ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

BANDA PODRE - NÃO PODE HAVER RECUO NESTA LUTA

EDITORIAL O GLOBO, 28/09/2011 às 19h08m

A prisão sumária do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, comandante do 22º BPM, suspeito de ser o mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli, dá a medida de duas situações que decorrem deste gravíssimo caso. A primeira, estimulante, diz respeito à exemplar resposta do governo a um crime que afrontou o poder constituído.

Diante das fortes evidências de envolvimento do oficial, a Secretaria de Segurança, detendo-o, desarmou preventivamente eventuais tentativas de deixá-lo sem punição. A segunda decorrência é mais sombria: ao pôr à mostra a ponta de um fio que leva diretamente ao coração da banda podre da polícia fluminense, descobre-se que a contaminação alcança o alto-comando da polícia.

De quebra, fica a suspeita, igualmente preocupante, de que a doença da promiscuidade de maus policiais com a criminalidade estaria atingindo, por metástase, a elite da PM do Rio. É significativo, e inquietante, que o tenente-coronel tenha sido formado no Bope, o Batalhão de Operações Especiais celebrado por sua operacionalidade contra os bandidos e, até recentemente, um organismo tido como vacinado contra a corrupção que corrói a credibilidade da corporação.

A dura e imediata resposta das autoridades de segurança, por óbvio refletindo uma decisão política do Palácio Guanabara, consolida uma tomada de posição claramente inflexível com a banda podre. A opção de atacar a corrupção policial tem se expressado, desde o primeiro mandato do governador Sérgio Cabral, na série de prisões e punições de policiais flagrados em delito de envolvimento com o crime. Agora, no entanto, o processo de limpeza das polícias fluminenses entra em novo patamar.

A prisão, inédita, de um comandante de batalhão por suposta participação numa morte encomendada, episódio que se torna ainda mais grave por ter afrontado diretamente o Poder Judiciário, põe na mesa um dado ainda mais apavorante, para a sociedade, que os constantes relatos de ligação entre policiais do baixo clero com criminosos. Desta vez, recolhem-se evidências incontornáveis de que a conversão de agentes públicos de segurança ao banditismo chega à alta hierarquia da Polícia Militar do Rio de Janeiro, por definição constitucional uma corporação criada para proteger os cidadãos - e não para contra eles se voltar.

Tanto quanto a obrigação de puxar até o fim a nova ponta do fio, independentemente das implicações que tal decisão tenha dentro da cadeia de comando policial, o governo estadual tem o dever de fazê-lo como ação emergencial. Trata-se de tomar iniciativas de ocupação de terreno: chegou-se ao ponto em que operações pontuais para desarticular grupos subalternos de maus agentes já não bastam para desestimular a banda podre; tendo o poder público avançado ao andar de cima da corrupção, dele não pode recuar.

A limpeza ética das polícias deve ser tomada como política de Estado. Até mesmo para servir de exemplo a outros estados, onde a infiltração da criminalidade nas instituições não se mostra tão cristalina como no Rio de Janeiro, mas é igualmente deletéria. E, não menos importante, porque a gravidade da situação que o assassinato da juíza Patrícia Acioli está trazendo à tona pode pôr em xeque o exitoso programa de segurança e pacificação em curso no estado, caso o governo do estado deixe passar esta imperdível oportunidade de dar um golpe fatal na banda podre.

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