PMs tentam invadir Assembleia na Bahia e são contidos por Exército. Tropas cercam prédio e tentam conter homens que querem se juntar a grevistas - Chico Otavio - O GLOBO, 6/02/12 - 10h07
SALVADOR - Contingentes do Exército que chegaram por volta de 7h à Assembleia Legislativa da Bahia, onde desde quarta-feira estão concentrados homens da Polícia Militar que fazem uma greve no estado, já entraram em embate nesta segunda-feira. Um grupo de cerca de cem grevistas e familiares de policiais que estão do lado de fora da Assembleia tentaram passar pelo bloqueio dos homens das Forças Armadas e invadir o local para se juntar ao grupo de PMs que estão dentro do prédio. Eles foram contidos por tiros de balas de borracha pela polícia do exército e pela tropa de paraquedistas. Um dos homens foi atingido nos dois pés e o outro foi alvejado na barriga.
Sem conseguir entrar no prédio, os grevistas se deslocaram para um outro ponto e foram seguidos de perto por homens do Exército, que usam escudos e capacetes protetores. Logo depois, os grevistas do lado de fora passaram a caminhar em círculo , fazendo com que as tropas fizessem o mesmo movimento. Além dos militares em terra, dois helicópteros sobrevoam o local em círculos.
Por volta das 8h40m, os militares reagiram novamente com balas de borracha e gás de pimenta contra os manifestantes. O embate aconteceu na área que o próprio Exército havia separado para os profissionais da imprensa.
Polícia quer prender na ação 11 policiais líderes da paralisação
Na manhã desta segunda-feira, foi possível avistar armas nas mãos de dois grevistas que estão dentro da Assembleia Legislativa. Em meio ao clima tenso um rapaz conseguiu romper o cerco da polícia e chegou à rampa de acesso à Assembleia.
É possível que a desocupação do prédio comece a qualquer momento. Para isso, cerca de mil homens do Exército, além de homens da Polícia Militar, da Coordenadoria de Operações Especiais da Polícia Civil baiana e da Polícia Federal fazem agora um cerco ao local. Veículos blindados das Forças Armadas, chamados Urutus, foram trazidos. O objetivo da operação, segundo o Coronel Márcio Cunha, porta-voz da 6ª Região Militar, é "isolar a Assembleia Legislativa com a finalidade de permitir o livre acesso de pessoas a essa área, a realização de negociação para a desocupação da Assembleia e a execução de mandados de prisão expedidos pela Justiça”. Segundo ele, a ação é respaldada pelo artigo 142 da Constituição e da Lei Complementar 97/99.
Um dos objetivos da ação é prender 11 militares considerados líderes da paralisação e que estão com mandado de prisão expedido pela Justiça. A Justiça havia expedido 12 mandados, mas um deles foi cumprido na madrugada de domingo, com a prisão de Alvin dos Santos Silva, lotado na Companhia de Policiamento de Proteção Ambiental (COPPA). Segundo nota do governo, ele foi detido pelo comandante da própria companhia, major Nilton Machado, por formação de quadrilha e roubo de patrimônio público (viaturas). O policial também responderá a um processo administrativo na corporação. Alvin foi encaminhado para a Polícia do Exército. Com a prisão dele, a polícia cumpre o primeiro dos 12 mandados de prisão expedidos pela Justiça.
Um dos grevistas destes militares que estão com mandado de prisão expedido é o presidente da Associação de Policiais, Bombeiros e de seus familiares (Aspra), o soldado Marco Prisco. Advogado do Centro de Apoio Jurídico dos Policiais Militares Associados, David Esmeraldo defende os grevistas e deu uma lista com 11 nomes de policiais que tiveram o mandado de prisão expedido pela Justiça. São eles: Marco Prisco, Alessandro Reis, Fábio Brito, Alvin Silva (preso na madrugada de domingo), Edianário Santos, os sargentos Marcos Vinícius e Elias, os soldados Josafá, Augusto Júnior e Gilvan, além do cabo Orenfeld.
Esmeraldo disse ainda que já foi pedido um habeas corpus preventivo para estes militares, mas a Justiça negou.
Os grevistas, muitos deles armados e usando touca ninja, prometem resistir. Há mulheres e crianças entre os ocupantes do prédio. Em entrevista coletiva na noite de domingo, o presidente da Assembleia, deputado Marcelo Nilo (PSDB), pediu ao comando das forças de segurança que assumiram o policiamento da capital baiana e de outras cidades durante a greve que determinassem a desocupação do prédio até a meia-noite para que o expediente começasse normalmente na manhã desta segunda-feira.
No início da noite, a luz foi cortada no prédio, e Marco Prisco conclamou os grevistas a resistirem, recomendando que não usassem armas de fogo.
Desde o início da greve, foram registrados 89 homicídios
Quarenta homens do Comando de Operações Táticas, a “tropa de elite” da Polícia Federal chegaram à cidade por determinação do governo federal.
Marcelo Nilo pediu ao general Gonçalves Dias, comandante das forças de segurança na Bahia, na 6ª Região Militar do Exército, apoio para a retirada dos grevistas do prédio da Assembleia, no Centro Administrativo da Bahia (CAB). Nilo afirmou que não admite que o prédio seja usado para “abrigar fugitivos da Justiça com mandado de prisão em aberto”:
— A Assembleia está funcionando de forma precária, os funcionários estão faltando ao serviço, há homens armados pelos corredores, pelas rampas de acesso e utilizando os banheiros. Já perdi a paciência, desde sexta-feira tentamos uma maneira pacífica para desocupar o local.
Já o general Gonçalves Dias disse que está fazendo tudo para facilitar as negociações, mas que cabe ao governo do estado conduzir o diálogo com os grevistas:
- Não quero que haja morte aqui, não quero que haja confronto.
Por volta das 21h de domingo, Prisco desceu a rampa da Assembleia e disse aos manifestantes ter recebido uma contraproposta do “coronel Castro”. Segundo ele, a proposta contemplava anistia para todos os policiais, pagamento parcelado de dois tipos de gratificação e a revogação de 11 dos 12 mandados de prisão expedidos pela Justiça, menos o dele. A proposta foi rejeitada pelos grevistas.
Desde que a greve começou, terça-feira passada, foram registrados 89 homicídios em Salvador e Região Metropolitana, de acordo com boletins da Superintendência de Telecomunicações das Polícias (Stelecom).
Nos seis primeiros dias de greve, o número de homicídios na capital e Região Metropolitana aumentou 129% em comparação ao mesmo período da semana anterior.
Escolas em férias forçadas
Cerca de 450 escolas da rede privada no estado devem continuar em férias forçadas. O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Sinep-BA), Natálio Dantas, confirmou ter emitido recomendação para que as escolas particulares da Bahia só retornem às aulas após o fim do motim de policiais militares. O grupo educacional que reúne os colégios São Paulo, Anchieta e as unidades Anchietinhas confirmou que acatará a orientação do sindicato, suspendendo as atividades nesta segunda-feira.
— Os pais devem usar o nosso site como canal de comunicação. Nossa preocupação é a segurança dos alunos durante o trânsito deles — afirmou Antônio Bamberg, diretor técnico e pedagógico das escolas que somam 4,5 mil estudantes na capital.
Na rede pública estadual, cerca de um milhão de estudantes e 40 mil professores voltam às aulas nesta segunda-feira, em meio ao cenário conturbado da segurança pública, devido à paralisação de parte de efetivo de 32 mil policiais militares. O secretário estadual da Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa, garantiu que o retorno escolar ocorrerá normalmente, garantido pela presença de homens do Exército e de policiais militares não amotinados. Não informou, contudo, quantos homens atuarão na segurança dos colégios estaduais:
— Há um centro de operações à disposição das forças, e o gabinete emergencial já está funcionando. Temos uma parcela ínfima de grevistas, bem menor que o número do início.
Já o secretário municipal de Educação de Salvador, José Carlos Barcelar, afirmou que pediu a cada diretor para avaliar se sua escola tem ou não condições de dar início às aulas. O retorno das férias estava marcado para esta segunda-feira. A rede municipal de ensino da capital baiana tem 425 escolas e 160 mil alunos.
Um terço do efetivo policial da Bahia está em greve
A estimativa inicial do governo é que um terço (pouco mais de dez mil policiais) do total de PMs tenha parado. Sem dar detalhes da distribuição do efetivo pela capital e pelo interior, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general José Nardi, afirmou que mais de três mil homens estão na Bahia, “a maior massa” já empregada nessas operações.
O líder da greve e presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros e dos seus Familiares do Estado Bahia (Aspra) passou mal na noite de sábado e precisou ser acompanhado por uma enfermeira. Ele sofre de problemas e recebeu medicação intravenosa.
O governador Jaques Wagner, por intermédio de sua assessoria de imprensa, negou que tenha ajudado, em 2001, a greve dos policiais militares, acusação feita sábado por Prisco.
— Essa informação é absurda. O governador tem uma carreira política amplamente conhecida pela sociedade. A responsabilidade e o compromisso com a democracia são alguns dos seus princípios de ação na vida pública — disse o porta-voz Ipojucã Cabral.
Sábado, a secretaria de Segurança recuperou as 16 viaturas que estavam em poder dos grevistas.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
EXÉRCITO CONTÉM PMS GREVISTAS QUE TENTARAM INVADIR LEGISLATIVO DA BA
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