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CONTRA-ATAQUE. Para prefeitos, operação foi “circo”. Representantes de sete municípios investigados por ação batizada de Cartola reclamam de “aparato de guerra” e “espetáculo” - ZERO HORA 08/07/2011
Ainda sem conhecer o teor das investigações, o presidente da Federação das Associações de Municípios (Famurs), Mariovane Weis (PDT), anunciou que prefeitos de sete dos oito municípios investigados irão ingressar na Justiça contra a Operação Cartola. Serão ações indenizatórias contra a Chefia de Polícia, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público de Contas.
Suspeitas de irregularidades em contratos entre prefeituras e a PPG Comunicação deram origem à operação. Desencadeada na madrugada de quarta-feira, a ação envolveu 500 policiais, 160 viaturas e 43 mandados de busca e apreensão. Os prefeitos criticam o que chamam de “aparato de guerra” durante as buscas, argumentam que os municípios tiveram a imagem lesada e, por conta disso, vislumbram prejuízos.
– Quem é que vai recuperar a minha imagem dentro da comunidade e a imagem do município de Canela, que vive fundamentalmente do turismo? – indagou o prefeito Constantino Orsolin (PMDB).
Ontem, o presidente da Famurs conversou por telefone com o governador Tarso Genro. No diálogo, segundo o prefeito, Tarso teria informado que “sabia previamente da operação”.
Prefeito de Cachoeirinha rejeita movimento de colegas
Durante a coletiva, Mariovane não poupou críticas à ação policial:
– Não podemos admitir espetáculos circenses ou ações pirotécnicas, da entrada da cidade até a prefeitura – disse o presidente da Famurs, argumentando que a ação provocou “verdadeiro terrorismo”.
O prefeito de Alvorada, João Carlos Brum (PTB), reclamou que não teve acesso a detalhes da operação e não sabe, por exemplo, quem são os funcionários investigados. O chefe do Executivo de São Sebastião do Caí, Darci Lauermann (PMDB), também demonstrou preocupação com a campanha à reeleição:
– Como vai ficar aquele que pretende concorrer, uma vez que, na rua, dizem que o gestor é um ladrão?
A Famurs e os prefeitos devem encaminhar ofícios aos órgãos envolvidos na operação solicitando informações sobre a investigação. O prefeito de Cachoeirinha, Luiz Vicente Pires (PSB), foi o único que não compareceu. Em entrevista, declarou que não endossa a ação dos prefeitos:
– Explicação se dá para porteiro, e não estou querendo entrar em lugar nenhum.
Líder pedetista critica postura do governador
Um dia após a Operação Cartola, o prefeito Romildo Bolzan Jr. (PDT) estava visivelmente irritado com o governador Tarso Genro. A prefeitura de Osório foi um dos locais vistoriados por policiais.
– Tarso tinha conhecimento prévio e patrocinou essa operação. Na conduta de chefe da polícia, ele não poderia ter sido tão espetacular. Poderia ter sido moderador de uma ação dessa natureza – disse Bolzan, que é presidente estadual do PDT, partido aliado do governo.
Momentos antes de a Famurs divulgar uma nota condenando a operação, Bolzan pediu a retirada de trecho que mencionava que o “governador estava sensível a qualquer representação contra a arbitrariedade”.
– Eu não concordo – disse.
Bolzan admitiu que a operação pode estremecer as relações:
– Se eu entender que tudo isso foi proposital, um movimento orquestrado de forma espetacular, uma ação de governo, vou avaliar meus conceitos a respeito disso.
O SUPORTO ESQUEMA
A PPG COMUNICAÇÃO - Teria apoiado candidatos em eleições municipais. Seria o primeiro passo para a empresa de publicidade se aproximar dos futuros administradores dos municípios.
PREFEITURA DE ALVORADA - Prefeituras, como a de Alvorada, teriam contratado serviços de propaganda da PPG que, a partir de 2008, teria passado a atuar como uma terceirizadora oficial. Conforme a polícia, ela intermediaria compras de materiais (superfaturados em até 300%) e até contratação de shows. O dinheiro resultante do superfaturamento seria distribuído entre agência e servidores.
PAGAMENTO DE SUPOSTA PROPINA - Pelo menos 15 empresas estão sendo investigadas, porque haveria indícios de que teriam pago propina a funcionários das prefeituras.
OUTRAS PREFEITURAS - Além de Alvorada, a PPG manteria contratos com as prefeituras de Cachoeirinha, Canela, Osório, Parobé, São Sebastião do Caí, Tramandaí e Viamão. O TCE tem relatórios que indicariam possíveis irregularidades nesses contratos, o que tornou as cidades alvos da investigação policial.
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