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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

PM FORAM OBRIGADOS A OCULTAR PROVAS NO CASO AMARILDO



FOLHA.COM, 28/10/2013 - 12h49

PMs contam que foram obrigadas a ocultar provas no caso Amarildo

DO RIO


Quatro soldados, todas mulheres, contaram ao Ministério Público estadual do Rio que receberam ordens de policiais superiores para ocultar provas da tortura a que foi submetido o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, em 14 de julho passado. As revelações foram feitas pela TV Globo e exibidas na manhã desta segunda-feira (28).

Até o momento, 25 policiais, lotados na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha foram denunciados pelo desaparecimento de Amarildo. Deste total, 13 estão presos e outros 12 respondem em liberdade. Todos os presos negam as acusações de que teriam torturado o ajudante de pedreiro e ocultado o seu cadáver.

Demorou pouco mais de três meses para que as quatro policiais prestassem depoimento contra os PMs da UPP. Um delas disse que a tortura durou cerca de 40 minutos. Essa policial revelou ter ouvido gritos de socorro atrás da unidade. Então, neste momento foi até a frente da sala e colocou as mãos sobre os ouvidos para não ouvir o que estava acontecendo.

"Isso não se faz nem com um animal", teria dito na ocasião. Ela revelou que após as agressões praticadas pelos policiais, tudo ficou em silêncio. Então, ela disse ter ouvido risos. A policial está denunciada por omissão à tortura. Segundo entendimento do Ministério Público estadual, a policial era uma entre os 12 PMs que estavam no local e que poderiam ter evitado a tortura contra o ajudante de pedreiro.

As soldados disseram que foram obrigadas pelos superiores a ficar dentro da sede da UPP, junto com outros colegas de farda. "Todo mundo ouvindo o que estava acontecendo, uma óbvia tortura ali. E aí uma das policiais fala: 'Com esse barulho não dá pra trabalhar'. Não é assim: 'O que está acontecendo? Alguém está sendo torturado?' É 'com esse barulho não dá pra trabalhar'.

O depoimento teria sido prestado pela policial Rachel de Souza Peixoto. Ela pertence ao grupo de 25 PMs que se tornaram réus no caso.

Após reclamar da situação, o major Edson Santos, então comandante da unidade, manda o tenente Luiz Felipe de Medeiros resolver a situação. Segundo o depoimento da policial, nenhum dos dois PMs demonstrou estar surpreso com o que acontecia atrás do contêiner da UPP onde estaria acontecendo a tortura.

Com os depoimentos, os promotores do Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado) entendem que após a tortura à Amarildo de Souza o seu corpo foi enrolado em um plástico preto e retirado pelo teto de uma cobertura montada atrás do contêiner e levado para a mata.

O que foi feito com o corpo do ajudante de pedreiro ainda não foi revelado pelas investigações. Policiais da Divisão de Homicídios realizaram perícias no local em busca de indícios que apontassem o que pode ter acontecido com o corpo de Amarildo de Souza. No local onde o ajudante de pedreiro foi torturado, os policiais da UPP lavaram e criaram um depósito de equipamentos para dificultar as investigações.


23/10/2013 - 20h09
Justiça mantém transferência de major preso pela morte de Amarildo

DO RIO



A 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio determinou que o ex-comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, o major da Polícia Militar Edson dos Santos e o tenente Luiz Felipe de Medeiros permaneçam detidos na penitenciária de Bangu 8, zona oeste da cidade.

Eles são acusados de envolvimento no desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, em 14 de julho passado.

Tanto o major como o tenente foram levados inicialmente para o Batalhão Especial Prisional --cadeia onde ficam os policiais militares detidos no Rio--, em Benfica, na zona norte do Rio, juntamente com outros oito denunciados, mas, a pedido do Ministério Público estadual, os oficiais foram transferidos para Bangu 8.

Os promotores do Ministério Público informaram ter recebido denúncias anônimas de que o major e o tenente estariam exercendo influência sobre os demais réus do processo.

O advogado Saulo Salles que defende os dois policiais alegou que a transferência aconteceu baseado em provas sem consistência. Salles ainda apresentou ao desembargador Marcus Quaresma declarações dos outros oito presos informando que nunca foram coagidos pelo major Edson Santos.

O argumento não convenceu ao desembargador que tomou a decisão de mantê-los em Bangu. O caso será levado ao colegiado da Câmara Criminal para que se decida definitivamente sobre a situação. A data ainda não foi definida.

PRESOS

Os três PMs que tiveram as prisões decretadas pela Justiça ontem se apresentaram nesta quarta-feira e seguiram para o Batalhão Especial Prisional. Eles são os sargentos Reinaldo Gonçalves e Lourival Moreira, e o soldado Wagner Soares.

Até o momento, 25 PMs foram denunciados por envolvimento no desaparecimento do ajudante de pedreiro. Destes, dez estão presos há 20 dias. Com a apresentação dos três PMs na tarde de ontem, outros 12 vão responder em liberdade. Eles são acusados de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver.

Amarildo de Souza desapareceu após ser levado para a sede da UPP há pouco mais de três meses.

Após depoimentos, durante as duas últimas semanas no Ministério Público estadual foram identificados quatro policiais militares que participaram ativamente da sessão de tortura a que Amarildo foi submetido ao lado do contêiner da UPP da Rocinha.

De acordo com a promotora Carmem Elisa Bastos, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital torturaram Amarildo depois que ele foi levado para uma averiguação na base da UPP.

Os promotores do MP ainda suspeitam que outros PMs tenham participado da tortura contra o ajudante de pedreiro.

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