Polícia e salários. Policiais civis temem violência e suspendem greve - JORGE ANTÔNIO BARROS, REPORTER DE CRIME, O GLOBO, 12/02/2012
Acabou a união de policiais civis, militares e bombeiros do Rio em torno da greve deflagrada no primeiro minuto de sexta-feira passada. O Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindipol) decidiu suspender a participação dos policiais civis no movimento até nova assembleia na quarta-feira próxima. Na Bahia, após o movimento que foi considerado um tiro pela culatra, os PMs decidiram retornar ao trabalho.
A decisão dos policiais civis do Rio foi tomada, segundo dirigentes sindicais, em consequência de um movimento que estaria sendo organizado por criminosos, aproveitando a greve na segurança pública.
-- Tivemos notícia de que ontem [sexta] pela manhã, três agências bancárias em São Gonçalo foram atacadas a tiros. Hoje [sábado], fui procurado por PMs que me relataram que marginais estariam planejando aproveitar o momento para espalhar violência -- afirmou o diretor jurídico do Sindpol, Francisco Chao, que desde a noite de quinta-feira, na Cinelândia, parecia ser uma das vozes mais equilibradas dentro do movimento.
Em entrevista à imprensa, no sábado, Chao afirmou que não quer os policiais civis sejam responsabilizados por episódios que coloquem em risco a vida dos cidadãos. A meu ver a decisão é acertada, mas vai rachar o movimento já enfraquecido pela prisão dos líderes, que continuam em Bangu 1. Soube que a medida ilegal foi aplaudida até mesmo nos círculos do Poder Judiciário e do Ministério Público estadual, por considerarem que teria sido a única alternativa do estado para conter o movimento grevista na polícia.
A divergência na greve acontece até mesmo entre os policiais civis. Fernando Bandeira, presidente do Sindicato dos Funcionários da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (Sinpol-RJ), afirmou que a greve só pode ser suspensa por uma assembleia. Esse sindicato é considerado inexpressivo pelo Sindicato dos Policiais Civis.
No segundo dia de greve, o movimento foi tranquilo em áreas da cidade por onde circulei -- entre a região da Tijuca e a Zona Sul, onde só um bloco, o Simpatia é Quase Amor, arrastou mais de cem mil foliões na orla de Ipanema. Tudo indica que a greve na PM fracassou mesmo. Havia policiamento do 23º BPM (Leblon) e o único problema que notei pelas ruas do bairro foi a presença maciça de flanelinhas, com os quais nem a Secretaria de Ordem Pública se preocupa. Tive que gastar meu latim para convencer um deles que só pagaria na volta porque só recebo salário após um mês de trabalho. Estava preparado para dar voz de prisão e conduzi-lo à 13ª DP, mas felizmente ele já havia dado o pinote, quando voltei.
Em Ipanema o que mais estranhei foi uma radiopatrulha do 23º BPM parada à tarde toda em frente ao número 168 da Rua Nascimento Silva. Provavelmente estava encarregada de proteger algum figurão da República, que não está nem aí para greve na polícia.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
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