuído com algo para a sociedade – coisa que nenhuma outra tarefa me havia dado até então. Todo agente de polícia deve compreender que sua aptidão para fazer cumprir a lei, com a autoridade que ele representa, é a única “ponte” entre a civilização e o submundo dos fora-da-lei. De certo modo, essa convicção faz com que todo o resto (o desrespeito, o perigo, os aborrecimentos) mereça que se façam quaisquer sacrifícios.


Autor: George L. Kirkham, professor assistente da Escola de Criminologia da Universidade da Flórida
Revista da Polícia Militar do Rio de Janeiro – n° 5/Ano III – Agosto de 1988
Colaboração Major PMMT: Clarindo Alves de Castro. 



jacksonville.com


Professor-turned-police officer went from FSU to Jacksonville's mean streets
FSU prof spent summer of '73 as Jacksonville cop
Posted: September 13, 2009 - 6:00am


 

The Times-Union

In 1973, George Kirkham was 31 and a professor of criminology at FSU when he spent the summer working as a police officer in Jacksonville.


By Matt Soergel


Midway through a night shift in the summer of 1973, Phil Kearney gets called back to police headquarters at 711 Liberty St. Go to the captain's office, they tell him. Then the captain points to a slight man standing next to him and says, "This is your new partner."


Kearney is not impressed. He's an old-school cop, 6 feet 3 and 225 pounds, with bright red hair. The guy in front of him has a dark mustache, and he's short, skinny, a Barney Fife character in an ill-fitting blue uniform. It looks like dress-up day.

Kearney knows every man in the department by name, but he doesn't know this guy. "He's not one of us," he thinks. "This [filtered word] is a plant, an FBI guy. I can spot 'em a mile away."

The cop is suspicious, but he follows orders and turns his Plymouth Satellite squad car into the sticky night, heading with his new partner into Jacksonville's worst neighborhoods. Their second, maybe third shift together, they run into an unruly, drunk miscreant who needs to be controlled, and controlled forcefully.

"Let me handle this," says the skinny guy in the cop's uniform. He starts using $5 words with the street guy, trying to reason with him. But the street guy isn't buying it. "Who the hell are you?" he says, taking a swing at him.

Kearney and his new partner have to wrestle him to the ground. They snap some cuffs on him and shove him in the back seat of the Satellite. The door's not closed yet, though, and the new guy doesn't have the sense to get away from the suspect. He leans in, says something like, "Look, you brought this on yourself, there's no reason to be so upset. Listen to me, we're going down to the station ... "

He's studied clinical psychology, after all. He's done some lay counseling. But the drunk isn't impressed. He rears his foot back and kicks him right between the legs.

The new guy collapses to the ground.

Thirty-six years later, Kearn- ey laughs at the memory. "That was his baptism in police work," he says. Things were better between the big cop and his partner after that.

And it turns out the story the new guy had been telling was true. He wasn't an FBI plant. He was a Florida State University professor, and he was on an improbable quest: He actually volunteered to work a summer as a cop, with a badge and a department-issued .38, on some of Jacksonville's toughest beats. For no pay.

His name was George Kirkham, Ph.D.

Doc, the other cops called him.

Over the summer, Doc didn't become a great cop, but he got better, more street-wise. The other cops got so they thought he was OK, and they'd go to his downtown apartment after the shift for "choir practice," which involved boozing and war stories. Any singing was purely incidental.

Sure, Doc had his quirks: He dictated notes into a tape recorder while on his shift, and then transcribed them during choir practice. He still used $5 words. But he was one of them now.

He'd come into his summer with a doctorate in criminology, but he had no idea what life was like for the people who fought criminals. In Jacksonville, he learned quickly.

And something unexpected happened to Doc that summer, says Chuck Ritchey, another one of his partners in 1973: "I think he fell in love with police work."

'See what our world is like'

George Kirkham had it easy growing up. His was from a middle-class, politically aware family in California. He worked on his doctorate at the University of California at Berkeley in the late 1960s. He didn't do any protesting then, but he understood where the counterculture kids were coming from, and he had the wire-rimmed glasses and the kind-of long hair.

He was crazy about learning, moving from sociology to corrections to criminology. But to him, police stood for the Vietnam War and President Nixon. Sometimes he passed ranks of riot police on his way to class. He advocated an unarmed police force; surely that would make them more responsive to the people they served.

He got his Ph.D. in criminology, then landed a teaching job at FSU in 1971. The South was a culture shock, though in Tallahassee he found a cozy academic cocoon. But then some of his older students, who'd worked as cops, began challenging him, getting through that cocoon.

One day, over a beer, one of them told him: "You know professor, one day one of you needs to get out and see what our world is like."

Kirkham thought on it. Anthropologists, after all, go live with people in different parts of the world, take on their folkways, their way of dress. Why not he? Why shouldn't a criminologist go live with the cops?

His dean was more than OK with the idea, so Kirkham took his plan to Jacksonville Sheriff Dale Carson. Some of his men grumbled, but Carson was enthusiastic - he'd been itching to show the academics, the theorists, what a cop's lot in life is. And here was one, eager to find out.

So at night, Kirkham went to a police academy in Tallahassee, getting in 280 hours of training. And in the summer of '73, he drove his beat-up Datsun pickup to his new apartment on Ashley Street in Jacksonville, leaving his newly pregnant wife in Tallahassee. He didn't have any grant money for this project of his, but it was something he had to do.

He was 31 years old, a police rookie.

More than a costume

His first day? It didn't start well. He got into his uniform, put on his badge, strapped on his revolver, and started walking to headquarters.

Then he realized: I'm lost. And what was he supposed to do? Go up in his uniform and ask a civilian for directions to the police station?

But he was a college professor with a Ph.D. from Berkeley. After some walking and hunting, he found the station.

Once there, it didn't take long for Doc's academic experiment to turn into something much like reality.

"Initially I thought of myself as a scientist who was just wearing this costume, this uniform. I'd had an aversion to guns. I was just there to observe," he says. "But then I had to do the things a policeman has to do. I had to back up my partner. I had to function as a police officer."

Until he became a cop, he'd never been touched by someone he didn't want touching him. He'd never been in a fight, never been jabbed in the back in a basketball game.

Now he was patrolling the area around the crime-ridden Blodgett Homes public housing project, which would be torn down and replaced 20 years later. The things he saw: A man who'd been killed in a dispute over a penny. A wife who slashed her husband's throat for eating more than his share of chicken wings.

Doc got inside a cop's skin. He saw the ugliness they see. The stress they face.

And he found a different side of himself, the first time he pointed a loaded gun at another human being. The professor looked inside himself and saw his dark side, his aggressive, reptilian brain. It was there, living within him, all this time. The realization was scary but exhilarating, wrapped up in power and authority: a cop on the street, making split-second decisions. It's like the streets of Dodge, and you're the Wild West sheriff.

'A real policeman'

Everyone agreed that there would be no publicity, but late in the summer the newspaper somehow heard about what he was doing. A Times-Union reporter followed him around one active night, breathlessly chronicling how the mild-mannered, mustachioed professor - "Charlie Chaplin," the paper called him - had grown into a gun-wielding cop willing to jump into a nasty crowd.

The story quoted him about what he'd learned about police work, once away from lecture halls and books.

"It's more like warfare than social work," he told the reporter. "How can you say that in a classroom without sounding like a Fascist pig?"

Sheriff Carson was quoted too: "As far as I'm concerned, he's a real policeman and a real man." If Doc was looking for work, the sheriff said, he'd hire him.

The Associated Press picked up the story, and soon Doc was all over the talk shows, the news magazines, National Enquirer, Regis Philbin. But things weren't all pretty once he got back to FSU. Some of the other criminology profs tried to block him from getting tenure; Kirkham figures they thought it would be "unseemly" for this cop to be a professor.

That fuss attracted Dan Rather and "60 Minutes" to Tallahassee, where Kirkham argued with the skeptical academics: Hey, this isn't medieval history.

He eventually got tenure, and in 1977 Ballantine published "Signal Zero," Kirkham's yarn of his summer in Jacksonville, complete with a cover blurb from Joseph Wambaugh.

Kirkham was a published author and a professor. But he wanted more. So for 18 years he patrolled part time for the Tallahassee Police Department, until he got past 50, until he almost got shot. Time to quit.

He taught at FSU until 1991, when he became a professor emeritus. He's made two dozen training videos on police work. He's been busy as a consultant, and as an expert witness in court, hundred of times. He's been on TV and in magazines many times over the years.

Monotony and stark terror

Doc is 67 now, and lives in Jupiter. This month he published a novel, with Leonard Territo, called "Ivory Tower Cop" (Carolina Academic Press).

It's a thriller about the hunt for a sicko rapist in Miami. The hero? A Berkeley-educated professor turned cop.

The author and his character both faced fear - intense fear - when they hit the street as cops. "Police work is hours of monotony," Kirkham says, "broken up by stark terror."

His old partner, the burly Kearney, understands why Doc was scared that long-ago summer.

"If you're not scared, you're stupid," he says. "And here he was, coming from a very controlled environment, with nothing to worry about other than maybe sticking his finger with a pencil."

Kearney laughs again.

"But hey, I'd probably be scared, too, if they put me in a classroom, teaching criminology to a bunch of police officers."


The Times-Union<br/>After training at a police academy in Tallahassee, George Kirkham, a professor of criminology at FSU, came to Jacksonville in the summer of 1973 and worked without pay as a rookie cop. <br />  The Times-Union<br/>Kirkham frisks a suspect while serving as a Jacksonville police officer. The other cops referred to the FSU professor as Doc.
Present day photo of George Kirkham

OS EUA TÊM PESADELO RACIAL


ZERO HORA 24 de agosto de 2014 | N° 17901


MUNDO BARRIL DE PÓLVORA RACIAL

A MORTE DE Michael Brown, 18 anos, por um policial da cidade de Ferguson, mostrou que, no ano do cinquentenário da Lei dos Direitos Civis, negros americanos ainda são mais expostos à violência policial e à prisão, apesar de um deles cumprir o segundo mandato presidencial consecutivo



Há 51 anos, num agosto abafado, um homem proferiu um discurso pungente nas escadarias do Lincoln Memorial, em Washington, capital dos Estados Unidos. “Eu tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”, disse o reverendo Martin Luther King, Jr., que mereceria, por sua defesa dos direitos dos negros, um Prêmio Nobel da Paz e uma bala mortal num hotel de Memphis, Tennessee.

Dos três filhos vivos de King (Yolanda, a primogênita, morreu em 2007), o mais velho tem hoje 56 anos, e a caçula, 51. Sob alguns aspectos, os Estados Unidos não são os mesmos de 1963. Em outros, o dia imaginado pelo reverendo permanece distante. Quando Barack Obama prestou juramento como 44º presidente, em 2009, muitos pensaram que King fora profético. Quando um policial de Ferguson, Missouri, matou com seis tiros um jovem negro de 18 anos, no dia 9, o discurso de Washington parece ainda estar sendo pronunciado.

– Obama mencionou diretamente a questão racial em discurso oficial pela primeira vez ao final do seu primeiro mandato, após o assassinato do jovem negro Trayvon Martin, em 2012. Na ocasião, declarou que o garoto de 16 anos morto de forma estúpida e gratuita poderia ter sido ele – diz Gabriel Pessin Adam, professor de Relações Internacionais da Unisinos e da ESPM.

O drama catalisado em Ferguson pode ser entendido à luz do mais importante documento escrito nos Estados Unidos. A Quarta Emenda afirma que “o direito do povo à segurança em suas pessoas, casas, documentos e efeitos, contra buscas e restrições imotivadas, não deve ser violado”. Estatísticas indicam que 80% das pessoas abordadas pela polícia de Nova York são negras ou latinas. Em 2012, homens negros estavam seis vezes mais sujeitos a ser presos do que brancos – entre latinos, a proporção era de 2,5 vezes mais do que brancos, segundo o Departamento de Justiça.

DOS 53 POLICIAIS, TRÊS SÃO NEGROS

Linhas raciais e sociais muitas vezes se confundem. Ferguson sofreu uma verdadeira revolução demográfica nos últimos 20 anos. Até os anos 1990, Ferguson era um subúrbio predominantemente branco. Hoje, de seus 21 mil habitantes, 67% são negros, e 29%, brancos. A cidade alçada ao mapa da violência racial fica na periferia de St. Louis, cuja população caiu de 850 mil habitantes em 1950 para os atuais 318 mil. Em St. Louis, a metade negra da população vive na zona norte, e brancos e imigrantes europeus, latinos e asiáticos, no sul.

À distribuição desigual de direitos e espaço, segue-se o desequilíbrio na representação. Embora sejam a maioria, os negros não representam uma força política ativa em âmbito local. O prefeito James Knowles, republicano e branco, foi eleito num pleito com quórum de apenas 12% dos eleitores cadastrados. Dos 53 homens do Departamento de Polícia municipal, somente três são negros.

Na sexta-feira, ex-policiais aposentados juntaram-se aos protestos para exigir a verdade sobre as circunstâncias da morte do jovem Michael Brown.

– Há milhares de Ferguson nos EUA. Todo o sistema está corrompido. Os negros sabem disso porque são suas vítimas durante toda a vida – disse Ray Lewis, que patrulhou as ruas de Filadélfia durante 24 anos.


 “Obama é decepcionante”

GABRIEL PESSIN ADAM. Professor de relações internacionais da Unisinos e da ESPM


Doutor em ciência política pela UFRGS, Gabriel Pessin Adam é especialista em América do Norte. A seguir, leia entrevista:

Qual é o legado de Obama em relação à questão racial?

Obama é decepcionante. A esperança de construção de uma sociedade menos desigual em vários sentidos, entre os quais o racial, não se cumpriu até o momento. Isso não é de todo culpa do presidente, mas é inegável que ele carrega uma parcela considerável de descaso quanto a temas sociais cruciais. O legado é muito pequeno, por certo bem menor do que se esperava de um candidato associado a Martin Luther King, Jr., durante a campanha.

Muitos perguntam por que polícias locais necessitam de blindados e outros equipamentos usados em zonas de guerra. Essa preocupação é válida?

Ainda que o processo de militarização da polícia tenha se iniciado com a criação da Swat, em 1965, o impulso recente foi a aprovação das leis patrióticas propostas pelo governo George W. Bush na esteira dos atentados de 11 de setembro de 2001. Desde então, a escalada militar da polícia foi visível, como na repressão ao movimento Occupy Wall Street. Em Ferguson, Missouri, já foi documentado o uso de veículos, granadas de efeito moral, armamentos e uniformes típicos da elite militar. Parte desse material foi utilizada no Afeganistão.

Ferguson expôs a situação das metrópoles do Meio-Oeste, assoladas por desindustrialização, pobreza e ressentimento. Não é muito frequente ver isso na televisão. Por quê?

Nos últimos 40 anos, os EUA têm observado inédita acumulação de poder econômico por uma pequena elite que cada vez mais detém o poder político. Os índices de desigualdade social no país são preocupantes, e quando considerados derrubam os EUA do quinto lugar no ranking de IDH para o 28º. O Meio-Oeste é diretamente atingido pelo processo de desindustrialização. O fato de isso não ser visto em programas de grande audiência tem a ver com certa aversão da mídia estadunidense por assuntos como desigualdades sociais e diferenças de classe.

Outros segmentos da sociedade devem se preocupar?

O governo Obama tem sido mais duro com os imigrantes do que o governo Bush. O racismo existe em muitos países europeus, e no Brasil. E, infelizmente, nunca morreu nos EUA. Projeções revelam que, em 2060, negros e hispânicos (estes divididos entre negros e brancos) representarão 45% da população do país. Os EUA terão de repensar como encaram sua sociedade, sob pena de que os distúrbios sociais com base na discriminação sejam mais comuns do que hoje.



sábado, 23 de agosto de 2014

MP DEFENDE PRESENÇA DAS FORÇAS ARMADAS NA SEGURANÇA DAS ELEIÇÕES

O DIA 23/08/2014 00:10:57

TRE decidirá se chama as Forças Armadas. Procurador eleitoral diz que polícia não dá conta de enfrentar milicianos e traficantes das favelas


Rio - Com o aumento das denúncias de que traficantes e milicianos estariam proibindo campanhas eleitorais em favelas, o Ministério Público Eleitoral (MPE) já defende a presença das Forças Armadas para garantir a segurança das eleições. A Polícia Militar, sozinha, não daria conta da tarefa, de acordo com Paulo Roberto Bérenger, procurador regional eleitoral. Segundo ele, “as atuais condições das polícias abrem margem para a convocação do Exército”. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) decide na próxima segunda se pede o apoio dos militares para o pleito.

“Militares seriam importantes nesse processo, mas esse apoio não pode ser banalizado”, declarou Bérenger, em discurso feito no último dia 12 para oficiais do Exército, no Comando Militar do Leste. Ontem, em entrevista ao ‘Estadão’, Bérenger disse que “somente a Força do Estado do Rio não assegura a paz do processo eleitoral”. 


Galpão do candidato Garotinho foi lacrado e material apreendidoFoto: Divulgação / ASCOM TRE-RJ

Na sessão de segunda do TRE, o desembargador eleitoral Fábio Uchôa apresentará um relatório sobre supostos “currais eleitorais” feito em conjunto com a Secretaria de Segurança. Segundo o secretário José Mariano Beltrame, associações de moradores de favelas espalham rumores falsos para vetar candidatos que não tenham acordo com o tráfico ou com a milícia. Há, inclusive, a cobrança de taxas para propaganda.


Candidatos a deputado estadual e até o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) já tiveram problemas e denunciaram ameaças, inclusive em áreas de UPP. Na última terça, policiais da UPP Camarista Méier foram alvo de tiros de criminosos quando foram checar denúncias de que placas de propaganda do PMDB que tinham referência a Pezão estavam sendo pintadas de preto. Na quinta, ele disse que a milícia e o tráfico têm “reagido” à sua candidatura.


Há cerca de quinze dias, materiais de campanha de Cidinha Campos (PDT), deputada estadual candidata à reeleição, foram destruídos um dia após serem colocados próximo às favelas da Guarda e da Águia de Ouro, em Del Castilho. “Meninos da minha campanha foram ameaçados de morte ao tentar fotografar os destroços. Milicianos disseram que aquela área estava vendida”, lembrou a deputada.


Na ocasião, seus apoiadores receberam um papel da Associação de Moradores União de Del Castilho, com a lista dos eleitores por comunidade. “Eles fazem pressão pelo voto, e depois vão cobrar. É de uma violência sem tamanho”. A 44ªDP (Inhaúma) abriu inquérito.

Carlos Minc foi barrado na Rocinha


Além da Camarista Méier, a Rocinha foi outra favela com UPP na qual candidatos não puderam fazer campanha. Carlos Minc (PT) foi impedido de fazer reunião com apoiadores num bar no local. “Estou revoltado. Os traficantes disseram que não podíamos fazer campanha. Nunca fiz acordo, e tenho um trabalho social lá e em outras favelas. Sempre defendi UPP, mas por que o tráfico decide quem pode e não pode fazer campanha?”


A ação de grupos criminosos rendeu acusações do candidato ao governo Lindberg Farias (PT) que, na semana passada, indicou a existência de “áreas dominadas pela milícia no Rio, onde só candidatos do PMDB podem entrar”.


Em nota, a PM disse que não iria comentar a possível presença das Forças Armadas nas eleições, e indicou que há o planejamento de um esquema especial de segurança.“Os agentes das UPPs devem informar à Coordenadoria de Polícia Pacificadora sobre os locais onde houver cerceamento da liberdade de propaganda de algum candidato. Essas informações serão repassadas para o TRE, que adotará as medidas cabíveis”, diz a nota.

Fiscais lacram galpão em São Cristóvão


Um galpão irregular do candidato ao governo Anthony Garotinho, do PR, foi lacrado ontem, por fiscais do TRE. O local fica em São Cristóvão e guardava propagandas irregulares de outros candidatos do partido. Em Belford Roxo, o TRE apreendeu nove carros de som, que circulavam próximos a uma escola. Entre eles, dois que tocavam músicas de Garotinho e Pezão.


No galpão, os fiscais acharam placas com tiragem declarada inferior à encontrada, faixas em tamanho superior aos 4 metros quadrados permitidos. Uma das placas apreendidas apresentava Garotinho com o candidato a deputado estadual Fabiano Novaes, também do PR, e declarava a tiragem de 150 unidades, mas havia pelo menos 400 unidades do material.Um caminhão da Comlurb recolheu o material.


Panfletos irregulares da candidata a deputada federal Clarissa Garotinho também foram apreendidos. Agendas, livros infantis, chinelos e outros produtos com o logotipo da loja Palavra de Paz, empresa de Garotinho, além de três carros de som com propaganda dele, também foram encontrados.

GUARDAS MUNICIPAIS QUEREM USAR ARMAS DE FOGO


O DIA 22/08/2014 23:14:58

Sindicalista diz que vai à Justiça para garantir uso de armamento letal, com base em nova lei federal

ATHOS MOURA


Rio - Enquanto na Câmara de Vereadores a discussão é sobre a permissão ou não do uso de armas não letais para os guardas municipais do Rio, o sindicato que representa a categoria vai além. Pretende entrar na Justiça para que os agentes tenham o direito de portar armas de fogo. A base da reivindicação é a lei federal 13022/14, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no início do mês.

A prefeitura informou que não pretende adotar o uso desse tipo de armamento. Admitiu apenas lançar mão de equipamentos como o gás de pimenta e a arma de choque, conhecida como taser.

Na quinta-feira, a sessão em que os vereadores decidiriam sobre o uso de armas não letais foi adiada. Para o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SisepRio), Fernando Cascavel, independente de qual for decisão dos vereadores o sindicato irá procurar a Justiça para que a Guarda Municipal use armas de fogo. Disse também que irá cobrar qualificação dos agentes. 


Atualmente, Guarda Municipal é proibida de usar armamento não letal. Sindicato quer armas de fogoFoto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

"A lei federal é maior do que a Lei Orgânica do Município. Vamos buscar os meios cabíveis para que nossos guardas possam usar armas letais, desde que haja treinamento", argumentou. O secretário de Ordem Pública, Leandro Matieli, que foi chefe da Guarda Municipal entre novembro de 2012 e abril deste ano, descartou a utilização de armas letais pelos guardas. Segundo ele, a lei, apesar de dar o direito, não faz disso uma obrigação, cabendo a decisão ao prefeito.

"Cada cidade tem autonomia. O Poder Executivo não vai adotar medidas que apoiem a arma letal. A cidade já fez a sua escolha e foi pelo desarmamento". O secretário acha necessária, porém, a utilização de armas não letais como o gás de pimenta e o taser, proibidos desde 2013, após ação do Ministério Público. Segundo Matieli, esses equipamentos ajudam a controlar ações mais rapidamente e podem preservar uma vítima ou bem público.

Ele usou como exemplo o caso do guarda Odílio do Nascimento Neto, que no domingo foi agredido por um ciclista, na Praia do Leblon, após pedir que ele saísse da área de lazer e pedalasse na ciclovia. O guarda ficou desacordado "Se ele tivesse pelo menos um spray de pimenta, a gravidade do caso não teria sido tão grande", acredita o secretário Matieli. Coordenadora do Movimento Unido dos Camelôs (Muca), Maria de Lurdes, é contra a liberação de qualquer armamento para guardas municipais. Para ela, a função dos agentes é defender o patrimônio público e não agir como polícia ou tampouco como fiscais.

Vereador vai rediscutir o projeto inicial

O projeto seria votado na quinta-feira em sessão extraordinária, mas não foi apreciado após manobra do vereador Reimont (PT). Ele alegou que a votação iria aprovar uma lei que outros setores da sociedade não querem. O autor do projeto de Emenda à Lei Orgânica, vereador Chiquinho Brazão, disse que na próxima quinta-feira irá iniciar a discussão para alterar a proposta inicial, para atender a categoria.

Como a votação não aconteceu, guardas municipais que estavam na plenária da Câmara ameaçaram entrar em greve. Porém, essa possibilidade foi descartada pelo presidente do sindicato. A Anistia Internacional entregou aos governos estaduais e secretarias de segurança um manual de bom uso de armas não letais, que se empregadas erradamente podem causar danos e até morte. Segundo o documento, os dispositivos de controle de distúrbios, como jatos d’água, balas de borracha e produtos químicos irritantes, como spray de pimenta e gás lacrimogêneo, podem resultar em ferimentos graves e mesmo em morte.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

PERFIL GENÉTICO E PERÍCIA MODERNIZADA


ZERO HORA 22 de agosto de 2014 | N° 17899

DÉBORA ELY


Tecnologia rápida para resolver crimes no Estado

NOVOS EQUIPAMENTOS DO IGP devem acelerar análise de vestígio biológico e fomentar o banco de DNA, mas podem não destravar os casos mais antigos



A partir desta semana, o processo de extração de DNA pelo laboratório do Instituto-Geral de Perícias do Estado (IGP) não deverá demorar mais do que 30 minutos. Até então, o estágio – apenas uma das três etapas para chegar ao perfil genético de um indivíduo – levava pelo menos dois dias. A razão para a recente agilidade é a implantação da automação no processamento de vestígios biológicos para exames de DNA. O projeto tem o efeito de auxiliar na resolução de crimes por meio da comparação de perfis genéticos, principalmente nos casos em que o agressor é reincidente.

Ao custo de R$ 250 mil bancados pelo governo do Estado, os equipamentos mais modernos começaram a funcionar na manhã de ontem. O objetivo do projeto é ampliar o já existente Banco de Perfis Genéticos – que hoje conta com 300 amostras no Rio Grande do Sul, podendo chegar a 3 mil DNAs relativos a crimes de autoria desconhecida que já se encontram armazenados no IGP.

– O foco principal será o processamento de vestígios de casos em que não há suspeitos, além da coleta em condenados de crimes violentos para inserção no banco – explica a diretora do Departamento de Perícias Laboratoriais do instituto, Trícia Albuquerque.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

POR TORTURA E MORTE, PMS SÃO CONDENADOS E PERDEM O CARGO

DIÁRIO GAÚCHO 20/08/2014 | 17h00

Policiais militares são condenados por tortura e morte em Alvorada. Três policiais tiveram penas de 11 anos e oito meses de reclusão e perda dos cargos públicos


Os policiais militares Jorge Lamotte de Souza, Flávio Souza de Lima e Eder D'Avila de Lima foram condenados a pena de de 11 anos e oito meses de prisão em regime fechado, cada um, além da perda dos cargos públicos, em julgamento da 1ª Vara Criminal de Alvorada. Eles foram considerados culpados pela tortura e morte de Rogério Vieira da Silva, em fevereiro de 2008.

Na época, Rogério estava com prisão preventiva decretada como suspeito de ter matado um policial militar em Santa Maria, mas, ao invés de prendê-lo, o trio de PMs o teria rendido na Rua Gregório de Mattos e lhe aplicado um "castigo". O homem foi atingido por diversos chutes, socos e tapas e, depois, levado até o Hospital de Alvorada e à DPPA do município.

Foi só na delegacia que o delegado determinou o retorno de Rogério ao hospital, em razão da sua situação, mas o homem acabou sofrendo uma parada cardiorrespiratória e morreu.

Em 2009, o Ministério Público havia denunciado 26 PMs de Alvorada por tortura. Dois anos depois, retirou a denúncia contra 13 deles, alegando que não tiveram contato direto com a vítima. No julgamento de segunda, o juiz Roberto Coutinho absolveu 10 denunciados.
Ao condená-los, o juiz criticou o fato de que, passados mais de seis anos do caso, os réus ainda seguissem em liberdade e exercendo as suas funções de policiamento.

- Isso certamente estimula para que casos dessa magnitude continuem acontecendo em Alvorada, aumentando ainda mais os índices de criminalidade que crescem ano após ano na cidade - aponta o juiz.

Na mesma cidade, em 2012, uma investigação da Polícia Civil apurou a existência de um possível grupo de extermínio formado por policiais militares. O caso foi denunciado à Justiça.


DIÁRIO GAÚCHO

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

BM FECHA BINGO DUAS VEZES

DIÁRIO GAÚCHO 18/08/2014 | 04h16

Em uma hora, BM fecha bingo duas vezes na Avenida Azenha em Porto Alegre. Espaço estava sendo reaberto quando os policiais retornaram ao local



Na operação a BM recolheu 12 computadores, dois modens, oito placas mãe, seis HDs, 40 placas de memória, nove baterias e 17 jogosFoto: Camila Hermes / Especial


A Brigada Militar (BM) fechou um bingo na Avenida Azenha em Porto Alegre na noite de domingo. A operação ocorreu por volta das 20h30min. Cerca de 50 pessoas estavam no local no momento da ação.


Foto: Camila Hermes, Especial

Os policiais encerraram o recolhimento dos objetos por volta da 0h. Após a saída dos PMS, entretanto, o espaço estava sendo reaberto novamente. Um casal foi flagrado por volta da 1h instalando computadores no local. Eles assinaram um termo circunstanciado.

Na operação a BM recolheu 12 computadores, dois modens, oito placas mãe, seis HDs, 40 placas de memória, nove baterias e 17 jogos. Na última quarta-feira, a BM fechou um bingo na Avenida Assis Brasil.

SUICÍDIOS NAS POLÍCIAS

DIÁRIO NACIONAL, 28 outubro 2011


PAULO PEREIRA DE ALMEIDA




Na sua obra clássica do final do século XIX, o sociólogo francês Émile Durkheim classifica o fenómeno social do suicídio e procura tipificar as suas causas. O autor conclui que as estatísticas demonstram que durante as crises econômicas e os períodos de recessão as taxas de suicídio aumentam, mas que nos períodos de crescimento econômico também se verificam elevadas taxas de suicídio. A conclusão de Durkheim é a de que não era seria a pobreza a motivar o suicídio. Essencialmente, e segundo o autor, é em períodos de enfraquecimento das normas sociais e de redução da coe-são das sociedades que existem taxas de suicídio mais elevadas.

Estas constatações de Durkheim - que ainda hoje se mantêm, no seu essencial, como verificadas e verificáveis - são úteis para, em meu entender, nos recordarmos da complexidade de factores e da multiplicidade de situações envolvidas na questão profundamente delicada - e controversa - do suicídio. Assim sendo, abordar semelhante questão quando falamos das forças e serviços de segurança (FSS) e, no caso de Portugal, quando nos referimos às duas grandes polícias (PSP e GNR), implica um especial cuidado, concretamente com dois aspectos. Primeiro, implica ter em atenção que existe um "mito social" associado à ideia de que as taxas de divórcio, de alcoolismo e de suicídios são mais elevadas nos profissionais das FSS: por exemplo, no caso dos Estados Unidos da América, país relativamente ao qual existem alguns dados disponíveis, não há consenso quanto à taxa de suicídio das polícias ser três vezes superior à taxa de suicídios da população em geral, sendo disputada a ideia de que o número de suicídios de polícias é de cerca de 300 por ano. Em segundo, é fundamental perceber que existem igualmente factores que potenciam a probabilidade de um profissional das FSS cometer suicídio, designadamente o desgaste a que uma profissão que lida com elevados níveis de violência - e de pressão psicológica - submete estas pessoas: aliás, e curiosamente, sabe-se que um número considerável de agentes que comentem suicídio fazem-no com outra arma que não a de serviço, pelo que o facto de terem uma arma de fogo à sua disposição não parece ser um factor determinante nessa decisão dramática e irreversível.

Por tudo isto, espera-se que as conclusões de dois estudos recentemente apresentados pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP) sejam tidas em conta em futuros programas governamentais dirigidos à população dos profissionais das FSS. Concretamente, é essencial tomar em consideração que - de acordo com esses estudos - "os agentes da PSP vivem menos 11 anos do que a restante população, apresentam uma maior prevalência de perturbações mentais e são sujeitos a violência no local de trabalho por parte de colegas e superiores hierárquicos", segundo noticiava o jornal i na semana passada. Além disso - e de acordo com os estudos citados pelo mesmo jornal -, "63% das mortes de agentes no activo resultam de suicídios - a principal causa de morte não natural dos polícias". Por fim, uma outra nota digna de referência relaciona-se com uma queixa que a ASPP fez à Organização Internacional do Trabalho (OIT), referente à "ausência de legislação que obrigue à fiscalização das condições de higiene e segurança no trabalho e das más condições das esquadras", segundo a mesma notícia do jornal i: uma situação - lamentável a todos os títulos - que se espera venha a merecer a devida atenção do actual ministro da Administração Interna.


http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2086182&seccao=Paulo%20Pereira%20de%20Almeida&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

ONDA DE SUICÍDIOS ASSUSTA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2285 | 30.Ago.13


Em um ano, 11 agentes da PF tiraram a própria vida. Atualmente, policiais morrem mais por suicídio do que durante combate ao crime. Conheça as possíveis causas desse cenário dramático

Josie Jeronimo e Izabelle Torres



DRAMA
Em 40 anos, 36 policiais federais perderam a vida no cumprimento da função.
Um terço desse total morreu por suicídio apenas entre 2012 e 2013

Vista do lado de fora, a Polícia Federal é uma referência no combate à corrupção e ainda representa a elite de uma categoria cada vez mais imprescindível para a sociedade. Vista por dentro, a imagem é antagônica. A PF passa por sua maior crise interna já registrada desde a década de 90, quando começou a ganhar notoriedade. Os efeitos disso não estão apenas na queda abrupta do número de inquéritos realizados nos últimos anos, que caiu 26% desde 2009. Estão especialmente na triste história de quem precisou enterrar familiares policiais que usaram a arma de trabalho para tirar a própria vida. Nos últimos dez anos, 22 agentes da Polícia Federal cometeram suicídio, sendo que 11 deles aconteceram entre março de 2012 e março deste ano: quase um morto por mês. O desespero que leva o ser humano a tirar a própria vida mata mais policiais do que as operações de combate ao crime. Em 40 anos, 36 policiais perderam a vida no cumprimento da função. Para traçar o cenário de pressões e desespero que levou policiais ao suicídio, ISTOÉ conversou com parentes e colegas de trabalho dos mortos. O teor dos depoimentos converge para um ponto comum de pressão excessiva e ambiente de trabalho sem boas perspectivas de melhoria.


FALTA DE ESTRUTURA
Agentes trabalham amordaçados em protesto contra condições desumanas de trabalho

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB) no ano passado mostrou que por trás do colete preto, do distintivo, dos óculos escuros e da mística que transformou a PF no ícone de polícia de elite existe um quatro grave. Depressão e síndrome do pânico são doenças que atingem um em cada cinco dos nove mil agentes da Polícia Federal. Em um dos itens da pesquisa, 73 policiais foram questionados sobre os motivos das licenças médicas. Nada menos do que 35% dos entrevistados responderam que os afastamentos foram decorrentes de transtornos mentais como depressão e ansiedade. “O grande problema é que os agentes federais se submetem a um regime de trabalho militarizado, sem que tenham treinamento militar para isso. Acreditamos que o problema está na estrutura da própria polícia”, diz uma das pesquisadoras da UnB, a psicóloga Fernanda Duarte.

O drama dos familiares dos policiais que se suicidaram está distribuído nos quatro cantos do País. A última morte registrada em 2013 ainda causa espanto nas superintendências de Roraima, onde Lúcio Mauro de Oliveira Silva, 38 anos, trabalhou entre dezembro do ano passado e março deste ano. Mauro deixou a noiva no Rio de Janeiro para iniciar sua vida de agente da PF em Pacaraima, cidade a 220 quilômetros de Boa Vista. Nos 60 dias em que trabalhou como agente da PF, usou o salário de R$ 5 mil líquidos para dar entrada em financiamento de uma casa e um carro. O sonho da nova vida acabou com um tiro na boca, na frente da noiva. Cinco meses se passaram desde a morte de Mauro e o coração de sua mãe, Olga Oliveira Silva, permanece confuso e destroçado. “A Federal sabia que ele não tinha condições de trabalhar na fronteira. Meia hora antes de morrer, ele me ligou e disse: Mainha, eu amo a senhora. Perdoa eu ter vindo pra cá sem ter me despedido”.



Relatos de colegas de Mauro dão conta que ele chegou a sofrer assédio moral pela pouca produtividade, situação mais frequente do que se poderia imaginar. Como ele, cerca de 50% dos agentes federais já chegaram a relatar casos de assédio praticados por superiores hierárquicos. Essas ocorrências, aliadas a fatores genéticos, à formação de cada um e à falta de perspectivas profissionais, são tratadas por especialistas como desencadeadoras dos distúrbios mentais. “A forma como a estrutura da polícia está montada tem causado sofrimento patológico em parte dos agentes. Há dificuldades para enfrentar a organização hierárquica do trabalho. As pessoas, na maioria das vezes, sofrem de sentimentos de desgaste, inutilidade e falta de reconhecimento. Não é difícil fazer uma ligação desse cenário com as doenças mentais”, afirma Dayane Moura, advogada de três famílias de agentes que desenvolveram doenças psíquicas.



Os distúrbios mentais e a ocorrência de depressão em policiais são geralmente invisíveis para a estrutura da Polícia Federal. De acordo com o Sindicato dos Policiais do Distrito Federal, há apenas cinco psicólogos para uma corporação de mais de dez mil pessoas. Não há vagas para consultas e tampouco acompanhamento dos casos. Foi nessa obscuridade que a doença do agente Fernando Spuri Lima, 34 anos, se desenvolveu. Quando foi encontrado morto com um tiro na cabeça, em julho do ano passado, a Polícia Federal chegou a cogitar um caso de vingança de bicheiros, uma vez que ele tinha participado da Operação Monte Carlo. Dias depois, entretanto, descobriu-se que Spuri enfrentava uma depressão severa há meses. O pai do agente, Fernando Antunes Lima, reclama da falta de estrutura para um atendimento psicológico no departamento de polícia. “Os chefes estão esperando quantas mortes para tomar uma ação? Isso é desumano e criminoso”, diz ele.

O drama de quem perdeu um familiar por suicídio não se limita aos jovens na faixa dos 30 anos. Faltavam dois anos para Ênio Seabra Sobrinho, baseado em Belo Horizonte, se aposentar do cargo de agente da Polícia Federal. Com histórico de transtorno psicológico, o policial já havia comunicado à chefia que não se sentia bem. Solicitou, formalmente, ajuda. Em resposta, a PF mandou dois agentes à sua casa para confiscar sua arma. Seabra foi então transferido para o plantão de 24 horas, quando o policial realiza funções semelhantes às de um vigia predial. A missão é considerada um castigo, pois não exige qualquer treinamento. No dia 14 de outubro de 2012, Seabra se matou, aos 49 anos. Apesar de estar perto da aposentadoria, a família recebe pensão proporcional com valor R$ 2 mil menor do que os vencimentos do agente, na ativa.



Fruto de uma especial combinação de fatores negativos, internos e externos, o suicídio nunca foi uma tragédia de fácil explicação para a área médica nem para estudiosos da vida social. Lembrando que toda sociedade, em qualquer época, tem como finalidade essencial defender a vida de seus integrantes, o sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) demonstrou que o suicídio é a expressão mais grave de fracasso de uma comunidade e que raramente pode ser explicado por uma razão única. Ainda que seja errado apontar para responsabilidades individuais, a tragédia chegou a um nível muito grande, o que cobra uma resposta de cada parcela do Estado brasileiro que convive com esse drama.

fotos: Cesar Greco / Foto arena; Adriano Machado

domingo, 17 de agosto de 2014

DILMA SANCIONA LEI QUE DÁ PODER DE POLÍCIA ÀS GUARDAS MUNICIPAIS


PONTE, — 15/08/14


Luís Adorno 


Com a nova lei guardas municipais ganham mais poder, poderão portar arma e emitir multas de trânsito. O cientista social Guaracy Mingardi alerta para o risco de surgir uma “PMzinha”

A presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 13.022, que prevê poder de polícia às Guardas Municipais (GCM) na sexta-feira (8), regulamentando o parágrafo 8º do artigo 144 da Constituição Federal. A sansão foi publicada em edição extra do “Diário Oficial da União” de segunda-feira (11). A Lei é oriunda do PLC (Projeto de Lei Complementar) 39/2014 , de autoria do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).

Com a nova lei, guardas municipais terão a missão de proteger vidas, com direito a porte de arma, e não apenas patrimônios, como antes. Poderão, inclusive, atuar em conjunto com órgãos de segurança pública, agindo em situações de conflito, por exemplo. Também terão a possibilidade de colaborar com órgãos de trânsito, estaduais ou municipais, e até expedir multas. Os agentes terão arma de fogo, mas podem ter o direito ao armamento suspenso nas hipóteses de restrição médica, decisão judicial ou justificativa feita pelo próprio guarda municipal.

Com estruturação em carreira única e progressão funcional, os agentes deverão utilizar uniformes e equipamentos padronizados. Entretanto, sua estrutura hierárquica não poderá ter denominação igual a de militares. Municípios fronteiriços poderão constituir consórcio público para utilizar a mesma guarda municipal.

Páginas no Facebook de apoio às Guardas Municipais comemoraram a sanção. “Façamos dessa vitória a vitória do povo brasileiro, que clama por uma segurança pública mais humana. Viemos para somar e trabalhar juntos com as outras forças polícias para garantir mais segurança para toda a população”, diz um dos curtidores da página “Guardas Municipais do Brasil”.


“Tem que tomar cuidado para não repetir os mesmos erros que a PM comete e não querer copiar os acertos da PM também, porque nós não precisamos de outra polícia militar.”

Segundo o cientista social Guaracy Mingardi, a lei tem seus lados positivo e negativo. “Quando um GCM detinha um suspeito e levava para a delegacia, muitas vezes o delegado não aceitava e esperava chegar um PM. Nesse ponto, por exemplo, será positivo”, avalia. O especialista alerta para a implantação da lei. “Tem que tomar cuidado para não repetir os mesmos erros que a PM comete e não querer copiar os acertos da PM também, porque nós não precisamos de outra polícia militar”, diz.

Mingardi explica que, com a nova lei, pode ser criada uma “PMzinha”. Segundo ele, se houver um número de chamada para as guardas municipais, assim como o 190, por exemplo, as ocorrências podem se sobrepor na prática. “Vão ligar para os dois números e vão chegar dois órgãos diferentes para atender o mesmo caso”, diz.

De acordo com Luiz Eduardo Soares, antropólogo e ex-secretário Nacional de Segurança Pública, com a lei, haverá “mais disputas, mais conflitos, mais rivalidade”. Ele diz que a lei “busca valorizar o município e as guardas, o que é muito positivo, mas ignora sua inscrição em uma ordem institucional abrangente e negligencia os efeitos desse quadro sobre a nova realidade que pretende criar assim como as consequências dessa nova realidade sobre o quadro mais amplo (…) adicionando à disputa entre PMs e polícias civis, a futura rivalidade entre Guardas e PMs”.

Para o antropólogo, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 51/2013, que pretende reestruturar do modelo de segurança pública a partir da desmilitarização da PM, deveria ser votada e aprovada, ao invés do PL 39/2014, porque a proposta “parte de uma compreensão sistêmica e encaminha uma transformação ampla”, diferentemente da lei sancionada por Dilma.
Truculência

Guardas municipais têm sido recentemente acusados de serem truculentos em suas abordagens. Em novembro do ano passado, durante um protesto no Rio de Janeiro, dois jovens foram detidos e, mesmo sem reagir, um agente teria pisado no joelho de um deles e apalpado o seio da outra manifestante. Naquele mesmo ato, um outro jovem acusou dois agentes de agredi-lo com um golpe de estrangulamento e socos no estômago. A Guarda Municipal negou que tenha havido qualquer tipo de abuso contra os manifestantes.

No fim de março deste ano, um homem acusou guardas civis municipais de serem homofóbicos e agressivos. O jovem estava na região do Largo do Arouche, centro de São Paulo, quando viu 2 colegas serem abordados e detidos. Ao tentar saber o que tinha acontecido, um guarda municipal mandou ele ficar quieto, deu um tapa em sua na cara e o xingou de “veadinho”, acrescentando que o jovem deveria manter o respeito e não beijar um outro homem na frente deles. A Secretaria da Segurança Urbana afirmou que repudia “qualquer atitude homofóbica por parte de seus servidores, que são orientados e capacitados a assegurar todos os munícipes, sem quaisquer distinções.”




MILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS NOS EUA

Marijuana Decriminalization

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Anderson Rodrigues


DOIS ESTADOS DOS EUA INICIAM MILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS


"Dois estados norte-americanos iniciarão no próximo ano uma reforma nas suas políticas de segurança pública, que são atualmente a padrão dos EUA. O estado de Washington e o Distrito de Colúmbia, onde se localiza a capital do país, iniciarão no próximo ano a militarização da polícia estadual, de acordo com o modelo brasileiro das Polícias Militares Estaduais.

De acordo com a regra geral americana, as polícias são municipais e civis, divididas em Departamentos de Polícia, nas grandes cidades, ou em Departamento do Xerife nas pequenas. Agem com policiamento ostensivo e fardado (ou não) e têm hierarquia, no entanto não há a cultura militar, com cadeia de comando e a hierarquia e disciplina como bases.

Os principais motivos que levaram a tais medidas, de acordo com os dois estados, são o melhor atendimento às situações de segurança pública. Havendo um comando mais forte, uma cadeia de comando firme e uma disciplina rígida, o que não existe em uma organização civil, tem, no meio militar, um atendimento rápido e eficiente.

De acordo com o Chefe de Polícia Bill Donstway, do estado de Washington, 'uma organização militar atua de forma muito mais eficiente nas necessidades da segurança pública, com menos casos de corrupção, atendimento a situações e tomadas de decisões mais rápidas'. Diz também que 'a divisão em companhias e batalhões com comandos próprios, mas ligados ao comando general – onde entra a hierarquia e linha de comando – propicia uma organização infinitamente maior no policiamento ostensivo e preventivo'.

Para ele é um equívoco dizer que a cultura militar é incompatível com o atendimento à comunidade civil, para ele é uma questão de educação do policial e uma cobrança firme de disciplina. Segundo ele, truculência policial existe tanto na policia de organização civil como na militar, em ambas, se não for bem educado, o policial pode vir a achar que é melhor que os cidadãos. 'É uma questão de educação', finaliza.
A decisão dos dois estados é uma reviravolta e uma surpresa, que foi elogiado por muitos intelectuais e organizações americanas, e pode vir a gerar uma onda no país. Foi fato inesperado também no Brasil, uma vez que vários intelectuais e ONG's defendiam a desmilitarização das PM's tendo como prisma a organização policial dos EUA."

(France Presse, em Washington).




Gastão Gal - Quando fui a NY, notei que a maioria dos policiais eram oriundos das forças armadas Americanas, inclusive os bombeiros.

POLICIAIS SUSPEITOS DE EXTORSÃO

DIÁRIO GAÚCHO 15/08/2014 | 20h41


Policiais civis suspeitos de extorsão têm prisão decretada em Alvorada. Agentes teriam pedido R$ 5 mil para não indiciar homem por homicídio



Dois policiais civis suspeitos de extorsão tiveram a prisão decretada no final da tarde desta sexta-feira, pela 2ª Vara Criminal de Alvorada, na Região Metropolitana. Eles teriam pedido R$ 5 mil a um homem para não indiciá-lo por homicídio.

Conforme a investigação da Corregedoria-Geral da Polícia Civil, um intermediário teria efetuado as negociações com a vítima, suspeito de ser o responsável por um assassinato. O homem, um empreiteiro que teria ligação com os policiais e com a vítima, foi preso há duas semanas.

Os policiais trabalhavam na 1ª Delegacia de Alvorada, especializada em homicídios, mas estavam afastados das funções desde a prisão do empreiteiro. Segundo o delegado Paulo Rogério Grillo, eles ainda não foram localizados, mas a Corregedoria espera que eles se apresentem em breve. Os agentes devem ficar detidos na sede do Grupamento de Operações Especiais, no Palácio da Polícia, em Porto Alegre.

Na terça-feira, cinco policiais civis suspeitos de roubo de carga de cigarros foram presos. Há pouco mais de dois meses, os agentes — lotados na Delegacia de Roubos e Extorsões — descobriram que uma carga contrabandeada do Paraguai seria descarregada em um sítio em Tapes, no Sul do Estado. Eles simularam uma operação na qual foram apreendidas 330 caixas de cigarro. Na ação, usaram uma caminhonete da Polícia Civil, uma viatura discreta e um caminhão fretado.
O problema é que a carga apreendida nunca foi entregue à polícia ou à Justiça. Com base numa queixa feita pelas próprias pessoas que perderam a mercadoria, a Corregedoria da Polícia Civil começou a investigar o caso. Imagens de câmeras da EPTC e da Concepa provaram que os três veículos se deslocaram em comboio.

Parte da carga foi encontrada pela Corregedoria na residência de um homem que seria informante dos policiais, no bairro Santo Onofre, em Viamão.O valor de venda da carga roubada é avaliado em cerca de R$ 250 mil.