Letícia Sander
RIO DE JANEIRO - "Não", foi logo dizendo o governador do Rio, Sérgio Cabral, o caso Amarildo "não é a marca das UPPs". Era domingo, e a 36ª Unidade de Polícia Pacificadora acabara de ser implantada no complexo de favelas do Lins.
O peemedebista insistia em falar do futuro, a ocupação da sensível região da Maré, prevista para o início de 2014, mas as atenções seguiam divididas com outra história.
Na sexta-feira, dez policiais militares foram para a cadeia, acusados de torturar até a morte e ocultar o cadáver do ajudante de pedreiro cuja história transcendeu os limites do Rio. A divulgação de depoimentos e grampos trouxe à tona uma rotina de choques elétricos, asfixia com uso de sacos plásticos, brutalidade. Uma mancha. E logo na Rocinha, maior favela da América Latina e cuja ocupação, em 2011, numa operação carregada de simbolismo e batizada de "Choque de Paz", foi vendida como um gol de placa de Cabral.
Se antes as imagens de policiais entrando armados pelas ruelas das favelas reinavam com destaque de novela das nove, agora há outras cenas no ar. O drama da família do pedreiro invadiu o programa de auditório matinal da jornalista Fátima Bernardes. Artistas se mobilizaram. Tem até leilão pró-Amarildo por aí.
Não resta dúvida de que o já combalido governador vem sendo levado a administrar mais uma crise de credibilidade, justo na área que até hoje mais alavancou sua popularidade, a segurança pública.
A atuação da PM na repressão e no acompanhamento das manifestações só apimenta o debate. Depois de uma sucessão de excessos flagrados em vídeos que vazaram na semana passada, e que incluíram uma tentativa de flagrante forjado, a polícia parece ter se "encolhido" no protesto de anteontem. Resultado? O centro do Rio amanheceu depredado. E o comportamento da PM, um tanto 8 ou 80, pra lá de questionado.
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