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TROPA INCENDIÁRIA - CARLOS ETCHICHURY E CARLOS WAGNER, Colaborou Roberto Witter - ZERO HORA 27/08/2011
Definidos como “atos criminosos” pelo comandante-geral da BM, os protestos de PMs descontentes com os salários embaraçam a cúpula da Segurança Pública e abrem caminho para a quebra da rígida estrutura de comando militar. Entre a noite de quinta e madrugada de ontem, novos bloqueios com pneus incendiados em seis vias do Estado puseram mais combustível na delicada relação entre o comando da corporação e representantes dos soldados, aumentando o risco de insubordinação generalizada da tropa.
A tática de queimar pneus em rodovias como forma de reivindicar aumento salarial, adotada pela associação dos praças da Brigada Militar, constrange o comando da PM e a cúpula da Secretaria da Segurança Pública.
Entre o final da noite de quinta-feira e a madrugada de ontem, a fumaça negra das borrachas em chamas interrompeu o trânsito em quatro rodovias federais (numa delas em dois trechos), no Interior, e na avenida principal de Alvorada, na Região Metropolitana.
As manifestações, que limitam o direito de ir e vir dos motoristas, ocorreram em rodovias federais em Palmeira das Missões, Três de Maio, Sarandi e Rio Grande, em uma rodovia estadual em Gravataí e em uma avenida de Alvorada. Em três casos, foram deixados cartazes pedindo melhores salários para os policiais militares. Os atos, definidos pelo comandante-geral da Brigada Militar, Sérgio Abreu, como “criminosos”, ocultam um outro risco: a iminência de quebra de hierarquia e insubordinação na caserna, um dos pilares da rígida estrutura militar.
O relato de um oficial da cúpula da corporação, que pede para não ser identificado, ajuda a compreender a situação em que se encontram a Brigada e a Secretaria da Segurança Pública.
– Há o risco de insubordinação, à semelhança ao que já aconteceu em outros Estados. Nos quartéis, silenciosamente, o pessoal apoia as manifestações porque os salários dos soldados está muito defasado.
O mesmo coronel, que compartilha da intimidade do poder no QG da BM, apresenta uma dificuldade adicional:
– É complicado até para apurar responsabilidades porque, ao mesmo tempo que o pessoal do serviço de informações está mobilizado nas investigações, em paralelo, eles apoiam os protestos.
O sentimento nos quartéis apontado pelo oficial da ativa, sob anonimato, é explicitado pelo presidente da Associação dos Oficiais da Brigada Militar, José Carlos Riccardi Guimarães. Sem meias palavras, o tenente-coronel da reserva opina:
– Somos solidários aos praças que estão revoltados. Estou mais preocupado com a fome dos brigadianos do que com a quebra de hierarquia.
Em viagem a Rio Grande, o governador Tarso Genro prometeu pulso firme. Na mesma linha do coronel Abreu, Tarso definiu o protesto como um “delito”:
– Certamente será investigado pela Polícia Federal, e as pessoas vão responder. Não sei se tem conexão com o movimento dos brigadianos, tomara que não, porque se tiver é uma coisa grave, e algo que não pode ser colocado como pressão para negociação.
Em encontro com jornalistas num hotel no centro de Porto Alegre, no início da manhã, o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, mostrou-se surpreendido com o radicalismo das ações. Conforme o secretário, uma reunião, que ocorreria horas mais tarde, estava agendada havia 10 dias:
– Não tem sentido este tipo de protesto. São atos criminosos que serão investigados.
A posição enérgica do governador e de seus secretários parece ter surtido efeito. Ao final de uma reunião tensa de duas horas com o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, e o secretário Michels, o presidente da Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf), Leonel Lucas, anunciou uma trégua. Até que novos pneus voltem a arder.
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