ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

DE PROFESSOR A POLICIAL.



George L. Kirkham


Como professor de Criminologia, tive problemas durante algum tempo, devido ao fato de que, seguindo a maioria daqueles que escrevem livros sobre assuntos policiais, eu nunca havia sido policial. Contudo, alguns elementos da comunidade acadêmica norte-americana, tal como eu, agiram muitas vezes precipitadamente ao apontar erros da nossa polícia. Dos incidentes que lemos nos jornais, formamos imagens estereotipadas, como as do policial violento, racista, venal ou incorreto. O que não vemos são os milhares de dedicados agentes da polícia, homens e mulheres, lutando e resolvendo problemas difíceis para preservar nossa sociedade e tudo que nos é caro.

Muitos dos meus alunos tinham sido policiais, e eles várias vezes opunham às minhas críticas o argumento de que uma pessoa só poderia compreender o que um agente da polícia tem de suportar quando se sentisse na pele de um policial. Por fim, me decidi a aceitar o desafio. Entraria para a polícia e, assim, iria testar a exatidão daquilo que vinha ensinando. Um dos meus alunos (um jovem agente que gozava licença para freqüentar o curso, pertencente à Delegacia de Polícia de Jacksonville, Flórida) me incitou a entrar em contato com o Xerife Dale Carson e o Vice-Xerife D. K. Brown e explicar-lhes minha pretensão.

Lutando por um distintivo

Jacksonville parecia-me o lugar ideal. Um porto marítimo e um centro industrial em crescimento acelerado. Ali ocorriam, também, manifestações dos maiores problemas sociais que afligem nossos tempos: crime, delinqüência, conflitos raciais, miséria e doenças mentais. Tinha, igualmente, a habitual favela e o bairro reservado aos negros. Sua força policial, composta por 800 elementos, era tida como uma das mais evoluídas dos Estados Unidos.

Esclareci ao Xerife Carson e ao Vice-Xerife Brown de que pretendia um lugar não como observador, mas como patrulheiro uniformizado, trabalhando em expediente integral durante um período de quatro a seis meses. Eles concordaram, mas impuseram também a condição de que eu deveria, primeiro, preencher os mesmos requisitos que qualquer outro candidato a policial, uma investigação completa do caráter, exame físico, e os mesmos programas de treinamento. Haveria outra condição com a qual concordei prontamente em nome da moral. Todos os outros agentes deviam saber quem eu era e o que estava fazendo ali. Fora disso, em nada eu me distinguiria de qualquer agente, desde o meu revólver Smith and Wesson .38 até o distintivo e o uniforme.

O maior obstáculo foram as 280 horas de treinamento estabelecidas por lei. Durante quatro meses (quatro horas por noite e cinco noites por semana), depois das tarefas de ensino teórico, eu aprendia como utilizar uma arma, como aproximar-me de um edifício na escuridão, como interrogar suspeitos, investigar acidentes de trânsito e recolher impressões digitais. Por vezes, à noite, quando regressava a casa depois de horas de treinamento de luta para defesa pessoal, com os músculos cansados, pensava que estava precisando era de um exame de sanidade mental por ter-me metido naquilo. Finalmente, veio a graduação e, com ela, o que viria a ser a mais compensadora experiência da minha vida.

Patrulhando a rua

Ao escrever este artigo, já completei mais de 100 rondas como agente iniciado, e tantas coisas aconteceram no espaço de seis meses que jamais voltarei a ser a mesma pessoa. Nunca mais esquecerei também o primeiro dia em que montei guarda defronte à porta da Delegacia de Jacksonville. Sentia-me, ao mesmo tempo, estúpido e orgulhoso no meu novo uniforme azul e com a cartucheira de couro.

A primeira experiência daquilo que eu chamo de minhas “lições de rua” aconteceu logo de imediato. Com meu colega de patrulha, fui destacado para um bar, onde havia distúrbios, no centro da zona comercial da cidade. Encontramos um bêbado robusto e turbulento que, aos gritos, se recusava a sair. Tendo adquirido certa experiência em admoestação correcional, apressei-me a tomar conta do caso. “Desculpe, amigo”, disse eu sorridente, “não quer dar uma chegadinha aqui fora para bater um papo comigo?” O homem me encarou incrédulo, com os olhos vermelhos. Cambaleou e me deu um empurrão no ombro. Antes que eu tivesse tempo de me recuperar, chocou-se de novo comigo e, desta vez, fazendo saltar da dragona a corrente que prendia meu apito. Após breve escaramuça, conseguimos levá-lo para a radiopatrulha.

Como professor universitário, eu estava habituado a ser tratado com respeito e deferência e, de certo modo, presumia que isso iria continuar assim em minhas novas funções. Estava porém, aprendendo que meu distintivo e uniforme, longe de me protegerem do desrespeito, muitas vezes atuavam como um imã atraindo indivíduos que odiavam o que eu representava. Confuso, olhei para meu colega, que apenas sorriu.

Teoria e prática

Nos dias e semanas seguintes, eu iria aprender mais coisas. Como professor, sempre procurava transmitir aos meus alunos a idéia de que era errado exagerar o exercício da autoridade, tomar decisões por outras pessoas ou nos basearmos em ordens e mandatos para executar qualquer tarefa. Como agente de polícia, porém, fui muitas vezes forçado a fazer exatamente isso. Encontrei indivíduos que confundiam gentileza com fraqueza – o que se tornava um convite à violência. Também encontrei homens, mulheres e crianças que, com medo ou em situações de desespero, procuravam auxílio e conselhos no homem uniformizado.

Cheguei à conclusão de que existe um abismo entre a forma como eu, sentado calmamente no meu gabinete com ar condicionado, conversava com o ladrão ou assaltante à mão armada, e a maneira pela qual os patrulheiros lidam com esses homens – quando eles se mostram violentos, histéricos ou desesperados. Esses agressores, que anteriormente me pareciam tão inocentes, inofensivos e arrependidos depois do crime cometido, como agente de polícia, eu os encarava pela primeira vez como uma ameaça à minha segurança pessoal e a da nossa própria sociedade.

Aprendendo com o medo

Tal como o crime, o medo deixou de ser um conceito abstrato para mim, e se tornou algo bem real, que por várias vezes senti: era a estranha impressão em meu estômago, que experimentava ao me aproximar de uma loja onde o sinal de alarme fora acionado; era uma sensação de boca seca quando, com as lâmpadas azuis acesas e a sirena do carro ligada, corríamos para atender a uma perigos chamada onde poderia haver tiroteio.

Recordo especialmente uma dramática lição no capítulo do medo. Num sábado à noite, patrulhava com meu colega uma zona de bares mal freqüentados e casas de bilhares, quando vimos um jovem estacionar o carro em fila dupla. Dirigimo-nos para o local, e eu pedi que arrumasse devidamente o automóvel, ou então que fosse embora, ao que ele respondeu inopinadamente com insultos. Ao sairmos da radiopatrulha e nos aproximarmos do homem, a multidão exaltada começou a nos rodear. Ele continuava a nos insultar, recusando-se a retirar o carro. Então, tivemos que prendê-lo. Quando o trouxemos para a viatura da polícia, a turba nos cercou completamente. Na confusão que se seguiu, uma mulher histérica abriu meu coldre e tentou sacar meu revólver.

De súbito, eu estava lutando para salvar minha vida. Recordo a sensação de verdadeiro terror que senti ao premir o botão do armeiro na radiopatrulha onde se encontravam nossas armas longas. Até então, eu sempre tinha defendido a opinião de que não devia ser permitido aos policiais o uso de armas longas, pelo aspecto “agressivo” que denotavam, mas as circunstâncias daquele momento fizeram mudar meu ponto de vista, porque agora era minha vida que estava em risco. Senti certo amargor quando, logo na noite seguinte, voltei a ver, já em liberdade, o indivíduo que tinha provocado aquele quase motim – e mais amargurado fiquei quando ele foi julgado e, confessando-se culpado, condenaram-no a uma pena leve por “violação da ordem”.

Vítimas silenciosas

Dentre todas as trágicas vítimas que vi durante seis meses, uma se destaca. No centro da cidade, num edifício de apartamentos, vivia um homem idoso que tinha um cão. Era motorista de ônibus aposentado. Encontrava-os quase sempre na mesma esquina, quando me dirigia para o serviço, e por vezes me acompanhavam durante alguns quarteirões.

Certa noite, fomos chamados por causa de um tiroteio numa rua perto do edifício. Quando chegamos, o velho estava estendido de costas no meio de uma grande poça de sangue. Fora atingido no peito por uma bala e, em agonia, me sussurrou que três adolescentes o tinham interceptado e lhe exigiram dinheiro. Quando viram que tinha tão pouco, dispararam e o abandonaram na rua.

Em breve, comecei a sentir os efeitos daquela tensão diária a que estava sujeito. Fiquei doente e cansado de ser ofendido e atacado por criminosos que depois seriam quase sempre julgados por juizes benevolentes e por jurados dispostos a conceder aos delinqüentes “nova oportunidade de se reintegrarem ao convívio da sociedade”. Como professor de Criminologia, eu dispunha do tempo que queria para tomar decisões difíceis. Como policial, no entanto, era forçado a fazer escolhas críticas em questão de segundos (prender ou não prender, perseguir ou não perseguir), sempre com a incômoda certeza de que outros, aqueles que tinham tempo para analisar e pensar, estariam prontos para julgar e condenar aquilo que eu fizera ou aquilo que não havia feito.

Como policial, muitas vezes fui forçado a resolver problemas humanos incomparavelmente mais difíceis do que aqueles que enfrentara para solucionar assuntos correcionais ou de sanidade mental: rixas familiares, neuroses, reações coletivas perigosas de grandes multidões, criminosos. Até então, estivera afastado de toda espécie de miséria humana que faz parte do dia-a-dia da vida de um policial

Bondade em uniforme

Freqüentemente, fiquei espantado com os sentimentos de humanidade e compaixão que pareciam caracterizar muitos dos meus colegas agentes da polícia. Conceitos que eu considerava estereotipados eram, muitas vezes, desmentidos por atos de bondade: um jovem policial fazendo respiração boca-a-boca num imundo mendigo, um veterano grisalho levando sacos de doces para as crianças dos guetos, um agente oferecendo a uma família abandonada dinheiro que provavelmente não voltaria a reaver.

Em conseqüência de tudo isso, cheguei a humilhante conclusão de que tinha uma capacidade bastante limitada para suportar toda a tensão a que estava sujeito. Recordo em particular certa noite em que o longo e difícil turno terminara com uma perseguição a um carro roubado. Quando largamos o serviço, eu me sentia cansado e nervoso. Com meu colega, estava me dirigindo para um restaurante a fim de comer qualquer coisa, quando ouvimos o som de vidros que se partiam, proveniente de uma igreja próxima, e vimos dois adolescentes cabeludos fugindo do local. Nós os alcançamos e pedi a um deles que se identificasse. Ele me olhou com desprezo, xingou-me e virou as costas com intenção de se afastar. Não me lembro do que senti. Só sei que o agarrei pela camisa, colei seu nariz bem no meu e rosnei: “Estou falando com você, seu cretino!”

Então meu colega me tocou no ombro, e ouvi sua confortante voz me chamando à razão: “Calma, companheiro!” Larguei o adolescente e fiquei em silêncio durante alguns segundos. Depois me recordei de uma das minhas lições, na qual dissera aos alunos: “O sujeito que não é capaz de manter completo domínio sobre suas emoções, em todas as circunstâncias, não serve para policial”.

Desafio complicado. Muitas vezes perguntara a mim próprio: “Por que uma pessoa quer ser policial?” Ninguém está interessado em dar conselhos a uma família com problemas às três da madrugada de um domingo, ou em entrar às escuras num edifício que foi assaltado, ou em presenciar, dia após dia, a pobreza, os desequilíbrios mentais, as tragédias humanas. O que faz um policial suportar o desrespeito, as restrições legais, as longas horas de serviço com baixo salário, o risco de ser assassinado ou mutilado?

A única resposta que posso dar é baseada apenas na minha curta experiência como policial. Todas as noites eu voltava para casa com um sentimento de satisfação e de ter contribuído com algo para a sociedade – coisa que nenhuma outra tarefa me havia dado até então.

Todo agente de polícia deve compreender que sua aptidão para fazer cumprir a lei, com a autoridade que ele representa, é a única “ponte” entre a civilização e o submundo dos fora-da-lei. De certo modo, essa convicção faz com que todo o resto (o desrespeito, o perigo, os aborrecimentos) mereça que se façam quaisquer sacrifícios.



George L. Kirkham. Professor assistente da Escola de Criminologia da Universidade da Flórida

Extraído de Polícia Militar – Revista da Polícia Militar do Rio de Janeiro – n° 5­/Ano III – Agosto de 1988


RIO PROTESTA CONTRA DESAPARECIDO LEVADO PELA PM


Rio protesta contra desaparecimentos não esclarecidos. Também vão participar do ato parentes do pedreiro Amarildo, que sumiu em 14 de julho após ter sido levado por PMs à UPP da Rocinha

31 de julho de 2013 | 8h 49

MARCELO GOMES - O Estado de S. Paulo

RIO - A ONG Rio de Paz realiza, na manhã desta quarta-feira, 31, um ato público na Praia de Copacabana, na zona sul do Rio, em protesto contra os casos de desaparecimento não esclarecidos no Estado. Parentes do pedreiro Amarildo Souza, que desapareceu em 14 de julho após ter sido levado por PMs à Unidade de Polícia Pacificadora da Favela da Rocinha, também vão participar do ato.


Marcos de Paula/AE
Manequins foram espalhados nas areias da Praia de Copacabana


Dez manequins cobertos com um tecido branco foram espalhados nas areias da praia, simbolizando os casos de desaparecimento registrados e não registrados em delegacia desde 2007. Segundo a ONG, são 35 mil casos de desaparecimento no Estado do Rio neste período.

Câmeras. As câmeras da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que o pedreiro Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação", em 14 de julho. O relatório da empresa Emive, responsável pelas duas câmeras instaladas na UPP, que aponta o defeito nos equipamentos justamente no dia do sumiço do pedreiro, foi obtido pelo RJTV, da Rede Globo. Das 80 câmeras da Emive instaladas na Rocinha, apenas as duas da sede da UPP apresentaram problemas.

terça-feira, 30 de julho de 2013

PARA PERITO, NÃO HOUVE CONFRONTO NO CARANDIRU

ZERO HORA 30 de julho de 2013 | N° 17507

MASSACRE DO CARANDIRU. Para perito, não houve confronto


Durante o primeiro depoimento da segunda fase do júri do Massacre do Carandiru, o perito criminal Osvaldo Negrini Neto voltou a afirmar que não havia indícios de confronto entre presos e PMs no interior do Pavilhão 9. – Não há nenhuma prova técnica que possa amparar uma visão (de que os presos haviam atirado de dentro das celas contra policiais). Se fosse assim, as paredes estariam repletas de tiros e haveria policiais mortos – afirmou.

Esta é a segunda etapa do julgamento sobre o massacre que levou à morte de 111 presos após uma rebelião na penitenciária em 1992. Nesse novo júri, estão sendo julgados 26 policiais militares que participaram da ação no segundo andar do pavilhão, onde 73 presos teriam morrido.

Com base em fotos apresentadas pelos promotores Fernando Pereira da Silva e Eduardo Olavo Canto Neto, o perito afirmou que dentro das celas dos presos havia vestígios de rajadas de metralhadoras e de sangue, o que indicaria que os presos foram mortos dentro desses locais.

Também foram exibidas fotos que mostravam os corpos dos presos empilhados no primeiro andar da Casa de Detenção. Entre eles, alguns estavam sem roupas.

Em seguida, Canto Neto questionou o perito se, naquela noite, homens nus carregaram corpos de detentos mortos e a resposta foi sim, dando a entender que alguns presos podem ter sido mortos após o término da ação nos andares, quando ajudavam os policiais a carregar os mortos.

Negrini também foi testemunha da acusação na primeira etapa do julgamento, em abril, quando 23 PMs que entraram no primeiro andar do prédio foram condenados a 156 anos de prisão cada. Assim como naquela ocasião, ele voltou a dizer que teve dificuldade para periciar o local logo após o massacre, pois não havia energia elétrica. Quando retornou ao local, uma semana depois, as celas já haviam sido lavadas.

A pedido da defesa dos policiais, o perito explicou como chegou à conclusão de que 73 presos haviam sido mortos naquele pavimento, onde entraram os policiais que começaram a ser julgados hoje. Ele afirmou que cruzou o número de disparos localizados em cada cela com os nomes dos detentos mortos. Segundo ele, esse era o andar em que “moravam” os 73 mortos e havia quantidade de vestígios de tiros compatível com essa quantidade de mortos.

DELEGADOS DO DENARC-SP PROTESTAM CONTRA O MP E PRISÃO DE COLEGAS

ZERO HORA 30 de julho de 2013 | N° 17507

EMBATE COM O MP. Delegados do Denarc paulista fazem protesto


Uma comissão de delegados foi recebida por assessores do gabinete do procurador-geral de Justiça de São Paulo, no fim da tarde de ontem, no centro da capital paulista.

A reunião durou cerca de 30 minutos e aconteceu após uma passeata de policiais civis contra a prisão de delegados e investigadores do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc).

Segundo os delegados, a promotoria se comprometeu em se aproximar dos representantes da Polícia Civil.

Durante o protesto, cerca de 200 delegados e policiais civis caminharam pelas ruas da região central de São Paulo. A principal pauta do protesto foi a operação que prendeu, no último dia 15 de junho, policiais do Denarc.

Entre os presos estava Clemente Calvo Castilhone Júnior, delegado chefe do setor de investigações do departamento. Segundo os delegados, as prisões foram ilegais e sem provas. Castilhone foi liberado três dias depois.

– Queremos mostrar nossa indignação e revolta com a prisão de inocentes e com atos ilegais do Ministério Público – disse Marilda Pinheiro, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

No total, foram presos dois delegados, nove policiais e ex-policiais do Denarc e dois investigadores do 10º Delegacia da Polícia Civil de Campinas.

BOLA FORA

ZERO HORA 28 de julho de 2013 | N° 17505

DIÁRIOS DO MUNDO | RODRIGO LOPES

Bolas fora

Mais uma vez, a polícia carioca foi mal e virou notícia internacional: a agressão ao fotógrafo Yasuyoshi Chiba, da France Presse, durante um protesto contra o governador Sérgio Cabral, foi uma bola fora. Quanto à organização da visita do Papa, a má notícia ficou por conta de falhas no planejamento. Um lamaçal impediu um dos momentos mais bonitos: a vigília e missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, que teve de ter seu local alterado na maior falha da organização até sexta-feira. Há um mês, o Ministério Público do Rio já havia apontado problemas em Guaratiba.

Papa em risco

Na Avenida Pensilvânia, em Washington, cinco minutos antes de a comitiva de Barack Obama passar, um pelotão de batedores cruza, em alta velocidade, a via, mantendo qualquer pedestre na calçada. Aconteceu em janeiro de 2009, na noite anterior à posse do presidente americano. Em busca de uma boa foto, desci do cordão, fiquei no canto da calçada, para chegar mais perto do comboio. Imediatamente, um batedor se aproximou, parou muito perto do meu pé e gritou:

– Afaste-se, cara!

E a comitiva de Obama passou com segurança. Além do presidente prestes a ser empossado, tive a oportunidade de testemunhar, em algumas coberturas internacionais, as comitivas de George W. Bush, Cristina Kirchner, de Dilma, de Lula, de Hugo Chávez e até desfiles de Bento XVI de papamóvel pelo Vaticano. Talvez por isso tenha ficado intrigado com a cena do comboio do papa Francisco entalado entre uma fila de ônibus e uma multidão ao longo da Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. A certa altura, quando a delegação estava cercada, dois agentes tiveram de empurrar um carro da Guarda Municipal que bloqueava o caminho.

As falhas foram muitas. Uma das primeiras lições de qualquer curso de segurança diz respeito ao transporte de autoridades. Um perímetro de segurança deve ser estabelecido – de preferência por batedores. É aconselhável que o automóvel siga em velocidade compatível com a situação externa – se há risco, acelera.

A sucessão de erros no caso do Papa obrigou os seguranças que estavam no carro a descerem várias vezes para proteger as janelas. Os 12 agentes – quatro do Vaticano e oito brasileiros – teriam perdido na confusão um relógio e um celular, além de um terno ter sido rasgado. Um policial chegou ao fim do trajeto sem um dos sapatos.

Se o erro foi do motorista do carro líder do comboio, da Polícia Militar, da prefeitura ou do governo do Estado – ou mesmo uma opção do próprio Vaticano – é o que menos importa. O fato é que o Papa ficou vulnerável. A imagem do Brasil lá fora foi abalada. Jornais como o La Repubblica definiram o erro de trajeto como “caos da segurança nacional”, no texto intitulado “Segurança em pane”. O também italiano Corriere della Sera disse que a situação foi de “extremo perigo”.



PM NINJA


ZERO HORA, 27 de julho de 2013 | N° 17504

HIT NO YOUTUBE. “PM ninja” chama a atenção na internet

Registrada em vídeo, a ação de um policial militar de Barros Cassal, no Vale do Rio Pardo, está repercutindo na internet. Nas imagens, o soldado Juarez Padilha, 42 anos, faz movimentos parecidos com um ninja usando um cassetete para enfrentar um homem, que supostamente perturbava frequentadores de um bar, e ameaçava o policial com um cinto.

Agravação foi feita por moradores no final de junho e parou no YouTube, com mais de 12 mil visualizações até a tarde de ontem. Divulgado também no Facebook, com o título de “PM ninja”, em menos de um dia o vídeo foi compartilhado por mais de 5,5 mil pessoas. Segundo o sargento Jeferson Possamai, superior de Padilha, que está de férias, o homem imobilizado estava incomodando frequentadores, e o dono do bar chamou a polícia para retirá-lo. O PM foi ao local com outro colega e imobilizou o homem em cerca de 15 segundos.

– É uma técnica que aprendemos na corporação, mas pouco utilizada na prática. A ação repercutiu bem dentro da corporação – disse Possamai.

Imobilizado e algemado, o homem foi levado à Polícia Civil, onde foi registrada ocorrência. De acordo com o especialista em segurança estratégica Gustavo Caleffi, não houve excesso de força pelos policiais. Ele até elogia a forma como a ação foi conduzida:

– É muito difícil de ver uma ação dessas, tão bem executada, no Interior. Quando o policial chega, a pessoa já está portando uma espécie de arma branca, e o policial usou o mesmo recurso, do mesmo nível, que é o bastão militar. Ele demonstra técnica e agilidade na imobilização.

PROTESTO E POLÊMICA



ZERO HORA 26 de julho de 2013 | N° 17503

JORNADA NO BRASIL

Os gastos com a vinda do Papa ao Brasil deverão gerar novos protestos, hoje, no Rio. Depois das manifestações de segunda-feira, uma nova polêmica em torno da ação da polícia ganhou espaço nas redes sociais e na imprensa. Entre os temas que repercutem, estão a prisão de um manifestante nas imediações do Palácio Guanabara, a agressão a um fotógrafo (leia entrevista abaixo) e a acusação de que agentes da inteligência da PM, chamados de PM2, estariam infiltrados no movimento para incitar o tumulto.

As imagens vieram à tona depois que policiais militares, em depoimento à Polícia Civil, desmentiram a versão inicial da corporação de que Bruno Ferreira Teles, integrante do coletivo de mídia independente Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, era o responsável por lançar a primeira bomba (leia mais ao lado). O jovem foi perseguido, imobilizado com arma não letal e levado para a cadeia.

O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio Grande do Sul, Rodrigo Puggina, lembra que nas manifestações em Porto Alegre também houve casos de pessoas detidas e liberadas por não haver materialidade no flagrante.

– É um reflexo da dificuldade que essa polícia militarizada tem para agir nessas situações. A prática de infiltrar agentes da PM2 também colabora para que se gere a discussão de até que ponto a polícia provocou o eventual embate ou se realmente acabou atuando depois de a manifestação perder o controle – observa Puggina.

O coronel da reserva da Brigada Militar Luiz Antônio Brenner Guimarães, integrante do Núcleo Violência, Segurança e Direitos Humanos da ONG Guayi, diz que a infiltração é uma técnica que a polícia usa no mundo todo para obter informações que ajudem a dimensionar a ação.

– Agora, quando há uma denúncia de que agentes foram colocados no meio do protesto para incitar a violência e, de certa forma, legitimar a ação violenta da polícia, estamos falando de outra coisa – pondera Guimarães.

Ele considera que, muitas vezes, é preciso usar a força para restabelecer a ordem. Mas admite que, recentemente, a polícia teve reação maior do que a do grupo que estava enfrentando.

– Temos um processo histórico de formação da polícia em que a violência sempre esteve muito presente, e isso ainda hoje tem reflexos. Cada caso precisa ser analisado – complementa.

Em nota, a PM do Rio negou a acusação de que policiais seriam autores do ataque à tropa. A Inteligência da PM carioca analisa imagens para identificar quem jogou a primeira bomba.

TAÍS SEIBT

ENTENDA O CASO - Bruno Ferreira Teles foi detido na segunda-feira, quando uma manifestação no Palácio da Guanabara terminou em confronto. Pelo Twitter, ainda na segunda-feira, a PM do Rio informou que o jovem foi preso por ter jogado as primeiras bombas na direção dos policiais. Uma mochila com bombas caseiras foi recolhida a 700 metros do local da prisão. Um vídeo mostra que, no momento da perseguição policial, Bruno está sem mochila. Quando ele é pego, uma arma de choque é usada pelos PMs para imobilizá-lo. Bruno desmaia e é arrastado pelos policiais. Quando consegue se levantar, um PM repete três vezes: “Ele que tacou o primeiro coquetel molotov”. Em depoimento à Polícia Civil, um dos PMs que realizaram a prisão afirmou que um homem não identificado atirou o primeiro coquetel molotov contra os policiais e, em seguida, outra bomba foi acesa e entregue a Teles, que teria lançado o artefato contra os policiais. Bruno passou uma noite na cadeia e foi solto na terça-feira porque o juiz considerou não haver materialidade para o flagrante. O Ministério Público analisa o caso e deve se pronunciar a respeito até segunda-feira.

ENTREVISTA - “Me chutaram como se eu fosse uma bola de futebol”

O fotógrafo japonês Yasuyoshi Chiba, 42 anos, da agência France-Presse, agredido por policiais na manifestação de segunda-feira no Rio, conversou por telefone com Zero Hora na tarde de ontem, antes de ir a Copacabana para cobrir mais um ato da visita do Papa ao Brasil. Na entrevista, ele conta como foi a abordagem policial.

Zero Hora – O que você estava fazendo quando foi abordado pela polícia?

Yasuyoshi Chiba – Eu vi um manifestante caído no chão, inconsciente. Não sei por que, mas o homem que estava no chão foi retirado pela polícia. Eu os segui e tentei chegar na frente deles para fazer as fotos, mas um outro grupo de policiais militares que estava esperando por eles fez uma espécie de sanduíche comigo, fiquei entre os dois grupos de policiais. Então, um dos policiais do grupo que estava na minha frente me empurrou fortemente.

ZH – Você tentou se identificar?

Chiba – Eu tinha credencial e minha câmera. Quando ele me puxou, eu levantei as mãos com minha câmera para mostrar que era fotógrafo e não queria partir para o confronto. Então, o mesmo policial me empurrou de novo, bem forte, e depois um outro policial, que estava atrás de mim, me acertou na cabeça com o cassetete. Quando eu tentei sair, outro policial me derrubou e começou a me chutar, como se eu fosse uma bola de futebol. Até então eu não tinha visto que estava sangrando. Quando percebi, mostrei minhas mãos com sangue e pedi para eles pararem. Eles pararam e me deixaram ali no chão.

ZH – Quem te socorreu?

Chiba – Dois voluntários médicos foram ao meu encontro, limparam o sangue na minha cabeça e me levaram para o hospital.

ZH – E agora você está bem?

Chiba – Estou bem. Minha ferida na cabeça tem quatro centímetros, levei três pontos.

ZH – Você já tinha passado por uma situação parecida no exercício de sua profissão?

Chiba – Não. Estou há dois anos no Brasil, eu já trabalhei no Quênia, na África, e nunca aconteceu nada parecido com isso. Não sei por que eles me bateram. Eles poderiam ter dito para não segui-los, mas começaram a me bater. Não era um ataque necessário. Não são todos os policiais que agem assim, é preciso dizer isso.

FYASUYOSHI CHIBA FOTÓGRAFO DA AFP

SOLDADO DA BM É AGREDIDO E AMARRADO EM ASSALTO

25 de julho de 2013 | N° 17502

ALVO À PAISANA

Um policial militar de 25 anos foi assaltado quando estava em seu veículo, com a namorada, estacionado na Rua Colônia Monge, em Rolante. Três jovens em um Chevette branco se aproximaram do Gol vermelho de Silemar Régis Sziminski pedindo informações e logo anunciaram o assalto.

O soldado estava à paisana. O bando roubou uma pequena quantia em dinheiro, celulares, além da pistola Taurus .40, usada pela Brigada Militar. O crime aconteceu às 23h50min de terça-feira.

Sziminski foi amarrado pelas mãos no porta-malas de seu carro. Atado, ele levou socos e chutes dos três criminosos. O policial se identificou como militar do Exército durante o assalto. A quadrilha, de Novo Hamburgo, fugiu em direção à ERS-239, quando foi localizada pela polícia, após receber um chamado do soldado, que conseguiu desatar-se das cordas e correu para a casa de moradores da área para chamar os seus colegas.

Na perseguição, os bandidos atiraram contra uma viatura da Brigada Militar. Em Taquara, o bando perdeu o controle do veículo e capotou. Policiais levaram os criminosos para o Hospital Bom Jesus, em Taquara.

A Polícia Civil suspeita que o trio sabia que Sziminski era policial.

– Tudo indica que eles praticaram o crime para roubar a arma do PM – afirmou o delegado Rosalino Constante Seara.

UPP NÃO PODE DEFINIR VIDA DOS MORADORES

FOLHA.COM 24/07/2013 - 14h41

'UPPs não podem definir vida dos moradores', diz representante da Igreja


MARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO


A Igreja Católica acompanha com atenção a relação entre moradores e governo do Rio nas favelas ocupadas por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Segundo o padre Luiz Antônio Pereira, coordenador da pastoral das favelas da Arquidiocese do Rio, o comando das UPPs não pode definir o que fazem ou não as pessoas. "Nos últimos dez anos, as lideranças comunitárias foram cooptadas pelo poder público, pelo tráfico de drogas ou pelas milícias. Essa tutela agora não pode ser da UPP", afirma.

"O governo parece não ter muita clareza sobre qual será o futuro das UPPs. É claro que não queremos que o tráfico ou as milícias sejam os mediadores da comunidade junto ao poder público mas também isso não pode acontecer sob a tutela policial", disse o padre Pereira.

De acordo com ele, isso já foi discutido em reuniões de representantes da igreja com o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame e presidentes de associações de moradores. "O próprio secretário já comentou que se não há outras secretarias envolvidas isso (o projeto) não vai funcionar", disse o coordenador da pastoral.

O padre ainda esclarece que a pastoral de favelas está presente em todas as comunidades carentes do Rio. De acordo com o censo de 2010 do IBGE há 1.071 favelas na cidade. "Estamos em todas. Em algumas, como o Complexo do Alemão ou da Maré temos mais de uma paróquia e várias capelas", afirmou.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - E quem disse a ele que a UPP "define vida dos moradores". Para um bom padre é um péssimo analista de segurança pública. Enquanto o tráfico e as milícias tutelavam a vida os moradores, os policiais das UPP são apenas escudos de proteção, sem gerenciar o que devem ou não fazer os moradores.

A POLÍCIA IMPULSIONOU A DELINQUÊNCIA URBANA, SEGUNDO SOCIOLÓGA



CARTA CAPITAL, 24/07/2013

Repressão policial impulsionou a delinquência urbana, diz socióloga. Estudo de Alessandra Teixeira, da USP, mostra que a mistura de omissão e violência proporcionou as condições para a articulação do crime organizado

por Paloma Rodrigues



O processo da construção da criminalidade no Brasil foi diretamente influenciado pela atuação das polícias. A conclusão é da socióloga Alessandra Teixeira, que em sua pesquisa analisou a construção da ilegalidade no Estado de São Paulo da década de 1930 até os dias atuais e verificou que a base do policiamento do Estado se fincou em dois pontos: repressão violenta e uma mistura de omissão e corrupção, características comuns nas polícias civil e militar. O estudo também indica que o aumento da repressão antecede a disseminação do crime organizado e que essa repressão colabora para sua massificação.

A pesquisa de Alessandra é um doutorado realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e analisou depoimentos de ex-presos, biografias e relatos policiais, além de relatos e reportagens jornalísticas de todo o período.

Segundo Alessandra, o atual modelo do crime em São Paulo se configurou no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. A organização da “economia da droga”, termo usado pela socióloga, se dá em grande parte dentro dos presídios. “Neste período ocorreu a prisão em massa, direcionada aos autores de roubo e da 'criminalidade patrimonial desarticulada', proporcionando um 'recrutamento' da população para o espaço da prisão”, diz. A partir disso, afirma Alessandra, o Estado brasileiro teria permitido a formação de uma situação particular que influenciaria os moldes do novo mercado do crime: um misto de omissão do controle das forças dentro das prisões ao mesmo tempo em que usava de repressão violenta. “O Estado não se interessava em controlar o monopólio da violência dentro das prisões e permitia que acontecesse uma luta permanente por poder entre os presos”, afirma. Por outro lado, o Estado fortalecia a tortura e a violência dentro das cadeias. “Foi o caldo de onde nasceu o PCC. Ele não só nasce, como se consolida e se expande por meio da prisão”, diz.

A base da omissão das polícias, que Alessandra chama de permissividade, está nas origens das instituições de policiamento. Nos anos 1960, a ilegalidade se concentrava em regiões específicas da cidade, como o quadrilátero da Boca do Lixo, no centro da capital paulista. Nesses locais, funcionava o esquema da “mercadoria política” em torno da prostituição. “A mercadoria política é o 'acerto', o preço pela liberdade, o dispositivo que se estabelece com o agente que deveria aplicar a lei, mas que cobra para se omitir de aplicá-la”. Os crimes giravam em torno da exploração da prostituição em si, do jogo e do pequeno tráfico de drogas. “Nos anos 60, as prostitutas tinham que pagar a 'caixinha' para os policiais para continuar exercendo a profissão nas ruas.” O perfil dessa mercadoria política muda ao longo dos anos, mas a lógica se mantém.

A “gestão de ilegalismos”, segundo Alessandra, vai para além da esfera dos órgãos policiais. “As secretarias e o judiciário também têm um modus operandi. O judiciário brasileiro é absolutamente tolerante a qualquer violência institucional promovida. As instituições se blindam internamente, é preciso que escândalos aconteçam para que algo mude”.

Histórico. No período do Império até meados do século XX, a repressão era voltada para o controle da vadiagem. "A definição do que era o vadio era subjetiva e feita a partir de critérios discriminatórios", diz. A socióloga explica que a criminalização daqueles que não trabalhavam e eram considerados improdutivos (os "vagabundos") pode ser relacionada à libertação dos escravos. "O fim da escravatura colocou um enorme contingente de negros nas ruas, o que fez com que as elites quisessem controlar essa demanda, muitas vezes definindo essa massa como insubmissa ao trabalho", diz.

Para operar esse controle foi criado um sistema de prisões para averiguação. Essas casas de detenção abrigavam aqueles que a polícia acreditava ter potencial para a ilegalidade, um critério que, segundo Alessandra, era subjetivo e discriminatório, considerando que muitas suspeitas surgiam sem que houvesse provas. "O local passou a ser chamado de 'mofo', porque as pessoas eram colocadas lá e ficavam por muito tempo, até que se averiguasse se elas eram culpadas ou não. Era um número excessivo de prisões para um baixo número de investigações e inquéritos."

O crescimento urbano gerou um boom populacional a partir de meados dos anos 1960, fazendo com que as periferias das cidades passassem a receber contingentes cada vez maiores de pessoas. "É um momento que, apesar da expansão, é de crise. Vão nascer dali as formas mais precárias de habitação”, diz Alessandra. É neste período que surge o fenômeno da marginalização, com o marginal já nascendo como uma figura vista, a priori, como perigosa. “Você tem aqueles farrapos urbanos - que de fato cometem pequenos crimes -, mas você não tem o número de roubos nem a organização que temos hoje", diz. "Aquilo gerou uma distorção da realidade, incentivada pela ditadura.”

A ditadura, em 1969, faz da Polícia Militar, seu braço armado, o único detentor do policiamento na cidade, enquanto a Polícia Civil se torna uma polícia judiciária e investigativa. Até então, o policiamento se dividia entre a Força Pública, uma instituição que apesar de ser moldada pelos preceitos militares, não tinha ligação direta com o Exército, e a Polícia Civil. “A PM nasce como uma força ambivalente: ao mesmo tempo em que era uma força de repressão do Estado, que reprimia contraventores e questionadores do regime, era a força que combatia o crime urbano”, explica a socióloga. O golpe de 64 e o policiamento por ele empregado estigmatizam a população às margens das grandes cidades e reforçam o sentimento de insegurança da população.

Mesmo depois do fim da ditadura, a postura repressiva da polícia não se perdeu. Na verdade, o que Alessandra aponta é que a evolução caminha na direção contrária: na última década se observa uma política mais intensa de valorização da PM, com a transferência maciça de recursos para a corporação, em detrimento da Polícia Civil e de outros órgãos também ligados a segurança pública. Entre 2005 e 2010, diz a pesquisadora, a PM recebeu 35% a mais dos recursos previstos no orçamento do Estado, enquanto a Polícia Civil recebeu 13% a menos do que o planejado. Em valores, são quase 300 milhões de reais a mais para a PM e 65,6 milhões de reais a menos para a Polícia Civil. "O sucateamento de Polícia Civil continua e isso é grave, porque se perde o poder investigativo e o que passa a ter destaque são as 'operações'. Tudo passa a ser com uma operação militar de guerra, com invasões de favela e combate ao tráfico".

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É típico de quem desconhece a realidade da segurança pública no Brasil e da polícia militar. Ora, afirmar que a polícia é quem impulsiona a delinquência é o mesmo que dizer que o crime só existe porque há leis para punir. E ao colocar a PM como força de repressão do Estado, ela esquece da polícia civil que trabalhou nos porões da ditadura e nos sequestros. Além disto, ela esquece qye as polícia militares mudaram regulamentos e posturas, se aproximando dos anseios das comunidades, apesar das dificuldades em efetivos e motivação salarial. A prova do desconhecimento sobre o tema, está expressa na sua crítica sobre a operação de pacificação, onde o Estado tinha como missão desalojar grupos de bandidos empunhando armadas de guerra que dominavam as comunidades, portanto não podia agir da forma convencional. São tendenciosos e falaciosos a análise e os argumentos desta "pesquisadora". 

terça-feira, 23 de julho de 2013

CAI TAXA DE ÓBITOS VIOLENTOS NÃO ESCLARECIDOS NO RIO, MAS É A SEGUNDA PIOR DO BRASIL


Taxa de óbitos violentos não esclarecidos cai no Rio, mas estado tem a 2ª pior média do país. Em 2011, de cada 100 mortes violentas no estado, 12 não têm motivos confirmados

ANTÔNIO GOIS
MARCELLE RIBEIRO
O GLOBO
Atualizado:22/07/13 - 22h52


RIO e SÃO PAULO — Em 2011, de cada cem mortes violentas no estado do Rio, 12 não tiveram seus motivos esclarecidos pelo sistema de Saúde. Já foi pior. Em 2009, essa taxa chegou a 25%, o que gerou há dois anos uma crise nas secretarias de Segurança e de Saúde, e obrigou o estado a rever seus procedimentos para melhorar a informação coletada nos hospitais e no Instituto Médico-Legal (IML). Apesar da melhoria, o estado do Rio ainda apresentava a segunda maior taxa do país (12,2%), ligeiramente atrás da Bahia (12,4%) e um pouco acima de São Paulo (10,4%), segundo dados do sistema de informação DataSUS de 2011, recentemente postos à disposição pelo Ministério da Saúde e tabulados pelo GLOBO.

Olhando apenas para as capitais, a situação é pior no caso da cidade do Rio. É ela que está no topo da lista com maior percentual desse tipo de óbito sem determinação dos motivos. E com um agravante: mesmo estando abaixo do patamar de 2009 (26%), a taxa subiu de 2010 para 2011, de 13% para 20%. O dado de 2011 da capital só não prejudicou mais os números do estado em 2011 porque outros municípios fluminenses registraram melhoria, compensando a piora na precisão dos números cariocas.

Quando uma morte por causa externa consta como “com intenção indeterminada” no DataSUS, sabe-se apenas que ela não decorreu de causas naturais. No grupo de mortes violentas indeterminadas, entram todas as causas não naturais de falecimento: homicídios, suicídios, acidentes de trânsito, quedas ou óbitos decorrentes de catástrofes naturais.

— O padrão atual do Rio e outros estados ainda é elevado. Em países desenvolvidos, como a Inglaterra, em 2011, o total de mortes por causa indeterminada por morte externa foi de 0,2%. No Rio, tem a ver com a qualidade das organizações que produzem essa informação, como o IML, a Secretaria de Saúde e a polícia técnica. Muitas vezes, a cena do crime é desmanchada pelo próprio agente que deveria preservá-la. E não há troca de informação entre os órgãos — diz o pesquisador e diretor de Estado e Instituições do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Daniel Cerqueira.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do estado, a queda na taxa de mortes violentas não esclarecidas de 25% para 12% foi possível graças a um convênio firmado em 2011 entre a pasta e a Secretaria de Saúde, o que facilitou o cruzamento de dados da Polícia Civil com os da Saúde. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, em breve serão anunciadas novas medidas para diminuir ainda mais a taxa de mortes violentas não esclarecidas no sistema de Saúde.

Para analisar estatísticas de criminalidade, os governos estaduais, incluindo o do Rio, preferem trabalhar com números de suas secretarias de Segurança, coletadas pela polícia com o objetivo de investigar crimes. A vantagem das estatísticas policiais é que elas tendem a ser mais precisas na apuração das causas, pois é a Polícia Civil quem investiga, por exemplo, se um óbito violento foi causado por suicídio, homicídio ou latrocínio (roubo seguido de morte).

A coleta dos dados feita pelo DataSUS é importante, no entanto, pois é a única atualmente que permite comparação entre os estados e municípios, já que cada Secretaria estadual de Segurança trabalha com um padrão distinto para identificar crimes pelo sistema policial. Na Saúde, há um protocolo comum, que deve ser seguido em todos os estados.

As estatísticas do DataSUS têm também outra função importante: servir como parâmetro de qualidade para os números de Segurança Pública. Em geral, especialistas da área tendem a confiar mais numa redução de homicídios verificados pelo sistema policial apenas depois que o DataSUS registra a mesma tendência.

— Não é possível ter dados de péssima qualidade como os de hoje no Rio. Se fosse no Piauí, um estado que não tem recursos, isso se justificaria, mas não no caso do Rio. Sem dados bem feitos sobre a realidade, não se pode avaliar e elaborar políticas públicas — afirma Ignacio Cano, professor de Ciências Sociais e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Há dois anos, a alta taxa de mortes não esclarecidas pelos registros da Saúde do Rio gerou uma crise de confiança das estatísticas criminais do estado, após publicação de um artigo do pesquisador Daniel Cerqueira criticando a taxa (na época em 25%). A Secretaria de Segurança Pública reagiu ao artigo de Cerqueira, argumentando que não utilizava dados da Saúde para produzir suas estatísticas, mas, sim, os coletados diretamente em delegacias policiais pelo Instituto de Segurança Pública.

Diretores dos IMLs de São Paulo e da Bahia — estados com taxas acima da média nacional de 7% — explicam que muitas vezes só é possível saber se a morte foi consequência de um acidente ou se houve homicídio depois que exames laboratoriais e toxicológicos ficam prontos, ou se o corpo vem acompanhado de um relatório policial sobre o fato — o que nem sempre acontece. Os resultados desses exames demoram em média 30 dias para sair e não são levados em conta pelo DataSUS, que se baseia apenas nas declarações de óbito preenchidas pelos legistas após a análise dos cadáveres. Na Bahia, a Secretaria estadual de Saúde está fazendo um trabalho conjunto com médicos legistas para complementar dados sobre as causas das mortes, usando os resultados dos exames laboratoriais e relatórios policiais.

Além disso, diretores de IMLs de São Paulo e da Bahia afirmam que, muitas vezes, mortes classificadas como “por causas indeterminadas” eram, na verdade, mortes provocadas por causas naturais. A Secretaria de Segurança de Minas alegou que as informações sobre mortes violentas no DataSUS são “resultado de avaliação médica, dentro de hospitais federais, estaduais e municipais. Se a pessoa não chegou com perfuração de bala ou faca, por exemplo, eles teriam que indicar outra causa, a partir das investigações”.

Chuvas elevaram taxa de óbitos violentos na Serra

Os municípios de Teresópolis, Nova Friburgo e Sumidouro registraram, em 2011, as maiores taxas no estado de mortes violentas. No caso dessas três cidades, no entanto, os motivos nada têm a ver com aumento dos homicídios ou acidentes de trânsito, causas mais comuns. O que elevou a proporção de óbitos por causas não naturais nesses casos foram as enchentes que, naquele ano, vitimaram quase mil pessoas na região serrana do Estado do Rio.

Analisando apenas a taxa de homicídios por cem mil habitantes, o município fluminense mais violento foi Duque de Caxias.

Em seguida, aparecem três cidades com vocação turística: Cabo Frio e Armação dos Búzios, na Região dos Lagos, e Paraty, no litoral Sul. Completam a lista das dez mais violentas, pela ordem, Nova Iguaçu, Angra dos Reis (outra com vocação turística), Itaguaí, Macaé, Magé e Japeri.

No ranking de homicídios, a capital do estado aparece apenas na 24ª posição entre as 92 cidades analisadas. No caso do município do Rio, no entanto, é preciso considerar que 20% das mortes violentas não foram esclarecidas pelo sistema de Saúde. Boa parte pode ser de homicídios que não foram computados nas estatísticas da Saúde.

Em Duque de Caxias, que lidera o ranking de violência no estado, por exemplo, a proporção de mortes violentas sem motivo esclarecido é de 8%. Na capital fluminense, essa proporção chega a 20%.

POLICIAL É ATINGIDO POR MOLOTOV EM PROTESTO NO RIO


Manifestantes e polícia entram em confronto perto do Palácio Guanabara. Conflito começou por volta das 19h45m. Polícia usa bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e um caminhão-pipa para dispersar os manifestantes

O GLOBO 
Atualizado:22/07/13 - 23h27

Um policial é atingido por coquetel molotov durante confrontos em Laranjeiras Victor R. Caivano / AP


RIO - Um protesto contra o governador Sérgio Cabral e a visita do Papa ao Brasil, iniciada nesta segunda-feira, resultou em confronto na Rua Pinheiro Machado, perto do Palácio Guanabara, onde o Pontífice foi recepcionado por autoridades, no início da noite. O conflito teria começado por volta das 19h45m, após alguns manifestantes encapuzados derrubarem uma grade e jogarem coquetéis molotov contra os policiais. Pouco antes, os militares já haviam sido atingidos por pedras. Para dispersar os cerca de 1.500 manifestantes, a polícia usou gás lacrimogêneo, balas de borracha e um caminhão-pipa. Pelo menos oito pessoas ficaram feridas e sete foram detidas, uma delas com 20 coqueteis molotov, segundo o polícia.

De acordo com a OAB, um jovem foi detido por arremesso de explosivo; um por desacato a autoridade; um por formação de quadrilha; um por incitação à violência e um por dano ao patrimônio.

Muitos dos jovens que participavam do protesto correram em direção à Rua das Laranjeiras para fugir do conflito. Alguns manifestantes se abrigaram em uma loja de departamentos, e a PM determinou que os clientes saíssem, um por um, para todos serem revistados.

- Eles entraram, fecharam a loja e revistram todo mundo. Não deixaram os advogados da OAB entrarem. Tinha uma menina com um kit de primeiros socorros na loja, ela foi detida. Vim aqui para ajudar - diz Priscila Prisco, advogada do grupo Habeas Corpus Rio.

Dois policiais, um fotógrafo japonês e o repórter fotográfico Marcelo Carnaval, do GLOBO, foram feridos durante o conflito. Outras quatro pessoas foram atendidas no Hospital Souza Aguiar: Aélia da Silva, com uma lesão no mão provocada por uma pancada de cassetete; José Sales Pimenta, atingido por uma bala de borracha nas costas; Rafael Caruso, com um corte na batata da perna; e Rafael Gomes, que levou três tiros de bala de borracha - nas costas, nas nádegas e na perna. Os médicos não souberam explicar a origem do corte na perta de Rafael Caruso. Os manifestantes denunciaram nas redes sociais que o rapaz havia sido ferido com um tiro de arma de fogo, o que não foi confirmado.

- A polícia agiu contra as manifestantes sem nenhum revide. A gente estava correndo da PM quando o meu colega Leonardo Caruso foi ferido na panturrilha, na altura da Igreja do Largo do Machado - diz o estudante de medicina Felipe Camisão.

Durante a confusão, um caminhão da TV Globo foi depredado em frente ao estádio das Laranjeiras. O protesto começou por volta das 18h, inicialmente a favor dos direitos homossexuais. Um segundo grupo, que pede a renúncia do governador, se juntou aos manifestantes na Rua Pinheiro Machado. Um boneco do governador já havia sido queimado por volta das 19h. Após o confronto, os policiais fizeram um cordão de isolamento próximo ao Viaduto Engenheiro Noronha.

Os sete detidos foram levados para a 9ª DP. Entre eles está Filipe Peçanha, cinegrafista da Mídia Ninja. Um segundo integrante da Mídia Ninja foi detido por volta das 20h55m. Eles foram liberdos por volta das 22h30m

- Fui detido para averiguação. Perguntei averiguação de que, mas eles não responderam. Me colocaram à força na viatura. Eu estava filmando tudo com dois celulares, que foram arrancados de mim dentro do carro - diz Filipe Peçanha, que não teve de pagar fiança para ser liberado.

Os dois integrantes da Mídia Ninja assinaram um Termo Circunstanciado por incitação à violência. Eles terão de comparecer ao 3º Juizados Especial Criminal (Jecrim).

Pelo Twitter, a PM culpou o grupo Black Bloc pelo início da confusão em frente ao Palácio Guanabara. Pouco antes das 20h, a corporação botou no ar a mensagem: “Manifestação transcorreu com tranquilidade até a atuação dos Black Blocs. #VandalismoNão.''

O Twitter da PM publicou uma série de mensagens denunciando a ação de vândalos nos arredores do Palácio Guabanara. Algumas foram: “Vários órgãos sérios de imprensa testemunharam o ataque de #vândalos aos #PMs”; “Não confie em mascarados”; e “Quem usa crianças como escudo não é manifestante. É criminoso”.

Pela rede social, a corporação negou que um manifestante tenha sido atingido por munição letal. A PM informou ainda que outros dois homens foram presos por estarem assaltando manifestantes.

PM É QUEIMADO GRAVEMENTE POR COQUETEL MOLOTOV

ZERO HORA 23 de julho de 2013 | N° 17500

JORNADA NO BRASIL. CURTAS DO PAPA


Policial ferido com coquetel molotov

O confronto entre a polícia e manifestantes próximo ao Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, resultou em um policial gravemente ferido. Ele sofreu queimaduras no tórax após ser atingido por um coquetel molotov. O conflito eclodiu por volta das 19h45min, quando o Papa já havia deixado o local. Conforme o estudante de Medicina Fellipe Camisão, um ativista teria sido baleado por arma de fogo.

O protesto – pelo Estado laico e contra o governador Sérgio Cabral (PMDB) – começou bem-humorado, com performance de mulheres seminuas. Aparentemente chocados, peregrinos que passavam ao lado começaram a rezar o Pai-Nosso de mãos dadas.

Bomba em Aparecida

Uma bomba de fabricação caseira foi encontrada dentro de um banheiro do estacionamento do Santuário Nacional, em Aparecida (SP) na manhã de domingo. A informação foi divulgada em nota pela Polícia Militar, na tarde de ontem. O artefato, de baixo potencial de destruição, foi detonado por agentes do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar.



Provocação?

Uma das mais influentes revistas americanas, a Time criou uma polêmica. Na capa da edição desta semana, a imagem do Papa Francisco, de perfil, aparece cobrindo o nome da publicação, enquanto as duas pontas do “M” se desenham como pequenos chifres vermelhos sobre sua cabeça. A reportagem chama Francisco de “o Papa do povo”, em referência à humildade com que vem se notabilizando desde o conclave.

PM NÃO IMPEDE FUGA DE BANDIDO VESTIDO DE PM

ZERO HORA 23 de julho de 2013 | N° 17500

ROUBO NA CAPITAL. Investigada ação de PM em assalto a posto



Enquanto a Polícia Civil apura o assalto ao posto de combustíveis no qual um ladrão, com roupas da Brigada Militar, escapou na frente de um PM que estava no local, no domingo, no bairro Intercap, na Capital, a BM investiga a conduta do brigadiano. Depois de agredir um funcionário, o criminoso fugiu com cerca de R$ 20 mil – e sem ser importunado pelo policial, que a tudo assistiu e nada fez.

O crime ocorreu por volta das 7h20min. Um homem de moto, com roupas da Brigada, rendeu o gerente e o levou para o andar de cima. Depois de agredi-lo, o obrigou a abrir o cofre.

No mesmo instante, um PM fardado chegou ao posto em uma caminhonete e foi à loja de conveniências comprar cigarros. Um funcionário avisou que o gerente estava rendido por um assaltante. O PM sacou sua arma e foi até a porta. Quando o ladrão desceu, o policial deixou-o passar. Aos funcionários, teria dito que não reagiu porque transportava um preso no carro.

Minutos depois, uma guarnição da BM chegou. O PM, conforme os frentistas, passou aos colegas parte dos números da placa da moto do bandido e reiterou que não poderia ficar para ajudar porque transportava um preso. Foi embora em seguida. Em rondas pela região, os PMs localizaram em seguida a moto, que estava com queixa de roubo.

Conforme o chefe da Comunicação Social da BM, major Leandro Balen, o PM está identificado e foi aberto inquérito policial-militar. Em princípio, até que o caso seja elucidado, o policial fará serviços internos. A Brigada ainda não sabe se ele tinha ligações com o ladrão e, também, se o bandido fardado tinha ligações com a Brigada.

– A história é bem estranha. Estamos investigando – disse o titular da 15ª Delegacia da Polícia Civil, delegado Ajaribe da Rocha Pinto.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

BANDIDOS SE VESTE DE BRIGADIANO

ZERO HORA 22 de julho de 2013 | N° 17499

23º ROUBO NO ANO. Vestido de brigadiano, assaltante ataca posto


Pela 23ª vez neste ano, o posto de combustíveis do número 5.300 da Avenida Bento Gonçalves, no bairro Intercap, em Porto Alegre, foi assaltado. Ontem, o ladrão foi ainda mais ousado: usando coturnos, luvas, colete à prova de balas, coldre com revólver na cintura, vestia uniforme igual ao da Brigada Militar.

Segundo o funcionário José Oliveira, o bandido abasteceu a moto e ficou estacionado no posto, mexendo no celular, por cerca de 10 minutos. Ele usava capacete e não o tirou da cabeça. Quando percebeu a chegada do gerente, sacou o revólver e anunciou o assalto.

– Ele parecia saber a hora que o gerente chegaria e o local por onde somente ele entra. Imediatamente, apontou a arma para o gerente e o levou para dentro da loja – contou.

Os dois ficaram no escritório por cinco minutos. O bandido desferiu duas coronhadas na cabeça do gerente, forçando-o a abrir os cofres.

Enquanto isso, discretamente, no segundo andar, o atendente da loja de conveniências do térreo pediu a ajuda de um policial militar que chegava ao estabelecimento.

– Avisei que estava ocorrendo um assalto. Ele mandou eu chamar a Brigada e se posicionou na porta, com a arma engatilhada. Dois minutos depois, o bandido saiu com o capacete na cabeça, e os dois apenas se cumprimentaram fazendo um joinha (sinal de positivo). Não entendi nada – disse o funcionário.

Bandido foge levando mais de R$ 20 mil em dinheiro

O funcionário ferido foi encaminhado ao HPS para atendimento. O assaltante fugiu na moto, levando mais de R$ 20 mil em dinheiro. O veículo, identificado como roubado, foi localizado a uma quadra do posto, na Rua Marcone.

Segundo o funcionário do posto, o PM que não reagiu alegou que estava transportando um preso em um veículo estacionado ao lado do posto e só havia parado para comprar cigarros. Ele esperou a viatura da BM chegar, repassou a placa da moto do bandido e seguiu viagem.

O Diário Gaúcho procurou o comando do 19º BPM para confirmar se o homem que chegou na caminhonete era policial. A tenente-coronel Nádia Gerhard afirmou que somente na manhã de hoje terá acesso ao relatório feito pelos PMs que atenderam a ocorrência.

ALINE CUSTÓDIO

EXTORSÃO RENDEU MAIS DE R$ 2 MILHÕES

ZERO HORA 22 de julho de 2013 | N° 17499

TRÁFICO EM CAMPINAS


O esquema de extorsão a traficantes, investigado pelo Ministério Público de Campinas, no interior de São Paulo, pode ter rendido a agentes do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc) suspeitos de corrupção mais de R$ 2 milhões. É o que revela um relatório entregue à Justiça, que levou para a cadeia, na semana passada, nove policiais civis.

Nas mais de 400 páginas do documento, entregue pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), constam sequestros, tortura, ameaças de morte, invasões de domicílio e roubos – de dinheiro e drogas – supostamente cometidos pelos policiais civis para extorquir R$ 300 mil de um traficante de Campinas. Quatro agentes permanecem foragidos.

Sem saber que estava com o telefone celular – usado ilegalmente de dentro do presídio – grampeado, o sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, conhecido como Andinho, chefe do tráfico local, relata a um comparsa o prejuízo dos achaques ao traficante Agnaldo Aparecido da Silva Simão, o Codorna. “Mão de Morsa (apelido usado por Andinho) diz que, do final do ano para cá, Mano Mais Novo (como ele chama o Codorna) perdeu mais de R$ 2 milhões para os caras”, registra transcrição de um dos diálogos.

Codorna, apontado como braço direito de Andinho no comando do tráfico na Favela São Fernando, acabou sequestrado, em 11 de abril, em casa. Segundo a investigação, os policiais levaram como reféns sua mulher, uma filha de cinco anos e a cunhada com a filha de quatro anos. Os agentes acusados atuavam na 3ª Delegacia da Divisão Especial de Apoio, do Denarc.

sábado, 20 de julho de 2013

POSTURA ERRADA DA TROPA É CULPA DA SITUAÇÃO ANORMAL

JORNAL DO BRASIL 18/07 às 18h19


Porta-voz da PM diz que erros dos policiais com escudos é pela situação anormal na cidade

Cláudia Freitas



Ás vésperas de um dos maiores eventos internacionais promovidos no Rio de Janeiro, a atuação do Batalhão de Choque da Policia Militar do Estado mobiliza a atenção da população carioca e da opinião pública, repercutindo em outros estados e fora do país. Na reunião convocada às pressas pelo governador do Estado, Sérgio Cabral (PMBD), com a cúpula da Segurança, teve como ponto chave o planejamento estratégico de policiamento e ação da PM no protesto realizado na noite desta quarta (17/07). 

A manifestação se estendeu pela madrugada, com cenas de vandalismo por dois bairros da Zona Sul da cidade, Leblon e Ipanema, que amanheceram num cenário de guerra: caixas eletrônicos, lojas, sinalizações destruídos e nem as calçadas escaparam dos criminosos. Segundo a polícia, cerca de 500 pedras portuguesas foram arrancadas e arremessadas contra os PMs, deixando cinco deles feridos.

Batalhão de Choque atuando na manifestação no RioNa reunião com a cúpula da Segurança, o comandante da Policia Militar, Erir da Costa Filho, explicou como ocorre o treinamento dos policiais do Batalhão de Choque. “Esses policiais receberam instruções da polícia francesa, num curso específico conhecido como Controle de Distúrbios Civis”, contou Erir. Segundo o porta voz da PMERJ, coronel Frederico Caldas, o contingente de policiais do Choque que atuaram em todos nos protestos no Rio, passaram pelo curso de Controle de Distúrbios Civis (CDC).

O ex-corregedor da PM, coronel reformado Paulo Ricardo Paúl, considera o curso de Controle de Distúrbios Civis de suma importância para a formação do policial que vai atuar na “Tropa de Elite”. “O policial antes de ingressar na tropa, tem que passar por esse treinamento específico. Ele é obrigatório e prepara o profissional”, afirma Paúl. Avaliando as imagens dos últimos protestos que tomaram as ruas da cidade, Paúl acredita que alguns homens da tropa de elite não estão preparados para esse tipo de missão e deveriam passar novamente pelo curso de capacitação. “Uma característica básica da tropa de Choque que preserva o policial e o manifestante diz respeito à posição do escudo, que deve ficar alinhado, com os agentes firmes, um ao lado do outro. Nas manifestações do Rio, tem até policial correndo isoladamente atrás de vândalo, sem a mínima postura preventiva. A ação isolada pode resultar no confronto violento entre policial e manifestante, o que não é bom para ambos”, detalha Paúl.

Alinhamento da tropa demonstra preparo do Batalhão de ChoqueSegundo o ex-corregedor, o treinamento do Batalhão de Choque geralmente prepara o agente para trabalhar em conflitos menos representativos, como aqueles que ocorrem em estádios de futebol ou pequenos atos. “O que o Rio esta vivenciando requer um treinamento que vai muito além daquele promovido pela nossa PM. Isso precisa ser revisto com urgência. As atuais manifestações estão mobilizando um número muito grande de pessoas, sem liderança definida e são completamente diferentes dos conflitos em estádios. A abordagem difere. A tropa escalada para atuar nesses atos está visivelmente despreparada”, afirma Paúl.

O porta voz da PM, o coronel Frederico Caldas, afirmou que todos os homens escalados para atuar nas manifestações são preparados e passaram pelo curso de CDC. No entanto, ele confirma que a postura dos policiais que estão na linha de frente de ação, carregando os escudos, deveria manter um alinhamento o tempo inteiro. Frederico disse que normalmente o alinhamento é mantido, mas justifica que a atitude de alguns policiais do Choque flagrados em ações isoladas e portando o escudo, é em função “dessa situação anormal que estamos passando”. 

Nesta quarta (17/07) o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Costa Filho, anunciou que vai afastar um policial do Batalhão de Choque por abuso de força em uma das manifestações. O nome do policial está mantido em sigilo. Erir Costa Filho determinou que os policiais militares reduzam o uso de bombas de gás lacrimogêneo na ação de dispersão dos manifestantes solicitou que a corregedoria da corporação identifique, pela escala de plantão, quem cometeu excessos nas manifestações.


Material e comentário de

Jose Aparecida de Castro Macedo


Bengochea

Envio esta reportagem do Jornal do Brasil sobre a reunião da cúpula da Seg Pub do Rio de Janeiro. É contraditório o que dizem os Ofs da PM. A impressão que tenho é que abandonaram as instruções dos quadros, o preparo da tropa bem como Tática PM. Na última manifestação em Porto Alegre, a BM deu uma demonstração de Tática PM, operacional, que considerei excelente. Fala quem foi instrutor dois anos de Tát PM para o antigo CAO, Macedo

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É lamentável o reconhecimento do despreparo da PMRJ nas táticas de controle de distúrbios. E falo isto de cadeira, pois tenho curso de Operações rurais e urbanas. O isolamento de frações pequenas, a indisciplina tática e a falta de unidade de comando foram alguns dos erros cometidos. Esta questão deveria ser tratada em ambiente interno para não revelar fraqueza diante das críticas contundentes que as PM em todo o Brasil estão recebendo. Além disto se submeteram à decisão política quando atenderam o pedido de tirar dos policiais equipamentos de contenção de tumultos, decisão que, tenho certeza, desmotivaram a tropa.

A propósito: Para que criar uma força tarefa para investigar os grupos de vândalos, ladrões e terroristas, se existe a polícia investigativa, preparada e capacitada para esta tarefa? 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

DENARC SERÁ REESTRUTURADO PARA AUMENTAR FISCALIZAÇÃO DE POLICIAIS

R7 - 19/7/2013 

Reestruturação do Denarc vai aumentar fiscalização de policiais, diz diretor. Departamento passa por mudanças após operação que prendeu investigadores e delegados

Fernando Mellis, do R7



Secretário de Segurança Pública anunciou, na quarta-feira (17), mudanças no DenarcClayton de Souza/Estadão Conteúdo – 15/7/2013

As mudanças que o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos) deverá passar, após a operação que prendeu policiais por envolvimento com o tráfico de drogas no começo desta semana, deverão incluir mais rigor na fiscalização do trabalho dos agentes. O diretor do departamento, Marco Antonio Pereira Novaes de Paula, falou ao R7 que a reestruturação está sendo feita para “não ter possibilidade de se repetirem os fatos”.

— O objetivo é controlar, é fiscalizar. Problemas com órgãos de investigação de narcóticos são no mundo inteiro. Tem muito dinheiro em jogo. Então, é muito difícil de controlar. A única forma é evitando as brechas, impedindo as possibilidades. É nesse sentido que tem que caminhar essa reestruturação.

Uma das possibilidades estudadas é limitar o poder de investigação do departamento apenas para a área da capital paulista. No entanto, o diretor do Denarc disse que ainda não é certo que isso será feito e que “só essa medida não resolve nada”.

— Se o cara [policial] quiser fazer errado, ele faz no interior, na capital, na macro São Paulo.

A reestruturação do Denarc foi anunciada na quarta-feira (17) pelo secretário de Segurança Pública, Fernando Vieira Grella, após reunião com o governador Geraldo Alckmin. As mudanças, de acordo com ele, serão comunicadas em dez dias.

A operação

A Corregedoria da Polícia Civil e o MP-SP (Ministério Público de São Paulo) desarticularam a quadrilha de policiais do Denarc suspeitos de roubo, corrupção e extorsão mediante sequestro. As investigações indicaram que os agentes recebiam propina de até R$ 300 mil de traficantes de drogas na capital e na região de Campinas.

O promotor José Tadeu Baglio ouviu na quarta-feira os depoimentos de dois delegados envolvidos no esquema, Clemente Castilhone Júnior, da Unidade de Investigações, e Fábio Amaral de Alcântara, da 3ª Delegacia de Apoio.

— Os depoimentos aumentaram as convicções do Ministério Público de que houve vazamento de informações no Denarc.

Castilhone Júnior e Alcântara teriam fornecido informações a traficantes sobre a invasão da favela do São Fernando — um dos principais pontos de venda de drogas de Campinas, comandado por Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, que está preso em Presidente Venceslau. Os dois negaram que passaram detalhes da operação policial a criminosos.

Outros dois policiais do 10º Distrito Policial de Campinas também foram chamados para depor, mas ficaram calados. O advogado Ralph Tórtima Sttetinger Filho questionou a validade do depoimento de Andinho usado para incriminar os agentes.

— É a palavra de um delator traficante contra policiais com histórico de combate ao tráfico.

Prisões

A Justiça concedeu, na noite de quinta-feira (18), liberdade ao delegado Clemente Castilhone Júnior. Com isso, oito policiais permaneciam presos por suspeita de envolvimento no esquema criminoso, incluindo o outro delegado. Quatro agentes continuavam foragidos.

POLICIAIS RECLAMAM DA NECESSIDADE DOS BICOS

REDE BOM DIA 18/07/2013 07:20

Cidades querem mais PMs, mas eles afirmam serem obrigados a recorrer a dupla jornada de trabalho

MARCELO MELO


No dia em que o secretario estadual de Segurança, Fernando Grella, estará reunido com os prefeitos do ABCD para ouvir solicitações como o aumento de efetivo da corporação, os policiais que já trabalham na região possuem reclamações bem diferentes. Segundo PMs ouvidos pelo BOM DIA, os chamados bicos se tornaram essenciais, o que acarreta uma rotina ainda mais pesada do que o exercício da função.

“Sou casado e tenho três filhos, o salário que recebo não é o suficiente para pagar todas as contas e dar uma boa educação para as crianças”, afirmou um soldado da PM de São Bernardo, que também trabalha como segurança em uma casa noturna da cidade e que preferiu não se identificar.

Outro policial com cerca de dois anos de serviços prestados em Santo André, também relatou a mesma dificuldade de seu colega, ao criticar o plano de carreira da polícia. “Sei da necessidade de experiência para subir de cargo, mas tudo depende de concursos. Não tenho tempo para me preparar se trabalho sempre em outros lugares”, relatou.

Insegurança/ Outro ponto repassado pelos policiais além do cansaço provocado pela dupla rotina de trabalho é o risco constante de se trabalhar em bares e danceterias, como segurança.

“Normalmente, arranjamos este tipo de trabalho, o que nos expõe a encontrar com algum criminoso que já prendemos o que só aumenta o nosso stress”, relatou um dos PMs entrevistados.

Programa pode aumentar salário em mais de 50%

A reclamação dos policiais faz referência à falta do programa Atividade Delegada nas cidades do ABCD, iniciativa que estabelece convênio entre as prefeituras e a SSP (Secretaria de Segurança Pública), com o objetivo de que os PM´s possam auxiliar o município em suas horas de folga, por no máximo 12 dias por mês, com carga horária de até oito horas, o que, segundo a SSP, pode incrementar em até R$1.200 o salário dos policiais, que inicialmente gira em torno de R$2.200.

A preferência, no entanto, por investimentos na Guarda Civil Municipal é um dos principais motivos da não implantação do programa nas cidades da região. O item fará parte da conversa.

BANDIDO AO QUADRADO

ZERO HORA 18/07/2013 - 03h30


Editorial


Depois de uma operação para prender delegados e investigadores da Polícia Civil, acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, anunciou que o Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) passará por uma reestruturação. Já não era sem tempo.

É conhecida a capacidade do narcotráfico de corromper agentes da lei. Policiais que trabalham no combate direto a esse tipo de crime são alvos permanentes de tentativas de suborno --muitas vezes bem-sucedidas.

Não são raros, também, os casos em que a ocasião --confirmando o dito popular-- faz o ladrão. O desvio de drogas apreendidas é uma prática ilícita verificada em polícias de várias partes do mundo.

No caso do Denarc, vêm de longe os sinais de que parte da corporação deixou-se capturar pelo crime organizado. Apenas neste ano, nos meses de fevereiro e março, a Polícia Federal prendeu sete policiais ligados ao departamento, sob acusação de desviar entorpecentes.

Os problemas, na realidade, se estendem de maneira preocupante a outras áreas da Polícia Civil. Não é demais lembrar que desde 2009 pelo menos 800 dos cerca de 3.300 delegados paulistas passaram ou ainda passam por investigações da corregedoria.

O governador Geraldo Alckmin apoiou com vigor a investigação de corrupção no Denarc. Prometeu "tolerância zero" com desvios, lançou a fórmula "polícia aliado de bandido é bandido ao quadrado" e anunciou o tratamento aos infratores: "Xadrez neles".

Ainda que se possa ver um aspecto propagandístico no pronunciamento, constitui sinalização inequívoca de apoio a um processo de "limpeza" da polícia. Identificar corruptos e puni-los é, sem dúvida, o caminho a seguir --embora a experiência sugira que se trata de um típico caso em que falar é muito mais fácil do que fazer.

Além de combater maus policiais, o governo precisa impor novas rotinas. No que tange à investigação, é sobretudo a logística do tráfico que precisa ser visada e golpeada, com a identificação das rotas, dos locais de entrega, dos esquemas de distribuição e dos caminhos da lavagem do dinheiro.

É necessário também, como ocorre em outros países, que policiais destacados para enfrentar o narcotráfico sejam objeto de permanente supervisão e periódica checagem de sinais de riqueza incompatível com os rendimentos.

A prometida reforma do Denarc é uma chance para o governador mostrar que a disposição de melhorar a segurança pública vai além da retórica e de ações pontuais.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

DELEGADOS DO DENARC DEPÕEM E DOIS SE ENTREGAM

O ESTADO DE S.PAULO,  17 de julho de 2013 | 20h 40


RICARDO BRANDT E RENE MOREIRA, ESPECIAL PARA A AE - Agência Estado


O Ministério Público Estadual (MPE) ouviu nesta quarta-feira os depoimentos dos dois delegados do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), Clemente Castilhone Júnior, da Unidade de Investigações, e Fábio Amaral de Alcântara, da 3.ª Delegacia de Apoio, presos nesta segunda-feira, 15. Nesta quarta-feira, dois policiais do órgão, Gilson Iwamizu dos Santos e Jandre Gomes de Souza, se entregaram - quatro ainda estão foragidos e já são nove os presos por envolvimento com o tráfico.

Castilhone e Alcântara são suspeitos de vazar informações sobre uma operação contra agentes que teriam envolvimento com um esquema de cobrança de propinas e extorsão de traficantes de Campinas. "Os depoimentos aumentaram as convicções do Ministério Público de que houve vazamento de informações no Denarc", disse o promotor José Tadeu Baglio.

Os policiais teriam informado traficantes sobre a invasão da Favela do São Fernando, principal ponto de venda de drogas de Campinas, que é comandado pelo sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, de dentro da Penitenciária de Presidente Venceslau. Os delegados, porém, não admitiram que foram os responsáveis pelo vazamento.

Também foram convocados dois policiais do 10.º Distrito Policial de Campinas, Renato Peixeiro Pinto e Mark de Castro Pestana. Acusados de receber propina de traficantes, os agentes ficaram calados. "É a palavra de um delator traficante contra policiais com histórico de combate ao tráfico", disse o advogado Ralph Tórtima Sttetinger Filho. Mais crimes. Um sargento e dois soldados da Polícia Militar foram presos com outros dois homens em Taquaritinga, interior de São Paulo, sob a acusação de envolvimento com o tráfico de drogas na cidade.

Uma investigação do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) do MPE, com escutas telefônicas, apontou que eles atuavam em parceria com um distribuidor de entorpecentes. As investigações começaram há dois meses. Um tenente da PM e um traficante já haviam sido presos, no fim de maio, por ter montado o esquema criminoso. O oficial seria o responsável por levar droga apreendida a traficantes.

POLÍCIA ARGUMENTA QUE NÃO PODE MANTER VÂNDALOS PRESOS PORQUE A LEI NÃO PERMITE

Após vandalismo na Zona Sul, PM vai repensar atuação em protestos. Cúpula de Segurança acredita que pacto com entidades falhou. Beltrame diz que planejamento para visita do Papa está pronto. Comandante da PM defende uso de gás lacrimogêneo para conter vândalos

O GLOBO
Atualizado:18/07/13 - 12h28

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha; e o comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho após reunião da Cúpula de Segurança do estado Marcos Tristão / Agência O Globo


RIO - A Polícia Militar informou nesta quinta-feira, após reunião de emergência convocada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, que vai repensar as estratégias de atuação em manifestações depois do tumulto provocado por vândalos no protesto desta quarta-feira na Zona Sul. Na avaliação da Cúpula de Segurança do estado, o pacto com organizações não-governamentais como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Anistia Internacional e entidades de direitos humanos não deu certo. Segundo o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, o planejamento da polícia para atuação em protestos terá de ser refeito.

— Vamos analisar criteriosamente o que aconteceu ontem (quarta-feira), refazer o planejamento para uma próxima manifestação, analisar as medidas que não foram aplicadas e executá-las num novo protesto. Temos que pensar no que vai acontecer daqui pra frente — disse o secretário.

Ainda durante a entrevista coletiva, Beltrame afirmou que planejamento para a visita do Papa Francisco está pronto. O Pontífice chega ao Rio na segunda-feira para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada entre os dias 23 e 28 deste mês. O secretário de Segurança disse ainda que não tem informações de protestos marcados para o período da visita do Papa.

— Ele tem um protocolo. A agenda está em discussão do governo federal com o Vaticano. A gente sabe o que vai acontecer na agenda desta autoridade. A questão da manifestação é diferente, a PM está se adaptando, porque não há uma agenda coordenada. A gente está atento, mas tem que ver quando vai acontecer, se isso vai acontecer, porque a gente não tem esta informação — disse o secretário.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, afirmou que houve dificuldade em conter os vândalos que destruíram lojas, bancos e equipamentos públicos no Leblon e Ipanema na noite desta quarta-feira. Segundo ele, a falta de liderança, característica das manifestações que vêm sendo realizadas desde o mês passado, é um fator novo que a PM não estava preparada para lidar.

— Vimos ontem (quarta-feira) que houve dificuldades. Vamos repensar nossa estratégia para voltarmos a atuar como antes. Não sabemos quem está por trás disso tudo, tem muita gente perdida, mas nós não estamos perdidos. E se a PM não estiver ali, é anarquia — afirmou o comandante.

No início da tarde desta quinta-feira, o governador Sérgio Cabral divulgou uma nova nota sobre os atos de vandalismo. No comunicado ele chama o ocorrido de afronta, e reafirma sua posição de garantir o direito de ir e vir através das forças de Segurança Pública.

"Os atos de vandalismo na madrugada de ontem nos bairros do Leblon e de Ipanema são uma afronta ao Estado Democrático de Direito. O Governo do Estado reitera a sua posição de garantir, através das forças de Segurança Pública, não só o direito à livre manifestação, como também o direito de ir e vir e à proteção ao patrimônio público e privado."

Comandante da PM defende uso de gás lacrimogêneo

Na terça-feira, a PM havia dito que o uso de gás lacrimogêneo seria reduzido em manifestações. Segundo o coronel Erir Ribeiro, que defendeu o uso do equipamento, a medida prejudicou a ação da PM no protesto desta quarta-feira.

— O gás que todo mundo reclama é o menos letal. Serve pra dispensar os vândalos. Na ação de ontem (quarta-feira), a falta de uso de gás prejudicou a operação — disse o coronel.

Durante a entrevista coletiva após a reunião de emergência convocada pelo governador Sérgio Cabral, a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha, foi questionada sobre a quantidade de presos. Segundo a delegada, a polícia não pode manter os vândalos presos porque a lei não permite.

— A Polícia Civil não parou de trabalhar, mas tenho que seguir o que determina a lei. Alguns vândalos foram presos por formação de quadrilha, mas o crime é afiançável. Identificamos 16 pessoas por incitação à violência desde o início das manifestações, só que ninguém pode ficar detido por isso. Além do mais, o crime de dano ao patrimônio depende de representação, ou seja, de que as vítimas se manifestem — disse Martha Rocha, acrescentando que há três medidas cautelares em andamento, mas que dependem da apreciação da Justiça e do Ministério Público.

A polícia identificou nove pessoas suspeitas de participar de atos de vandalismo na noite desta quarta-feira nas ruas do Leblon e Ipanema. Elas foram detidas por incitação à violência, mas liberadas em seguida. Equipes da 14ª DP (Leblon) percorrem, na manhã desta quinta-feira, ruas do bairro em busca de imagens que possam identificar outros suspeitos. Além disso, os policiais fotogafram os estabelecimentos que foram depredados e orientam os proprietários a prestar queixa de crime de dano ao patrimônio.

— A polícia está trabalhando, mas tem o limite controlado pela lei. Eu não posso fazer milagre — afirmou a delegada Martha Rocha.

O encontro de emergência no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, aconteceu após protestos violentos nas ruas da cidade. Na noite desta quarta-feira, depois de uma manifestação pacífica perto da residência do governador, grupos atearam fogo em barricadas de lixo na Ataulfo de Paiva e na Visconde de Pirajá, saquearam lojas e depredaram bancos. A ação de vândalos deixou um rastro de destruição nos bairros do Leblon e Ipanema após confronto entre manifestantes e policiais.

Governador acusa adversários políticos

O governador Sérgio Cabral (PMDB) acusa seus adversários políticos de serem os responsáveis pelos protestos na sua vizinhança, no Leblon. Segundo ele, há uma tentativa de seus opositores de antecipar o calendário eleitoral. A acusação, no entanto, foi rebatida por possíveis concorrentes à eleição em 2014. O vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) é o nome apoiado por Cabral para a sucessão no Palácio Guanabara.

Um grupo chegou a ficar acampado na esquina de Cabral e foi retirado pela Polícia Militar no último dia 2. Dois dias depois, um novo protesto no mesmo local terminou em confronto entre manifestantes e a polícia, que usou bombas de gás lacrimogêneo. Provável candidato do PR ao governo do Rio, o deputado federal Anthony Garotinho disse que a atitude de Cabral de atribuir as manifestações à oposição é “um devaneio” e “um delírio”:

O vereador Cesar Maia, que deve ser candidato pelo DEM, afirmou que o governador ainda não entendeu nada da dinâmica das redes sociais:

Pré-candidato do PT à sucessão no Palácio Guanabara, o senador Lindbergh Farias não quis comentar a declaração do governador. A pré-candidatura de Lindbergh abriu uma crise entre PT e PMDB. Os peemedebistas querem a manutenção da aliança nacional e pressionam para que o senador desista de concorrer ao posto para apoiar Pezão. Com a estratégia de se preservar, Lindbergh tem delegado a outros aliados a missão de falar por ele.





Postado por Jorge Bengochea às 10:26



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PM DO RIO PAROU DE ENSINAR COMO LIDAR COM DISTÚRBIOS CIVIS

JORNAL AGORA - 18-07-2013 - 12h00min

Polícia Militar do Rio parou, há cinco anos, de orientar policiais a lidar com distúrbios civis

Por Agência Brasil

O comandante da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro, disse hoje (18) que a instituição retirou do currículo da formação de policiais, há cinco anos, a disciplina que os ensinava a lidar com o controle de distúrbios civis. Segundo o comandante, apesar disso, o Batalhão de Choque, unidade especializada neste tipo de ocorrência, continua a ser treinada.

O comandante e o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmaram hoje que a polícia ainda não sabe muito bem como lidar com as manifestações que estão ocorrendo no Rio de Janeiro, que começam pacíficas e, depois, transformaram-se em atos de vandalismo, violência e roubo.

“Trata-se de uma turba, de ações difíceis, complexas, em que por vezes colocam a polícia entre a prevaricação e abuso de autoridade. A solução é intermediária. O problema é que se busca essa solução em meio a um cenário de caos. [Há] que ter discernimento em cada detenção. Estamos aprendendo nesse processo. São 30 dias de manifestações com coisas como coquetéis molotov, pessoas mascaradas, estilingues incendiários e pedras portuguesas arremessadas contra policiais. Não há planejamento rígido. Não existe protocolo no mundo para atuar com turba”, disse o secretário Beltrame.

Durante entrevista à imprensa, hoje, o comandante da Polícia Militar disse que a instituição vai voltar a usar armas não letais como balas de borracha e gás lacrimogêneo. Segundo ele, um acordo feito com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e instituições como a Anistia Internacional, para que a polícia evitasse usar essas armas, não deu certo.

O presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, disse que o problema não é esse, mas sim que há a ausência da polícia para evitar os atos violentos, como saques e depredações.



ARSENAL DE GUERRA

ZERO HORA 18 de julho de 2013 | N° 17495

OFENSIVA ANTIDROGA

Operação apreende arsenal de guerra




Adquirido por um traficante, um arsenal de guerra foi encontrado enterrado no Morro da Cruz, em Porto Alegre. Entre as armas apreendidas em operação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), na noite de terça-feira, estava um fuzil M4, de fabricação americana.

Enrolados em lençóis, foram encontrados outros dois fuzis, ambos de calibre 7.62mm.

– Quando abrimos o buraco e desembrulhamos as armas, os policiais chegaram a levar um susto – contou o delegado Mario Souza.

Teria sido a primeira apreensão de um M4 calibre 5.56mm – arma usada na guerra do Iraque – no Estado.

– Nunca tinha visto um desses – ressaltou o delegado Heliomar Franco, diretor de investigações do Denarc.

A surpresa também se deve pelo fato de que fuzis são mais facilmente encontrados nas mãos de assaltantes de bancos ou de carros-fortes. Desde janeiro, o foco da investigação era monitorar grandes carregamentos de drogas que abastecem quadrilhas da Capital. Nesta semana, os policiais descobriram que um traficante teria comprado armas. Com um mandado de busca e apreensão, os agentes se dirigiram até o topo do morro, num terreno onde havia três casas. Após revistá-las, os policiais foram até o pátio, onde encontraram a terra remexida.

– Essas armas são de guerra urbana. Ou estão se armando para uma tomada de bocas ou para enfrentar outros grupos ou, até mesmo, a polícia – afirmou Souza.

Um homem de 24 anos foi preso e levado ao Presídio Central. Os policiais apuram a relação dele com o armamento. Descobrir a procedência do M4 é um dos próximos passos. Na América Latina, apenas o Brasil, o Equador e a Colômbia adquiriram a arma. Como a numeração não foi raspada, será possível rastreá-lo.

CAROLINA ROCHA

PROFISSÃO DE RISCO

ZERO HORA 18 de julho de 2013 | N° 17495


Policial é baleado em perseguição


Uma perseguição em Parobé, no Vale do Paranhana, acabou com um policial militar ferido a tiro. Rovani Márcio Scariot foi baleado na noite de terça-feira. Ontem, o soldado foi operado. 

Segundo a Brigada Militar, por volta das 21h, uma viatura teria abordado um Sandero, de cor prata, na Rua Adaviano Linden. Os ocupantes do veículo teriam fugido e disparado contra a polícia. Um dos disparos atingiu o pescoço de Scariot, que foi encaminhado ao Hospital São Francisco de Assis.

Uma hora depois, o policial foi transferido ao Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre. Até as 18h de ontem, o paciente estava na UTI em estado regular.

A VERDADE, QUEM A TEM?

18 de julho de 2013 09:25

Dílson Bressan

Trecho do artigo que escrevi em 2010. Não mudou nada.

"A verdade quem a tem"

Dílson Bressan

... Nos últimos tempos, temos encontrado, por todo o lado e em qualquer veículo da imprensa, os “especialistas em segurança pública”, pessoas que embora nunca tenham entrado em uma viatura policial ou participado do atendimento de uma ocorrência ou viram alguém planejando o emprego de policial em área potencialmente perigosa, falam e posicionam-se como os verdadeiros donos da verdade. Se for político, então, aí sim, além de ser o dono da verdade, irá resolver todos os problemas de segurança com idéias mirabolantes que só ele será capaz de por em prática. 

Nunca, até hoje, vi um deles falar sobre o Policial, a figura humana do Policial, aquele que vai atrás do bandido. Aquele que coloca a sua vida em risco. Ou então aquele que passa horas, dias, procurando dados, fatores e circunstancias que possam orientar um melhor emprego com beneficio garantido, sem risco para os envolvidos. 

Nunca vi falarem sobre os salários miseravelmente baixos que recebem os Policiais Militares. Outros até chegam a dizer que a solução para a melhoria do estado de segurança é a colocação de câmeras de monitoramento em todas as ruas. 

Dizem orgulhosos, que assim que o cidadão for assaltado ou molestado, imediatamente, a central de monitoramento verá quem foi. Mas não dizem quem irá socorrer a vítima e como isso será feito. Outros dizem que vão colocar, na central, um equipamento que será capaz de detectar em que ponto da cidade e quando uma arma der um tiro e até qual o calibre que matou a vitima. 

Sinceramente para que isso servirá se o importante é que não haja o tiro e que ninguém morra. Como essas questões serão resolvidas? Não sei. Qual verdade será usada? 

O povo quer que seja através do policial. O povo quer o policial junto de si, dando-lhe a sensação de segurança...

ANISTIA CRITICA VIOLÊNCIA DA PM EM MANIFESTAÇÃO E ACENDE DISCUSSÃO SOBRE O TEMA



Polícia diz que está investigando grupo de vândalos que age no Rio

LETICIA FERNANDES
SÉRGIO RAMALHO
O GLOBO
Atualizado:12/07/13 - 23h41


Sequência de imagens feitas durante manifestação no Palácio Guanabara, na quinta-feira. Na imagem, um manifestante é atingido por gás de pimenta por PM após discussão Pedro Kirilos / O Globo


RIO - A reação da Anistia Internacional às imagens de confrontos que transformaram em praça de guerra as cercanias do Palácio Guanabara, sede do governo do estado, em Laranjeiras, levantou uma discussão sobre a atuação da PM nos protestos ocorridos no Rio. Em nota, o diretor executivo da instituição, Átila Roque, definiu a reação da polícia como “violenta e excessiva”. Ele disse ainda que a polícia “atuou, mais uma vez, movida apenas pelo desejo de reprimir os manifestantes, com uso absolutamente abusivo e desproporcional da força”.

No texto, o representante da Anistia Internacional no Brasil disse ter visto a polícia perseguir pessoas pelas ruas de Laranjeiras e Flamengo, encurralar grupos, atacar hospitais e bares com balas de borracha e gás lacrimogêneo. “Algo inacreditável”. As ações violentas desencadeadas por pequenos grupos, somadas ao forte revide da polícia, acabam trazendo sempre o mesmo resultado: confronto e depredação do patrimônio público, sem que se faça uma distinção entre os manifestantes.

— Há diferentes grupos violentos, os pré-políticos, que não têm propostas, e os políticos, que realmente defendem um confronto com o Estado. O primeiro é o indivíduo psicologicamente perturbado que age envolvido pela multidão, e isso ocorre em qualquer tipo de aglomeração social. Há os anarquistas, dos quais fariam parte os Black Blocs, que consideram o Estado opressor, e por isso têm a necessidade de marcar um conflito. Esse grupo tem um comportamento mais teatral. Mas são motivos políticos; essas pessoas não são loucas — explica Manuel Sanches, professor do IFCS.

Nos confrontos registrados no Centro na noite de quinta-feira, foram encontrados com um grupo caixas com coquetéis molotov. Manifestantes se dividem sobre o tema da violência em protestos. Para Pablo Mendelbaum, um dos criadores do evento no Facebook “Impeachment Sérgio Cabral, improbidade administrativa e violência policial”, o uso da violência por civis é uma reação à truculência policial:

— A partir do momento em que vou a uma manifestação pacífica e recebo violência do Estado, a reação é uma ação de legítima defesa. Quando não há diálogo, não há o que fazer. A gente não tem canal com a polícia, não há retorno, não há investigação sobre abusos. Como cobrar que sejamos pacíficos quando o estado, que tem o monopólio da violência, não investiga?

De acordo com a polícia, no entanto, as ações violentas são sempre desencadeadas por um grupo infiltrado entre os manifestantes pacíficos.

A tradutora Natasha Zadorosny, que participou de grande parte dos protestos em junho, o uso da violência faz com que os manifestantes percam a razão:

— Defendo uma manifestação completamente pacífica, fiquei apavorada no protesto de segunda (17/06) quando picharam o Paço Imperial. Doeu de ver. A grande força é o volume de pessoas nas ruas.



Cabral critica excessos

Nesta sexta-feira, o governador Sérgio Cabral disse que tanto a violência da polícia quanto a dos manifestantes deve ser rejeitada:

— Não é assim que se faz oposição, não é atacando palácios, é debatendo. Essa oposição que veio para cá ontem (quinta-feira) não respeita o jogo democrático, o debate, o diálogo.

De acordo com a Polícia Militar, 46 pessoas foram detidas nos protestos de anteontem. A Polícia Civil informou que o grupo Black Blocs e outras pessoas estão sendo investigadas.

— Sou radicalmente contra a violência. Movimentos pacíficos têm o poder e vigor de pressionar os governos. Essa violência tem aparecido de forma proposital, são grupos organizados. Isso desperta um pavor nas pessoas. Nunca vimos lojas e bancos fecharem, colocarem tapumes. Nem os anarquistas fariam isso, eles sempre mostraram a cara — disse Darby Igayara, presidente da CUT-RJ.

Muitos PMs estavam sem etiquetas nas fardas

A imagem de PMs sem as etiquetas de identificação nas fardas, durante os confrontos na noite de quinta-feira à frente do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, tomou projeção nesta sexta-feira nas redes sociais. A estratégia para dificultar a identificação e a desmedida ação dos policiais, que chegaram a jogar bombas de gás lacrimogêneo em bares e restaurantes na Praça São Salvador, localizada nas cercanias da sede do governo estadual, foram desproporcionais à ação de alguns vândalos infiltrados no protesto pacífico, na opinião do diretor executivo da Anistia Internacional, Atila Roque.

Integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ também criticaram a atitude truculenta adotada por alguns policiais, que teriam retirado das fardas os nomes de guerra. A estratégia, segundo advogados, teria como objetivo dificultar a identificação dos policiais envolvidos em excessos contra os manifestantes. Na noite da última quinta-feira, nem moradores das ruas adjacentes à Praça São Salvador foram poupados pelos policiais.

Morador do bairro há 30 anos, um engenheiro que pediu para não ser identificado, temendo represálias dos policiais, afirma que estava jantando com os filhos em um dos restaurantes da localidade, quando PMs do Batalhão de Choque passaram lançando bombas de gás lacrimogêneo na praça. Ele afirma que os policiais simplesmente ignoraram o fato de que havia crianças no local.