Denarc terá mudanças. Sete agentes, entre eles dois delegados, foram presos por suposto envolvimento em esquema de vazamento de inquéritos. Outras 3 detenções ocorreram nas regiões de Ribeirão Preto e Campinas, onde escutas motivaram a denúncia
Policiais presos foram flagrados extorquindo traficantes pelo celular. Entre os detidos estão dois delegados; grupo é suspeito de roubo, corrupção e extorsão mediante sequestro, segundo o MP
16 de julho de 2013 | 0h 02
Luciano Bottini Filho e Ricardo Brandt
Sete policiais civis foram detidos nesta segunda-feira, 15, na capital paulista e em Campinas, por envolvimento em um esquema de achaque a traficantes e vazamento de inquéritos - seis eram integrantes ou ex-funcionários do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). As denúncias apontam para pagamento de propina mensal de até R$ 30 mil. Após a operação, que incluiu a maior devassa no departamento desde 1987 e levou a outras três detenções, a Secretaria da Segurança destacou que o Denarc será reformulado.
Dois dos presos eram delegados do departamento: o supervisor da Unidade de Investigações (responsável pelo setor de inteligência), Clemente Castilhone Junior, e Fábio Amaral de Alcântara, da 3.ª Delegacia de Apoio. Foram expedidos 13 mandados de prisão contra policiais - 11 em São Paulo e 2 em Campinas, onde começou a investigação, com base em escutas de traficantes feitas a pedido do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
O promotor Amauri Silveira Júnior, do Gaeco de Campinas, disse que " a ação de alguns policiais tornou impraticável o trabalho do Ministério Público" na região de Campinas. "Tentou-se forjar evidência, comprometer e constranger vítimas e testemunhas (...) Daí se pediu a prisão temporária."
De acordo com ele, desde o começo das investigações houve vários vazamentos de informações. Mas não confirmou se o delegado Castilhone ou algum de seus subordinados diretos esteve envolvido no repasse de dados de inteligência policial para os criminosos. "Isso só a Justiça poderá dizer." Afirmou, porém, que há indícios de mais policiais envolvidos - e novas investigações serão feitas.
Durante a operação, com apoio da Corregedoria de Polícia Civil, oito promotores ficaram quatro horas analisando documentos no Denarc, em busca de provas. Segundo a promotoria, agentes recebiam propina para passar informações ou retardar investigações. Entre os crimes investigados estão roubo, extorsão mediante sequestro, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e tortura.
De acordo com o delegado Maurício Blazeck, o Denarc vai passar por uma reestruturação, "não só por esse fato (a operação policial de ontem)", mas por ser "um departamento com mais de 25 anos". Uma das ideias seria o enxugamento de cargos. A Corregedoria não deu detalhes, mas relatou que alguns suspeitos já enfrentavam processos disciplinares ou ações penais, mas sem uma decisão definitiva.
O início
O inquérito foi aberto em outubro contra traficantes ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) na região de Campinas. Segundo os promotores, uma mulher suspeita de tráfico serviu como testemunha do esquema. No entanto, a Promotoria obteve mais provas graças às gravações, quando foram descobertas conversas do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, preso desde 2002, mas que ainda mandaria no tráfico.
Criminosos de Campinas, sob a chefia de Andinho, seriam obrigados a pagar anuidade de R$ 300 mil para os policiais civis acobertarem ações e darem informações, além de responder por mensalidades de até R$ 30 mil. A situação saiu de controle quando houve atraso no pagamento de propina e os policiais teriam cobrado dívidas até de parentes dos bandidos.
Como uma das ramificações da operação policial desta segunda-feira, houve a ocupação de favelas na cidade. Duas pessoas foram detidas: um adolescente e a mãe de um acusado de tráfico, após a polícia encontrar maconha em sua casa - outra pessoa foi detida em Serra. Um dos acusados teria conseguido escapar do cerco.
Prisão ‘arbitrária’
O advogado de Castilhone, João Batista Augusto Júnior, considera que a prisão do seu cliente foi arbitrária, mas ainda não tomou conhecimento do inquérito. Segundo familiares do delegado, o suspeito sabia das apurações, mas não imaginava que seria preso.
Castilhone é tido como braço direito do diretor do Denarc, Marco Antônio de Paula Santos. O chefe do órgão acompanhou as buscas da Promotoria na manhã de ontem, mas disse que o assunto só poderia ser comentado pela Corregedoria. "Eu não estava sabendo de nada."
Os defensores dos outros acusados não foram encontrados para comentar o caso.
Luciano Bottini Filho e Ricardo Brandt
Sete policiais civis foram detidos nesta segunda-feira, 15, na capital paulista e em Campinas, por envolvimento em um esquema de achaque a traficantes e vazamento de inquéritos - seis eram integrantes ou ex-funcionários do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). As denúncias apontam para pagamento de propina mensal de até R$ 30 mil. Após a operação, que incluiu a maior devassa no departamento desde 1987 e levou a outras três detenções, a Secretaria da Segurança destacou que o Denarc será reformulado.
Dois dos presos eram delegados do departamento: o supervisor da Unidade de Investigações (responsável pelo setor de inteligência), Clemente Castilhone Junior, e Fábio Amaral de Alcântara, da 3.ª Delegacia de Apoio. Foram expedidos 13 mandados de prisão contra policiais - 11 em São Paulo e 2 em Campinas, onde começou a investigação, com base em escutas de traficantes feitas a pedido do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
O promotor Amauri Silveira Júnior, do Gaeco de Campinas, disse que " a ação de alguns policiais tornou impraticável o trabalho do Ministério Público" na região de Campinas. "Tentou-se forjar evidência, comprometer e constranger vítimas e testemunhas (...) Daí se pediu a prisão temporária."
De acordo com ele, desde o começo das investigações houve vários vazamentos de informações. Mas não confirmou se o delegado Castilhone ou algum de seus subordinados diretos esteve envolvido no repasse de dados de inteligência policial para os criminosos. "Isso só a Justiça poderá dizer." Afirmou, porém, que há indícios de mais policiais envolvidos - e novas investigações serão feitas.
Durante a operação, com apoio da Corregedoria de Polícia Civil, oito promotores ficaram quatro horas analisando documentos no Denarc, em busca de provas. Segundo a promotoria, agentes recebiam propina para passar informações ou retardar investigações. Entre os crimes investigados estão roubo, extorsão mediante sequestro, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e tortura.
De acordo com o delegado Maurício Blazeck, o Denarc vai passar por uma reestruturação, "não só por esse fato (a operação policial de ontem)", mas por ser "um departamento com mais de 25 anos". Uma das ideias seria o enxugamento de cargos. A Corregedoria não deu detalhes, mas relatou que alguns suspeitos já enfrentavam processos disciplinares ou ações penais, mas sem uma decisão definitiva.
O início
O inquérito foi aberto em outubro contra traficantes ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) na região de Campinas. Segundo os promotores, uma mulher suspeita de tráfico serviu como testemunha do esquema. No entanto, a Promotoria obteve mais provas graças às gravações, quando foram descobertas conversas do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, preso desde 2002, mas que ainda mandaria no tráfico.
Criminosos de Campinas, sob a chefia de Andinho, seriam obrigados a pagar anuidade de R$ 300 mil para os policiais civis acobertarem ações e darem informações, além de responder por mensalidades de até R$ 30 mil. A situação saiu de controle quando houve atraso no pagamento de propina e os policiais teriam cobrado dívidas até de parentes dos bandidos.
Como uma das ramificações da operação policial desta segunda-feira, houve a ocupação de favelas na cidade. Duas pessoas foram detidas: um adolescente e a mãe de um acusado de tráfico, após a polícia encontrar maconha em sua casa - outra pessoa foi detida em Serra. Um dos acusados teria conseguido escapar do cerco.
Prisão ‘arbitrária’
O advogado de Castilhone, João Batista Augusto Júnior, considera que a prisão do seu cliente foi arbitrária, mas ainda não tomou conhecimento do inquérito. Segundo familiares do delegado, o suspeito sabia das apurações, mas não imaginava que seria preso.
Castilhone é tido como braço direito do diretor do Denarc, Marco Antônio de Paula Santos. O chefe do órgão acompanhou as buscas da Promotoria na manhã de ontem, mas disse que o assunto só poderia ser comentado pela Corregedoria. "Eu não estava sabendo de nada."
Os defensores dos outros acusados não foram encontrados para comentar o caso.
Policiais presos foram flagrados extorquindo traficantes pelo celular. Entre os detidos estão dois delegados; grupo é suspeito de roubo, corrupção e extorsão mediante sequestro, segundo o MP
15 de julho de 2013 | 16h 06
Ricardo Brandt - O Estado de S.Paulo
CAMPINAS - Os policiais do Denarc e da Polícia Civil de Campinas presos na manhã desta segunda-feira, 15, por suposto envolvimento com o tráfico de drogas, foram flagrados pelas investigações do Ministério Público quando começaram a sequestrar e extorquir traficantes, no início deste ano, por causa de atrasos nos pagamentos de propina.
Clayton de Souza/AE
Traficantes eram obrigados a pagar anuidade de R$ 300 mil para os policiais civis
Entre outras provas levantadas pelo Ministério Público, os policiais foram flagrados quando usavam os telefones dos familiares dos traficantes, que tinham sido sequestrados, para extorquir os criminosos, exigindo o pagamento das propinas.
Os telefones dos traficantes estavam grampeados pelo Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Campinas, que desde outubro de 2012 investigava a ação de criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) na região.
Em gravações, foram descobertas também conversas do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, preso desde 2002 na penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau. Segundo as apurações, ele ainda mandava no tráfico de drogas do bairro São Fernando, em Campinas, um dos principais pontos de venda de entorpecentes da cidade.
Traficantes da área, sob seu comando, eram obrigados a pagar uma anuidade de R$ 300 mil para os policiais civis para atuar e mensalidades de até R$ 30 mil. Com os atrasos de pagamento e a reação dos policiais, com os sequestros, Andinho teria ordenado que fossem feitos ataques a policiais.
As investigações do Gaeco começaram em meio a onda de enfrentamento entre membros do PCC e policiais do Estado no ano passado. Na ocasião, foram presos 29 membros do comando local do crime, nas cidades de Campinas, Monte Mor, Hortolândia e Cosmópolis.
Entre os acusados, estava um dono de uma lanchonete na avenida Norte-Sul, espécie de Avenida Paulista de Campinas, que morava em um condomínio de luxo. Ele seria o tesoureiro do grupo e conseguiu fugir.
Ricardo Brandt - O Estado de S.Paulo
CAMPINAS - Os policiais do Denarc e da Polícia Civil de Campinas presos na manhã desta segunda-feira, 15, por suposto envolvimento com o tráfico de drogas, foram flagrados pelas investigações do Ministério Público quando começaram a sequestrar e extorquir traficantes, no início deste ano, por causa de atrasos nos pagamentos de propina.
Clayton de Souza/AE
Traficantes eram obrigados a pagar anuidade de R$ 300 mil para os policiais civis
Entre outras provas levantadas pelo Ministério Público, os policiais foram flagrados quando usavam os telefones dos familiares dos traficantes, que tinham sido sequestrados, para extorquir os criminosos, exigindo o pagamento das propinas.
Os telefones dos traficantes estavam grampeados pelo Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Campinas, que desde outubro de 2012 investigava a ação de criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) na região.
Em gravações, foram descobertas também conversas do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, preso desde 2002 na penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau. Segundo as apurações, ele ainda mandava no tráfico de drogas do bairro São Fernando, em Campinas, um dos principais pontos de venda de entorpecentes da cidade.
Traficantes da área, sob seu comando, eram obrigados a pagar uma anuidade de R$ 300 mil para os policiais civis para atuar e mensalidades de até R$ 30 mil. Com os atrasos de pagamento e a reação dos policiais, com os sequestros, Andinho teria ordenado que fossem feitos ataques a policiais.
As investigações do Gaeco começaram em meio a onda de enfrentamento entre membros do PCC e policiais do Estado no ano passado. Na ocasião, foram presos 29 membros do comando local do crime, nas cidades de Campinas, Monte Mor, Hortolândia e Cosmópolis.
Entre os acusados, estava um dono de uma lanchonete na avenida Norte-Sul, espécie de Avenida Paulista de Campinas, que morava em um condomínio de luxo. Ele seria o tesoureiro do grupo e conseguiu fugir.
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