ZERO HORA 03 de outubro de 2013 | N° 17572
SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI
A se julgar pelos resultados do exaustivo inquérito conduzido pela Polícia Civil fluminense, o pedreiro Amarildo de Souza foi torturado, antes de ser morto por PMs, possivelmente pelo exagero nos maus-tratos. Nada espantoso para uma Polícia Militar de históricos padrões violentíssimos, num Estado com tradição em execuções de suspeitos.
Tudo talvez virasse nota de rodapé nos jornais não se tratasse de uma morte ocorrida dentro de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Para quem não é do Rio e nem está acostumado ao noticiário policial: as UPPs são o novo cartão de visitas carioca. São postos de policiamento comunitário compostos de policiais treinados para interagir com os moradores da região. A conhecê-los pelo nome. A respeitá-los.
Tudo mesclado com fortes investimentos em infra-estrutura, como rede elétrica, de informática, canchas de esporte e até salões para dança, em muitos casos. A mais moderna proposta de policiamento no Brasil, reconhecida até mesmo pela renhida oposição enfrentada pelo governador fluminense Sérgio Cabral. E sei do que falo, porque visitei os morros e as principais unidades pacificadoras em 2011, sem me identificar, para ver se funcionava mesmo. Os postos comunitários eram até melhores do que eu esperava.
Pois Cabral acaba de ter sua principal vitrine política, a UPP, estilhaçada por um episódio sem justificativa. Por mais que tentem criminalizar Amarildo, os PMs que o prenderam – e, conforme investigações, o torturaram e o mataram – terão dificuldade de explicar como se transformaram de guardiões comunitários em carrascos.
Os métodos utilizados no caso, um interrogatório recheado de choques elétricos para descobrir paradeiro de traficantes, pareciam longe de contaminar as UPPs. Até agora... Compreensível que a comunidade grite contra esse crime. Só não ponham a culpa no projeto das UPPs, de longe a melhor ideia já implementada no policiamento das favelas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário