ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

FARDA CONTRA FARDA

Eliane Cantanhêde - FOLHA.COM. 09/02/2012 - 07h00


O comandante militar do Nordeste, general-de-Exército Sampaio Benzi, não está fazendo uma intervenção branca no comando da 6ª Região, em Salvador. Na verdade, é uma questão de hierarquia, de cadeia de comando. Ele já deveria estar lá há muito tempo. Chegou atrasado.

Benzi, quatro estrelas, comanda toda a região e não importa que sua sede seja em Recife. Ele tem de estar onde as coisas estão acontecendo, e elas estão acontecendo na Bahia, onde policiais militares fazem motim, desafiando os superiores, o Exército e as autoridades civis. As reivindicações são até justas, os meios são inadmissíveis.

Sim, o comandante da 6ª Região, general-de-divisão (três estrelas) Gonçalves Dias --que foi chefe da segurança de Lula no governo passado-- foi no mínimo infeliz ao tentar imitar o estilo Lula e confraternizar com os amotinados, com abraços e até um bolinho de aniversário. Não pegou bem.

O governador petista Jaques Wagner não gostou, o Planalto tomou as dores e, de repente, todo mundo lembrou que o comandante do Nordeste tinha de estar lá. Benzi, porém, não vai substituir e sim somar com o seu subordinado Gonçalves Dias. A situação é considerada grave. Já imaginou se policiais militares e soldados trocam tiros? E se a greve se alastra para o resto do país, como parece?

O governo já tem problemas demais na Bahia, vê o fantasma de uma greve disseminada de policiais se materializando e tudo o que não quer neste momento é um confronto com as Forcas Armadas por conta de um general que achou que sendo bonachão estava sendo democrático.

Os ministérios da Justiça e da Defesa negam que ele esteja sendo afastado e haja intervenção. Em nota, liberada na noite de quarta, o Exército comunica que Gonçalves Dias continua no comando da 6a. Região e das operações de garantia da lei e da ordem na Bahia.

Um pepinaço. Lá com seu travesseiro, o general deve estar remoendo o fato de o PT que hoje joga o Exército os policiais grevistas é o mesmo que alimentou o monstro quando a greve era contra o adversário PFL-DEM, anos atrás.

No fundo, o que os milicos gostariam de dizer para os governos petistas de Brasília e da Bahia é: "Quem pariu Mateus que o embale. Tome que o filho é teu".

Mas milico cumpre ordem, segue a hierarquia e bate continência para o poder civil. Ainda bem. Agora, é tomar o máximo cuidado e torcer para que as coisas não saiam do controle.



Eliane Cantanhêde, colunista da Folha e da Folha.com, é colaboradora do jornal "Em Pauta" da Globonews e comentarista da rádio Metrópole da Bahia. Lançou no final de 2010 o livro "José Alencar, amor à vida", biografia do vice-presidente de Lula editada pela Sextante.

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