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Exército cerca grevistas na Bahia. Enquanto a criminalidade cresce no Estado, imediações do prédio da Assembleia, em Salvador, têm dia de tensão e confrontos - ZERO HORA 07/02/2012
Forças federais, grevistas da Polícia Militar baiana e apoiadores do movimento protagonizaram ontem uma série de confrontos em frente à Assembleia Legislativa da Bahia. Dentro do prédio, cerca de 500 manifestantes estão sitiados. Às vésperas do Carnaval, as cenas de violência e a insegurança que tomou Salvador assustam o país.
Olocal, onde os líderes da greve e seus familiares estão concentrados, foi cercado pelos homens do Exército que tentam garantir a segurança no Estado após o início da paralisação dos PMs, iniciada em 1º de fevereiro. A tomada da Assembleia Legislativa pelos grevistas é o ponto máximo da maior crise enfrentada pelo governo Jaques Wagner (PT).
O petista pediu à presidente Dilma Rousseff que tropas federais assumissem o controle do policiamento na capital baiana para evitar a violência nas ruas, agravada pela falta de policiamento ostensivo.
Ontem, houve quatro confrontos entre o Exército e manifestantes. Os conflitos aconteceram quando manifestantes que estão fora do prédio tentaram entrar. Entre rasantes de helicópteros, bombas de efeito moral foram detonadas e gás de pimenta foi lançado contra a multidão. Balas de borracha causaram escoriações em cinco pessoas.
Crianças em prédio sem luz e água
Sitiados e armados, grevistas estavam sem luz e água. Até a noite de ontem, o Exército dizia que não faria a desocupação à força. Uma das preocupações é com a presença de familiares de PMs – mulheres e crianças – entre os sitiados. Por volta das 21h, oito crianças acompanhadas de adultos deixaram o local.
Cerca de 2 mil homens do Exército, da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal, além de PMs que não aderiram à greve, estão mobilizados para a operação. O Comando de Operações Táticas da Polícia Federal é o encarregado de cumprir o mandado de prisão contra o líder dos grevistas, o ex-PM Marco Prisco.
Dentro da Assembleia, os acampados ocuparam a rampa de acesso ao prédio e os andares superiores, onde montaram postos de observação. Do lado de fora, grades de ferro foram instaladas ao redor do prédio.
– Não queremos que seja uma nova Canudos, só queremos nossos filhos de volta – disse Arlete Meireles, mãe de um PM amotinado.
Temor, mortes e alerta dos Estados Unidos
Chegou, ontem à noite, a 95 o número de homicídios registrados na Bahia desde o início da greve dos Policiais Militares no Estado, em 1º de fevereiro. O Estado tem o apoio de mais de 2,5 mil homens das Forças Armadas e da Força Nacional que atuam no patrulhamento em Salvador, Feira de Santana, Barreiras e Paulo Afonso. Rumores de arrastões provocaram pânico em cidades baianas e fizeram com que parte do comércio fechasse as portas nos últimos dias, num “efeito cascata”.
Em Ilhéus, Itabuna e Vitória da Conquista, na região sul do Estado, parte das lojas, shoppings e supermercados não funcionou.
– Correu boato de toda natureza, a população entrou em paranoia e lojas fecharam as portas – disse o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Vitória da Conquista, Marcos Alberto das Virgens.
Situação semelhante ocorreu em Itabuna, segundo o presidente da OAB local, Andirlei Silva:
Ontem, o Departamento de Estado dos Estados Unidos divulgou um alerta no qual aconselha aos americanos que adiem viagens à Bahia. “Os cidadãos americanos são aconselhados a acompanhar as reportagens e a considerar adiar viagens não essenciais a essas áreas” diz a nota, publicada na página da Embaixada dos Estados.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, chamou ontem de “vandalismo” a atitude de alguns dos PMs que estão em greve na Bahia.
– Uma coisa é reivindicar e exercer o direito de greve. Outra coisa é o abuso, a prática de crimes e atos de vandalismo – disse.
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