Governo prepara combate a policiais corruptos após achaques ao PCC
Cúpula da Segurança Pública vai usar escutas do MP para investigar banda podre das Polícias Militar e Civil; material revelado pelo 'Estado' traz cotidiano de negociação de propinas de até R$ 300 mil entre agentes do Deic e bandidos da facção
12 de outubro de 2013 | 17h 51
Marcelo Godoy e Fabio Leite - O Estado de S. Paulo
Após o mapeamento do crime organizado, o inimigo agora é a banda podre das polícias. A cúpula da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo quer ter acesso aos dados e áudios recolhidos pelo Ministério Público Estadual (MPE) em três anos e meio de investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC) para desferir um duro golpe contra policiais corruptos.
As interceptações telefônicas mostram um cotidiano de achaques feitos por policiais civis e militares contra bandidos importantes da facção, que são sequestrados e mantidos em cárcere em delegacias. Até mesmo parte do material apreendido na megainvestigação do MPE era posta à venda aos criminosos. Ao todo, 175 integrantes do PCC foram denunciados, conforme revelou o Estado. “Temos inúmeras investigações em andamento. Aguardamos que o Ministério Público compartilhe conosco as provas para que possamos tomar providências”, afirmou ao Estado o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira.
Em um dos grampos mais graves, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) são flagrados oferecendo arquivos de computadores e pen drives apreendidos na operação que terminou com a morte de Ilson Rodrigues de Oliveira, o Teia, em 2011.
No áudio de 7 de maio daquele ano, Antonio José Müller Junior, o Granada, conversa com um integrante da chamada Sintonia dos Gravatas, o departamento jurídico do PCC. O homem, identificado como Keno, diz que conversou com policiais do “prédio” - como chamam o Deic. “É só encontrar lá para trocar umas ideias pra tá tirando esses pen drive aí.”
Na chácara em que estava Teia, policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) mataram três acusados e prenderam outros cinco. Computadores com documentos da facção, uma metralhadora, um fuzil e duas pistolas foram levados para a sede do Deic.
Em outro caso, um dos chefes da facção, Daniel Vinícius Canônico, o Cego, conversa com Jogador, um integrante da facção que foi detido em 2010 por cinco policiais na zona leste de São Paulo. O bandido foi levado ao 103.º DP (Itaquera), onde o mantiveram detido. Queriam R$ 300 mil para soltá-lo, mas aceitaram libertá-lo por R$ 130 mil pagos em duas parcelas - à vista e após 30 dias.
Cego quer saber se “a cana é da família”, ou seja, se Jogador estava trabalhando para a facção ou se fazia serviço particular quando foi detido. Nesse caso, em vez de o PCC bancar a propina, ele só emprestaria o dinheiro para Jogador honrar o acerto com a polícia.
Estratégia. A estratégia do governo estadual para enfrentar a ameaça do PCC, que planeja matar até o governador Geraldo Alckmin (PSDB), é também isolar os líderes da facção. Dessa forma, tentaria se evitar a repetição dos atentados patrocinados pela facção em 2006 e 2012.
Para tanto, é fundamental que os chefes do bando sejam enviados por um ano para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Além disso, o governo recorrerá a bloqueio dos sinais de celulares nos principais presídios dominados pelos bandidos, um investimento de R$ 30 milhões em 23 penitenciárias.
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