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EDITORIAL ZERO HORA 07/02/2012
Está acontecendo na Bahia, mas interessa a todo o país esta greve da Polícia Militar que já gerou dezenas de assassinatos, saques no comércio, invasão de prédios públicos e caos no transporte coletivo da capital baiana, além de deslustrar a imagem do Brasil na antevéspera de eventos esportivos internacionais em território brasileiro.
O pano de fundo deste foco de descontrole, que ameaça espalhar-se para outros Estados, é a mentalidade corporativa de servidores que se julgam no direito de fazer a sociedade refém de seus interesses. Mesmo que seja justa a reivindicação dos policiais militares baianos, mesmo que seja uma questão de sobrevivência, nenhum segmento da sociedade, especialmente servidores mantidos pelos impostos dos cidadãos, pode promover a desordem para pressionar autoridades a atendê-los.
Tem total razão o governador Jacques Wagner ao se recusar a negociar com desordeiros e a anistiar infratores da ordem pública. As lideranças da manifestação violenta devem ser identificadas e punidas na forma da lei. Depois, sim, cabe ao governo baiano apreciar as demandas dos policiais decentes e atendê-las na medida de suas possibilidades.
É preocupante a informação de que a greve de Salvador está sendo orquestrada nacionalmente para pressionar a aprovação pelo Congresso da PEC 300, que cria um piso nacional para policiais. Evidentemente, a proposta de emenda constitucional deve ser examinada pelo parlamento e avaliada por critérios de justiça e de adequação a cada unidade da federação. Endereçar pleitos ao Congresso e até pressionar deputados e senadores para as causas corporativas são caminhos legítimos e democráticos. Mas as greves no serviço público, especialmente quando incluem episódios de violência e desrespeito aos direitos dos demais cidadãos, não podem ser toleradas. Por isso, no atual episódio, justifica-se plenamente a presença do Exército e da Força Nacional em Salvador.
O desejável é que o conflito seja encerrado com negociação, mas sem excluir a responsabilização dos manifestantes que optaram pela desordem e pela violência. De qualquer forma, há uma lição importante a ser considerada pelos governantes, pelas lideranças políticas e também pelos sindicatos de servidores de outros Estados brasileiros. É pelo diálogo – e não pelo jogo de braço – que as partes poderão avançar.
E o país precisa também abrir um debate amplo sobre a responsabilidade dos servidores públicos para com a nação, pois o concurso, a estabilidade no emprego e as prerrogativas de determinadas funções não dão direito a indivíduos e corporações de se apropriar do Estado e de fazer o cidadão refém de suas causas. Os funcionários conscientes de suas atribuições, que certamente são a maioria, merecem ser valorizados e remunerados dignamente, até mesmo para não serem confundidos com essa minoria que desmerece a classe.
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