ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

BANDIDO AO QUADRADO

ZERO HORA 18/07/2013 - 03h30


Editorial


Depois de uma operação para prender delegados e investigadores da Polícia Civil, acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, anunciou que o Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) passará por uma reestruturação. Já não era sem tempo.

É conhecida a capacidade do narcotráfico de corromper agentes da lei. Policiais que trabalham no combate direto a esse tipo de crime são alvos permanentes de tentativas de suborno --muitas vezes bem-sucedidas.

Não são raros, também, os casos em que a ocasião --confirmando o dito popular-- faz o ladrão. O desvio de drogas apreendidas é uma prática ilícita verificada em polícias de várias partes do mundo.

No caso do Denarc, vêm de longe os sinais de que parte da corporação deixou-se capturar pelo crime organizado. Apenas neste ano, nos meses de fevereiro e março, a Polícia Federal prendeu sete policiais ligados ao departamento, sob acusação de desviar entorpecentes.

Os problemas, na realidade, se estendem de maneira preocupante a outras áreas da Polícia Civil. Não é demais lembrar que desde 2009 pelo menos 800 dos cerca de 3.300 delegados paulistas passaram ou ainda passam por investigações da corregedoria.

O governador Geraldo Alckmin apoiou com vigor a investigação de corrupção no Denarc. Prometeu "tolerância zero" com desvios, lançou a fórmula "polícia aliado de bandido é bandido ao quadrado" e anunciou o tratamento aos infratores: "Xadrez neles".

Ainda que se possa ver um aspecto propagandístico no pronunciamento, constitui sinalização inequívoca de apoio a um processo de "limpeza" da polícia. Identificar corruptos e puni-los é, sem dúvida, o caminho a seguir --embora a experiência sugira que se trata de um típico caso em que falar é muito mais fácil do que fazer.

Além de combater maus policiais, o governo precisa impor novas rotinas. No que tange à investigação, é sobretudo a logística do tráfico que precisa ser visada e golpeada, com a identificação das rotas, dos locais de entrega, dos esquemas de distribuição e dos caminhos da lavagem do dinheiro.

É necessário também, como ocorre em outros países, que policiais destacados para enfrentar o narcotráfico sejam objeto de permanente supervisão e periódica checagem de sinais de riqueza incompatível com os rendimentos.

A prometida reforma do Denarc é uma chance para o governador mostrar que a disposição de melhorar a segurança pública vai além da retórica e de ações pontuais.

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