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CRISE ENTRE POLÍCIAS. Apertos de mão e as promessas de sempre - MARJORIE BASSO - DIÁRIO CATARINENSE
O encontro de mais de três horas que reuniu a cúpula da Segurança no Estado, ontem de manhã, terminou quase como começou: discurso de atender bem a população e busca por soluções conjuntas para resolver os problemas “pontuais” de relacionamento entre as polícias Civil e Militar. O documento que, na teoria, vai definir o papel de cada corporação, na prática, parece ter pouco efeito. A PM diz que suas funções estão bem claras. E os policiais Civis dizem que basta seguir o que diz a Constituição.
Mais de três horas de conversa e nenhuma ação nova. Esse é o balanço da reunião da cúpula da Segurança Pública catarinense, realizada na manhã de ontem e solicitada pelo governador Raimundo Colombo, depois que o clima entre as polícias Militar e Civil pegou fogo nesta semana.
O encontro terminou com sorrisos, apertos de mão e um discurso repetido: não há conflito entre as instituições. É o que repetem o secretário de Segurança, César Grubba, e o comandante-geral da PM, coronel Nazareno Marcineiro. Mesmo em situações como as duras críticas à Polícia Civil feitas pelo tenente-coronel Luiz Rogério Kumlehn ex-comandante de Jaraguá do Sul.
Os dois se reuniram com o delegado-geral, Aldo Pinheiro D’Ávila, para colocar fim à relação tumultuada das corporações. Uma novidade que não deve interferir de imediato no trabalho das corporações, é que devem ocorrer novos encontros para colocar no papel as divergências, já levantadas, entre as polícias.
Além da formulação desse documento, a reunião não trouxe qualquer novidade, porque o governador Raimundo Colombo já havia adotado o discurso em entrevista. O único a não negar que há conflito foi o delegado Aldo D’Ávila. Ele destaca que o foco da reunião foi a “harmonização dos procedimentos”.
–A PC sempre teve e sempre terá um objetivo comum: proporcionar a melhor segurança para a população catarinense. Não temos outro foco dentro da nossa administração.
Questionado sobre a carta publicada no Diário Catarinense em que a Polícia MIlitar também critica alguns procedimentos adotados pela Civil , D’Ávila se esquivou. Segundo ele, não foram analisados “pleitos de classe”, a integração entre as polícias foi o objetivo principal do encontro.
Não há data para a formalização escrita dessas normas, tampouco para as próximas reuniões. Conforme a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança, os três líderes costumam se reunir sempre, pessoalmente ou pela internet, e o documento pode começar a ser confeccionado nessas ocasiões.
Para a PM, regras já estão claras
O comandante-geral da PM, por outro lado, entende que esse documento formulado a partir das reuniões não será propriamente como um regulamento, pois já existem normas que são do conhecimento dos oficiais e devem ser seguidas.
– Toda a nossa atuação é regulamentada desde a Constituição. Até os regulamentos internos de cada uma das organizações. Mas existem alguns pontos de interesse comum das polícias. Aí é que precisamos definir até onde vai a competência e responsabilidade de um e de outro.
A política de integração das polícias não foi o foco do encontro, mas ela continuará ocorrendo da mesma maneira, com implantação de novos softwares e acesso da PM ao Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp). Ao fim da reunião, o secretário, o comandante-geral da PM e o delegado-geral almoçaram um lanche na secretaria e seguiram para um evento em Blumenau.
Mesmo sem mudanças, a reunião não foi vista com bons olhos na Polícia Civil. Em uma das principais delegacias da Capital, o clima era hostil ontem. Delegados afirmando que as falhas da PM não são pontuais e que os oficiais sequer são qualificados.
O presidente da Associação dos Delegados (Adepol), Renato Hendges, não desmerece o papel dos militares, mas afirma ser contra a criação de uma comissão. Segundo ele, os fatos apontados não são pontuais. Para o delegado, o simples cumprimento da lei resolveria a questão.
O presidente da Associação de Oficiais Militares de SC (Acors), coronel Fred Schauffert, não comenta a reunião. Conforme ele, o que tinha para ser dito já foi falado em carta.
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