ZERO HORA 18/07/2013 - 03h30
Editorial
Depois de uma operação para prender delegados e investigadores da Polícia Civil, acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, anunciou que o Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) passará por uma reestruturação. Já não era sem tempo.
É conhecida a capacidade do narcotráfico de corromper agentes da lei. Policiais que trabalham no combate direto a esse tipo de crime são alvos permanentes de tentativas de suborno --muitas vezes bem-sucedidas.
Não são raros, também, os casos em que a ocasião --confirmando o dito popular-- faz o ladrão. O desvio de drogas apreendidas é uma prática ilícita verificada em polícias de várias partes do mundo.
No caso do Denarc, vêm de longe os sinais de que parte da corporação deixou-se capturar pelo crime organizado. Apenas neste ano, nos meses de fevereiro e março, a Polícia Federal prendeu sete policiais ligados ao departamento, sob acusação de desviar entorpecentes.
Os problemas, na realidade, se estendem de maneira preocupante a outras áreas da Polícia Civil. Não é demais lembrar que desde 2009 pelo menos 800 dos cerca de 3.300 delegados paulistas passaram ou ainda passam por investigações da corregedoria.
O governador Geraldo Alckmin apoiou com vigor a investigação de corrupção no Denarc. Prometeu "tolerância zero" com desvios, lançou a fórmula "polícia aliado de bandido é bandido ao quadrado" e anunciou o tratamento aos infratores: "Xadrez neles".
Ainda que se possa ver um aspecto propagandístico no pronunciamento, constitui sinalização inequívoca de apoio a um processo de "limpeza" da polícia. Identificar corruptos e puni-los é, sem dúvida, o caminho a seguir --embora a experiência sugira que se trata de um típico caso em que falar é muito mais fácil do que fazer.
Além de combater maus policiais, o governo precisa impor novas rotinas. No que tange à investigação, é sobretudo a logística do tráfico que precisa ser visada e golpeada, com a identificação das rotas, dos locais de entrega, dos esquemas de distribuição e dos caminhos da lavagem do dinheiro.
É necessário também, como ocorre em outros países, que policiais destacados para enfrentar o narcotráfico sejam objeto de permanente supervisão e periódica checagem de sinais de riqueza incompatível com os rendimentos.
A prometida reforma do Denarc é uma chance para o governador mostrar que a disposição de melhorar a segurança pública vai além da retórica e de ações pontuais.
Editorial
Depois de uma operação para prender delegados e investigadores da Polícia Civil, acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, anunciou que o Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) passará por uma reestruturação. Já não era sem tempo.
É conhecida a capacidade do narcotráfico de corromper agentes da lei. Policiais que trabalham no combate direto a esse tipo de crime são alvos permanentes de tentativas de suborno --muitas vezes bem-sucedidas.
Não são raros, também, os casos em que a ocasião --confirmando o dito popular-- faz o ladrão. O desvio de drogas apreendidas é uma prática ilícita verificada em polícias de várias partes do mundo.
No caso do Denarc, vêm de longe os sinais de que parte da corporação deixou-se capturar pelo crime organizado. Apenas neste ano, nos meses de fevereiro e março, a Polícia Federal prendeu sete policiais ligados ao departamento, sob acusação de desviar entorpecentes.
Os problemas, na realidade, se estendem de maneira preocupante a outras áreas da Polícia Civil. Não é demais lembrar que desde 2009 pelo menos 800 dos cerca de 3.300 delegados paulistas passaram ou ainda passam por investigações da corregedoria.
O governador Geraldo Alckmin apoiou com vigor a investigação de corrupção no Denarc. Prometeu "tolerância zero" com desvios, lançou a fórmula "polícia aliado de bandido é bandido ao quadrado" e anunciou o tratamento aos infratores: "Xadrez neles".
Ainda que se possa ver um aspecto propagandístico no pronunciamento, constitui sinalização inequívoca de apoio a um processo de "limpeza" da polícia. Identificar corruptos e puni-los é, sem dúvida, o caminho a seguir --embora a experiência sugira que se trata de um típico caso em que falar é muito mais fácil do que fazer.
Além de combater maus policiais, o governo precisa impor novas rotinas. No que tange à investigação, é sobretudo a logística do tráfico que precisa ser visada e golpeada, com a identificação das rotas, dos locais de entrega, dos esquemas de distribuição e dos caminhos da lavagem do dinheiro.
É necessário também, como ocorre em outros países, que policiais destacados para enfrentar o narcotráfico sejam objeto de permanente supervisão e periódica checagem de sinais de riqueza incompatível com os rendimentos.
A prometida reforma do Denarc é uma chance para o governador mostrar que a disposição de melhorar a segurança pública vai além da retórica e de ações pontuais.
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