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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

NA FARSA DO SEQUESTRO, SOFRE O ESFORÇO POLICIAL

FARSA. Querido, fui sequestrada! A mulher some. O marido, apavorado, aciona a divisão antissequestro da Polícia Civil. - MARJORIE BASSO - DIÁRIO CATARINENSE, 01/09/2011

E não demora para a história virar fiasco para as esposas, que são descobertas enganando seus companheiros. Casos assim, que mobilizam as autoridades, aconteceram pelo menos duas vezes em SC no último mês. Em um deles, a suposta vítima ligou de dentro de um shopping. No outro, sequer houve crime. A polícia descobriu que a mulher, simplesmente, fugiu com o amante.

A obrigação que a polícia tem em investigar suspeitas de sequestros tem revelado mentiras que estão se tornando comuns entre mulheres que se fazem passar por vítimas para enganar os maridos. Só em agosto, a Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) descobriu dois falsos sequestros com esse propósito.

No mais recente, descoberto na última segunda-feira, a suposta vítima foi pega passeando em um shopping de Florianópolis. A mulher, moradora de Balneário Camboriú, no Litoral Norte, sustenta a versão de que foi sequestrada, mas estava andando pelo shopping para disfarçar a mando dos bandidos.

Conforme a investigação, a mulher, casada com um coronel da Polícia Militar aposentado, saiu de Balneário Camboriú na segunda após o almoço e veio para Florianópolis. Na Capital, ela ligou para o marido, informou que estava com o cartão da conta bancária dele e perguntou quanto poderia sacar. O marido disse que no caixa eletrônico era possível sacar somente R$ 1 mil por dia. A mulher, então, se desesperou, disse que estava em poder de bandidos e que a quantia era muito baixa.

Mesmo assim o saque da conta bancária foi feito. Policiais da Antissequestro conseguiram localizá-la no mesmo dia no shopping, de onde ela fez a ligação. A mulher, que estava desacompanhada, foi levada para a delegacia.

Em depoimento, ela contou que os bandidos não levaram suas joias, pois ela teve tempo de escondê-las dentro da bota que usava e manteve a versão de sequestro. A polícia concluiu que a versão é fantasiosa e fazia parte de uma espécie de golpe que ela tentou aplicar no marido.

Quando a suposta vítima foi encontrada vagava sozinha pelo shopping, entrando em lojas e olhando vitrinas. Os agentes ainda analisaram as imagens das câmeras de monitoramento do shopping e perceberam que ela estava sozinha quando ligou para o marido. Ela pode ser indiciada por falsa comunicação de crime, cuja pena varia de um a seis meses de reclusão ou multa.

O delegado da Antissequestro, Renato Hendges, explica que o desaparecimento pode ser voluntário ou involuntário, em caso de doença ou crime, e a obrigação da polícia é investigar. Mas podem haver imprevistos como esse:

– Nós acabamos deslocando pessoal, fazendo diligências e, além de atrapalhar nosso trabalho, isso gera gasto. Até hoje temos de ir a outras cidades prestar depoimento por situações semelhantes a essa que ocorreram há bastante tempo.

Caso “solucionado” quase um mês depois

No último dia 17, a Deic elucidou outro caso de falso sequestro após quase um mês do suposto desaparecimento da vítima. Uma moradora de Angelina de 32 anos conheceu uma pessoa pela internet e abandonou o marido para ficar com o amante, de 25 anos. A mulher saiu de casa no dia 13 de julho e foi localizada em Brasília. Ao contrário da suposta vítima de Balneário Camboriú, em depoimento ela acabou assumindo que fugiu do marido. Alegou que ela e os filhos passavam necessidades e que o marido era violento. Nesse caso, como quem acionou a polícia foi o marido enganado não houve falsa comunicação de crime. Em depoimento, ela contou que os bandidos não levaram suas joias, pois ela teve tempo de escondê-las dentro da bota que usava.

Perfil falso para falar com o marido

O caso de falso sequestro mais comentado na Deic parece trama de novela, e ocorreu em 2003, em Joinville. O enredo elaborado contou com gravidez forjada, fuga com o ex-namorado, perfil falso em rede social para contatar o marido e um fim em tom de “felizes para sempre”.

Tudo começou com a falsa gravidez. A polícia não sabe o motivo, mas a mulher, casada com um advogado, inventou que estava grávida, e a mentira se arrastou até o suposto nono mês de gestação. O marido não desconfiou porque ela usou a urina de uma amiga gestante para fazer um exame de gravidez em seu nome.

Com a gravidez comprovada, ela passou a engordar. Sempre que tinha um exame pré-natal marcado inventava uma desculpa, na maioria das vezes se sentia mal e não podia comparecer. Ela desapareceu na véspera de sua cesariana levando apenas a bolsa, o celular e a chapinha.

A polícia entrou no caso para solucionar o desaparecimento. Paralelamente, uma pessoa com o nome de Jaqueline, que dizia ser amiga da suposta vítima, começou a se corresponder com o marido da desaparecida por e-mail. Orientado pela polícia, ele manteve contato.

Jaqueline dizia que a mulher do advogado estava sendo mantida em cárcere privado por um antigo namorado. Também afirmou que era agredida e mantida numa casa com grades e cães da raça rottweiler para garantir que não fugiria. Os contatos de Jaqueline com o advogado se tornaram constantes. Foi então que investigadores da Antissequestro compararam uma carta da desaparecida que estava no casal com as conversas trocadas entre a suposta amiga e o marido.

A polícia verificou que tanto a vítima quanto Jaqueline cometiam os mesmos erros de gramática, como escrever “serto”. Após rastrear o computador usado por Jaqueline, a polícia chegou até ela e descobriu que a mulher era a desaparecida.

A suposta vítima estava vivendo em um prostíbulo e nunca esteve grávida. A polícia teve acesso às casas onde ela viveu com o ex-namorado enquanto esteve sumida. Ela foi trazida para SC e o marido a aceitou de volta. De acordo com a polícia, o casal estudava processar o médico que atestou a gravidez por dano moral.

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