Análise. Especialista cobra reforma estrutural da PM para novas crises serem evitadas - O GLOBO, 30/09/2011 às 00h11m; Emanuel Alencar
RIO - A crise na segurança pública do Rio, que culminou na troca de comando da Polícia Militar , não deve alterar o plano de voo da política de segurança pública planejado por José Mariano Beltrame. A avaliação é compartilhada pelo cientista político Gláucio Soares, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), e por Paulo Storani, ex-capitão do Bope e mestre em antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Criminalidade: menores patamares em 20 anos
Ambos consideram a gestão de Beltrame positiva e destacam que os índices de redução da criminalidade atingiram os menores patamares em 20 anos. Gláucio ressalta que a manutenção da política está garantida pois "rende benefícios políticos ao governador".
- A permanência de Beltrame é a garantia de que a política não muda. A crise acontecer neste momento chega a ser irônico porque ocorre num momento em que ocorre a maior redução do número de mortos por homicídios, há mais de uma década. De 2007 a 2010, 2.881 vidas foram poupadas, se compararmos com os patamar de 2006 - avalia Soares, para quem o ex-comandante Mário Sérgio Duarte renunciou por ter "alto sentido de honra".
O especialista do Iuperj teme que o "afã punitivo" da sociedade brasileira atual - e em particular da fluminense - acabe por cometer injustiças:
- O que garante (manutenção da política) é que ela rende benefícios ao governador.
Mas a sociedade está cansada de todo o tipo de corrupção, existe um ânimus punitivo exacerbado. Devemos ficar atentos ao perigo de cometermos injustiças. É importante lembrar que as investigações estão sendo feitas durante a gestão. A corrupção está sendo combatida.
Adotando uma postura mais crítica, Paulo Storani dá nota oito ao gestor Beltrame, mas cobra reformas contundentes nas estruturas das polícias. Só assim, ressalta ele, novas crises serão evitadas:
- A polícia do Rio tem um dos piores salários do país. Falta controle das ações dos oficiais e investimento em tecnologia. A questão não é falta de eficiência operacional. Tanto é que o (tenente-coronel) Cláudio Luiz Silva Oliveira recebeu gratificação há pouco tempo por diminuir os índices de criminalidades do 7º BPM. Mas a custa de quê? - questionou Paulo Storani, que elogiou o amigo Mário Sérgio: - Ele é o cara com o maior coração que eu conheço. Talvez, ao assumir o comando, tivesse que diminuir esse coração. Pedir exoneração e assumir o erro foi uma atitude de "caveira".
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
domingo, 2 de outubro de 2011
REFORMA ESTRUTURAL E SALARIAL - A POLÍCIA DO RIO TEM OS PIORES SALÁRIOS DO PAÍS
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