Polícia diz que está investigando grupo de vândalos que age no Rio
LETICIA FERNANDES
SÉRGIO RAMALHO
O GLOBO
Atualizado:12/07/13 - 23h41
Sequência de imagens feitas durante manifestação no Palácio Guanabara, na quinta-feira. Na imagem, um manifestante é atingido por gás de pimenta por PM após discussão Pedro Kirilos / O Globo
RIO - A reação da Anistia Internacional às imagens de confrontos que transformaram em praça de guerra as cercanias do Palácio Guanabara, sede do governo do estado, em Laranjeiras, levantou uma discussão sobre a atuação da PM nos protestos ocorridos no Rio. Em nota, o diretor executivo da instituição, Átila Roque, definiu a reação da polícia como “violenta e excessiva”. Ele disse ainda que a polícia “atuou, mais uma vez, movida apenas pelo desejo de reprimir os manifestantes, com uso absolutamente abusivo e desproporcional da força”.
No texto, o representante da Anistia Internacional no Brasil disse ter visto a polícia perseguir pessoas pelas ruas de Laranjeiras e Flamengo, encurralar grupos, atacar hospitais e bares com balas de borracha e gás lacrimogêneo. “Algo inacreditável”. As ações violentas desencadeadas por pequenos grupos, somadas ao forte revide da polícia, acabam trazendo sempre o mesmo resultado: confronto e depredação do patrimônio público, sem que se faça uma distinção entre os manifestantes.
— Há diferentes grupos violentos, os pré-políticos, que não têm propostas, e os políticos, que realmente defendem um confronto com o Estado. O primeiro é o indivíduo psicologicamente perturbado que age envolvido pela multidão, e isso ocorre em qualquer tipo de aglomeração social. Há os anarquistas, dos quais fariam parte os Black Blocs, que consideram o Estado opressor, e por isso têm a necessidade de marcar um conflito. Esse grupo tem um comportamento mais teatral. Mas são motivos políticos; essas pessoas não são loucas — explica Manuel Sanches, professor do IFCS.
Nos confrontos registrados no Centro na noite de quinta-feira, foram encontrados com um grupo caixas com coquetéis molotov. Manifestantes se dividem sobre o tema da violência em protestos. Para Pablo Mendelbaum, um dos criadores do evento no Facebook “Impeachment Sérgio Cabral, improbidade administrativa e violência policial”, o uso da violência por civis é uma reação à truculência policial:
— A partir do momento em que vou a uma manifestação pacífica e recebo violência do Estado, a reação é uma ação de legítima defesa. Quando não há diálogo, não há o que fazer. A gente não tem canal com a polícia, não há retorno, não há investigação sobre abusos. Como cobrar que sejamos pacíficos quando o estado, que tem o monopólio da violência, não investiga?
De acordo com a polícia, no entanto, as ações violentas são sempre desencadeadas por um grupo infiltrado entre os manifestantes pacíficos.
A tradutora Natasha Zadorosny, que participou de grande parte dos protestos em junho, o uso da violência faz com que os manifestantes percam a razão:
— Defendo uma manifestação completamente pacífica, fiquei apavorada no protesto de segunda (17/06) quando picharam o Paço Imperial. Doeu de ver. A grande força é o volume de pessoas nas ruas.
Cabral critica excessos
Nesta sexta-feira, o governador Sérgio Cabral disse que tanto a violência da polícia quanto a dos manifestantes deve ser rejeitada:
— Não é assim que se faz oposição, não é atacando palácios, é debatendo. Essa oposição que veio para cá ontem (quinta-feira) não respeita o jogo democrático, o debate, o diálogo.
De acordo com a Polícia Militar, 46 pessoas foram detidas nos protestos de anteontem. A Polícia Civil informou que o grupo Black Blocs e outras pessoas estão sendo investigadas.
— Sou radicalmente contra a violência. Movimentos pacíficos têm o poder e vigor de pressionar os governos. Essa violência tem aparecido de forma proposital, são grupos organizados. Isso desperta um pavor nas pessoas. Nunca vimos lojas e bancos fecharem, colocarem tapumes. Nem os anarquistas fariam isso, eles sempre mostraram a cara — disse Darby Igayara, presidente da CUT-RJ.
Muitos PMs estavam sem etiquetas nas fardas
A imagem de PMs sem as etiquetas de identificação nas fardas, durante os confrontos na noite de quinta-feira à frente do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, tomou projeção nesta sexta-feira nas redes sociais. A estratégia para dificultar a identificação e a desmedida ação dos policiais, que chegaram a jogar bombas de gás lacrimogêneo em bares e restaurantes na Praça São Salvador, localizada nas cercanias da sede do governo estadual, foram desproporcionais à ação de alguns vândalos infiltrados no protesto pacífico, na opinião do diretor executivo da Anistia Internacional, Atila Roque.
Integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ também criticaram a atitude truculenta adotada por alguns policiais, que teriam retirado das fardas os nomes de guerra. A estratégia, segundo advogados, teria como objetivo dificultar a identificação dos policiais envolvidos em excessos contra os manifestantes. Na noite da última quinta-feira, nem moradores das ruas adjacentes à Praça São Salvador foram poupados pelos policiais.
Morador do bairro há 30 anos, um engenheiro que pediu para não ser identificado, temendo represálias dos policiais, afirma que estava jantando com os filhos em um dos restaurantes da localidade, quando PMs do Batalhão de Choque passaram lançando bombas de gás lacrimogêneo na praça. Ele afirma que os policiais simplesmente ignoraram o fato de que havia crianças no local.
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