POLÍCIA X POLÍCIA. Num registro, policial civil é abordado por PMs e, no outro, carro foi seguido antes de uma operação - JÚLIA ANTUNES LORENÇO - DIÁRIO CATARINENSE, 22/08/2011
Depois de uma semana em que a cúpula da Segurança Pública do Estado sentou para discutir desavenças entre polícias Militar e Civil, o final de semana terminou com duas situações de confronto. No sábado, um investigador registrou boletim de ocorrência contra uma guarnição da PM e policiais da Diretoria de Investigações Criminais (Deic) reclamaram que foram perseguidos por uma viatura militar. No Domingo, Policiais Civis teriam sido seguidos por PMs em uma operação.
Com um roxo na testa, o policial civil Sílvio Germano Alves, registrou, no sábado, um boletim contra policiais que estavam numa viatura do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Ele disse ter sido agredido e humilhado pelos policiais.
O investigador dirigia um gol descaracterizado da Polícia Civil, no túnel Antonieta de Barros - que liga o Centro ao Sul da Ilha -quando foi abordado pelo Bope. Ainda com o carro em movimento, Alves mostrou a carteira funcional. Mesmo assim os policiais militares mandaram o civil encostar o carro logo após a saída do túnel, no sentido Sul-Centro, próximo à Assembleia Legislativa.
De acordo com Alves, ele desceu do Gol, e foi rendido pelos policiais do Bope, que teriam empurrado, algemado e colocado o investigador no chão. Ele acabou batendo a cabeça contra o piso. O policial civil ainda afirmou que foi humilhado.
– Os policiais falaram que minha carteira “de m. não servia para nada” – relembrou o investigador.
Ele não relaciona o fato com os acontecimentos da semana passada, quando o ex-comandante de Jaraguá do Sul, o tenente-coronel Luiz Rogério Kumlehn, fez duras críticas à Polícia Civil, que desencadeou uma série de discussões sobre a rixa entre as polícias.
– Eu acho que foram elementos despreparados. Conheço policiais militares muito bons. Não é todo mundo que é assim. Se eles não respeitaram a minha carteira, que me respeitassem como cidadão – ressaltou.
Na reunião da semana passada, a cúpula da segurança disse que os casos de confronto eram “isolados”, e seriam estudados caso a caso.
A ocorrência foi registrada na Central de Polícia, no Centro da Capital. Segundo Alves, os policiais do Bope alegaram que ele foi parado, porque fechou a viatura.
– Uma polícia pode até parar a outra, mas geralmente existe um respeito entre elas – observou.
Abordagem atrasa operação - FRANCINE CADORE
O segundo caso de desentendimento no final de semana teria acontecido ontem à tarde. Dois agentes da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), que estariam em serviço, afirmam ter sido perseguidos por PMs do bairro Estreito até Biguaçu, na Grande Florianópolis.
Conforme os agentes, por causa do contratempo, eles chegaram atrasados para o trabalho em Tijucas. Mas a ação não foi prejudicada.
O caso chama a atenção, também, porque envolveu a Deic, considerada a elite da polícia civil em SC. Um dos homens fortes da Diretoria é o delegado Renato Hendges. Ele é também presidente da Associação de Delegados (Adepol), e não tem poupado críticas ao trabalho da PM. Ele montou dossiê, com possíveis erros cometidos pelos militares nos últimos anos.
Conforme os policiais da Deic, que preferem não se identificar, por volta das 13h30min, eles se preparavam para sair em apoio à divisão de furtos e roubos, em Tijucas. Na frente da delegacia, os dois teriam colocado os coletes à prova de balas e guardado o armamento na viatura descaracterizada. Uma viatura da Polícia Militar (PM), que estaria estacionada próxima à delegacia, teria acompanhado os preparativos. Assim que saíram, dizem os policiais civis, eles notaram que estavam sendo seguidos pela PM.
– Em um semáforo, eles nos ultrapassaram e nas imediações do Angeloni, do Jardim Atlântico, ligaram as sirenes. Avisamos a Central de Operações, pelo 190, mas mesmo assim a perseguição não acabou. Em Biguaçu, na BR-101, nós fomos abordados com hostilidade por policiais do 22º Batalhão da PM.
Houve bate-boca e a PM teria reclamado que a polícia especializada deveria ter informado sobre qual trabalho seria feito em Tijucas. Conforme os agentes da Deic, por conta do contratempo, eles chegaram atrasados para o trabalho em Tijucas. Mas, segundo eles, não houve prejuízos àquela ação policial.
Sete dias turbulentos
Segunda-feira, 15 - Vazam gravações em que o tenente-coronel Luiz Rogério Kumlehn faz duras críticas a delegados, um promotor e uma juíza.
Terça-feira, 16 - Kumlehn é exonerado. A Associação de Delegados diz que o caso não é isolado.
Quarta-feira, 17 - A secretaria de Segurança Pública (SSP), e os comandos das polícias Civil e Militar se reúnem para discutir o assunto. Eles consideram as situações de conflito “pontuais”.
Quinta-feira, 18 - Clima tenso em algumas delegacias e batalhões da PM em SC. As duas partes mostram insatisfação com a situação.
Sexta-feira, 19 - Associações de Delegados do Paraná e de São Paulo manifestam, formalmente, apoio aos policiais civis catarinenses.
Sábado, 20 - Policial Civil é abordado por Militares em Florianópolis. Ele teria cortado a frente de uma viatura da Polícia Militar.
Domingo, 21 - Policiais da Deic, saindo para uma operação...
CONTRAPONTO
- Sobre o caso ocorrido no túnel, a PM explica, em nota, que os policiais flagraram
um carro fazendo manobras perigosas. Em seguida, eles fizeram uma abordagem de rotina. O investigador teria apresentado resistência em responder, por isso foi “imobilizado”. Só depois é que ele foi identificado como policial civil. Sobre o caso da perseguição a policiais da Deic, a polícia militar dará mais esclarecimentos hoje. Por enquanto, afirma que será investigado se houve excesso por parte dos Policiais Militares. Nas duas situações, a PM afirma que foram casos isolados, sem relação com a polêmica envolvendo as duas corporações.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
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