"Estrebucha!", diz PM a baleado agonizante -- ANDRÉ CARAMANTE, DE SÃO PAULO - FOLHA.COM, 24/08/2011 - 18h10
"Filho da puta, você não morreu ainda? Olha pra cá! Maldito. Não morreu ainda", diz uma das vozes, enquanto a imagem, em close, mostra a cena forte: um homem pardo, caído, espumando pela boca. Os olhos dele estão paralisados, em choque, com as pupilas dilatadas. A roupa está ensopada de sangue.
Ao fundo, é possível ouvir uma comunicação entre carros da polícia e os nomes Copom (Central de Operações da Polícia Militar) e Rota, grupo especial da PM paulista. Há um veículo Astra, de cor azul, com as portas abertas.
"Estrebucha! Filho da puta", diz uma outra voz.
Há um segundo homem estendido no chão. Ele está de bruços, algemado e chora.
"Tomara que morra a caminho [do hospital]. Não vai morrer, não?", diz, com ar de deboche, um outro PM.
As cenas estão gravadas em um vídeo obtido pela Folha. Elas estão nas mãos da cúpula da Segurança Pública paulista há duas semanas.
O Comando Geral da PM, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, da Polícia Civil, e o Ministério Público Estadual querem saber quem são os dois homens que aparecem caídos no chão e como eles foram feridos.
Além disso, investigam onde e quando as imagens foram feitas. Há suspeita de que o episódio tenha ocorrido na Grande São Paulo e que as imagens tenham sido gravadas pelos próprios PMs (numa cena de crime como a que aparece no vídeo, apenas policiais têm livre acesso).
As autoridades também buscam informações se os suspeitos estão vivos ou mortos ou se estão presos.
RESISTÊNCIAS
Entre janeiro e junho deste ano, 334 pessoas foram mortas por PMs (em serviço ou não) no Estado de São Paulo. A média diária é de 1,85. Desse total, 241 óbitos ocorreram em casos de "resistência seguida de morte em serviço". No mesmo período, o número de policiais militares mortos (em serviço ou não) foi de 25.
VEJA O VÍDEO
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Estamos vivendo no Brasil uma cenário de guerra onde a crueldade, o descaso e o desprezo à vida alimentam o comportamento de bandidos e policiais que agem como justiceiros à margem da lei, do direito, dos deveres e do seu juramento. Existe um ditado que diz "onde não há justiça, aparecem os bandidos, rebeldes e justiceiros.
Onde existe leis, mas elas não são aplicadas é como se não existisse leis e nem justiça. Um terreno fértil para o aparecimento de bandidos, mas também para justiceiros que muitas vezes são pessoas honestas, mas que se transformam em bandidos diante da impunidade e da injustiça que são vítimas.
Não pretendo defender bandidos ou justiceiros, pois estes deveriam ser presos, julgados e punidos com prisão perpétua que não existe no Brasil. Hoje bandidos são soltos logo após serem presos, recebem redução da pena de 1/6 e ganham auxílio reclusão, licenças fáceis e várias oportunidades de fuga.
Quero, porém, aproveitar este fato para alertar a todos sobre o caminho que está tomando nosso país diante das benevolências legais, da justiça morosa, do crescimento da violência e da corrupção, do descrédito nos parlamentares, do descaso dos governantes e da inoperância judicial que estimulam a impunidade dos bandidos, a conivência com as imoralidades, a tolerância das ilicitudes e as farras com o dinheiro público.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
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