REBELDIA INVESTIGADA. Dois PMs são indiciados por protestos e ameaça. Um policial foi apontado como responsável por queima de pneus e outro por ato contra governador - KAMILA ALMEIDA, ZERO HORA 20/10//2011
Dois meses depois dos primeiros protestos com queima de pneus se iniciarem no Estado, a polícia gaúcha se manifestou oficialmente com a indicação de seis pessoas identificadas. Duas delas foram indiciadas pela Polícia Civil e presas em suas residências por outros delitos durante mandado de busca e apreensão realizado ontem pela Brigada Militar em Alvorada. Das outras quatro, duas são civis e duas da corporação militar.
A delegada Graciela Foresti, titular da 3° DP de Alvorada, indiciou o segundo-sargento da reserva João Carlos de Sousa pela queima de pneus naquele município e o soldado do 24° BPM de Alvorada Marcelo Machado Maier, por incêndio e ameaça contra o governador Tarso Genro. Ambos foram presos na manhã de ontem e encaminhados ao Presídio Militar, localizado no bairro Partenon, em Porto Alegre. No entanto, as prisões não estão relacionadas aos protestos. Sousa foi detido por desacato a autoridade, e Maier, por porte de arma. O inquérito deve ser enviado à Justiça de Alvorada ainda hoje. Como os episódios tiveram continuação em Porto Alegre, a investigação que diz respeito a Alvorada também está sendo realizada pela 1° DP de Porto Alegre.
A Brigada Militar já suspeitava da participação dos indiciados nos crimes e contou com o apoio da Polícia Civil de Alvorada para o recolhimento de provas. Os outros quatro suspeitos estão sendo investigados pela Brigada Militar: dois civis que estariam envolvidos com Sousa e mais dois soldados da BM que estariam envolvidos com Maier. Os nomes dos quatro foram mantidos em sigilo pela polícia, por falta de provas.
Ocorreram mais de 70 manifestações no Estado
Para chegar ao indiciamento, a polícia usou interceptações telefônicas dos suspeitos. Após ouvir as escutas, a delegada Graciela diz que conseguiu a confirmação de que Sousa estava no local do incêndio, em frente à prefeitura do município, combinando o ato pelo telefone. No caso de Maier, a prova de envolvimento no crime foram gravações telefônicas obtidas de uma negociação com uma emissora de TV (cujo o nome não foi divulgado porque a delegada entende que a empresa não cometeu crime) para a divulgação de um vídeo gravado por ele, que anunciava o atentado do dia 15 de setembro no Viaduto Otávio Rocha, em Porto Alegre.
Para o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Sérgio Abreu, o ato praticado pelos PMs fere a honra da corporação.
– Afrontaram todos os princípios éticos da corporação, usando farda para praticar esses crimes e expondo a imagem da corporação. Não há o que justifique o que eles fizeram – disse o coronel Abreu.
Essas foram as primeiras conclusões de uma ação por parte da BM que inclui 26 inquéritos policiais-militares que ainda devem ser instaurados para apurar os mais de 70 protestos que ocorreram desde agosto em todo o Estado.
Contraponto - O que diz Nilton de Oliveira, advogado de João Carlos de Sousa: O advogado Nilton César Paulette de Oliveira, representante de João Carlos de Sousa informou que entrará com um pedido de liberdade provisória do seu cliente entre a madrugada e a manhã de hoje. Ele afirma que a alegação de que tenha havido desacato durante o mandado é falsa e não quis comentar a respeito do indiciamento. Zero Hora não conseguiu ontem contato com advogado de Marcelo Maier.
ENTENDA O CASO
- Os protestos começaram no dia 4 de agosto deste ano como uma forma de reivindicação salarial.
- Houve pelo menos 70 casos de queimas de pneus, com o bloqueio de estradas
- Diversos casos ocorreram pelo Interior desde então. No início foram tratados isoladamente, e a recomendação era de que cada batalhão apurasse as ocorrências na sua área.
- Os casos que envolvem um dos PMs indiciados pela Polícia Civil diz respeito à queima de pneus realizada em agosto em frente à prefeitura de Alvorada.
- Na madrugada de 15 de setembro, houve o primeiro protesto nas proximidades da Praça da Matriz, quando um boneco fardado, amarrado a uma bomba falsa, foi abandonado no Viaduto Otávio Rocha.
- Oito dias mais tarde, duas bananas de explosivos, sem o detonador, foram deixadas em frente ao posto do 9° BPM na Rua Fernando Machado e continha ameaças diretas ao governador Tarso Genro.
O TRABALHO DA POLÍCIA CIVIL
A 3° Delegacia da Polícia Civil de Alvorada indiciou dois suspeitos pelos crimes de incêndio e ameaça contra o governador Tarso Genro. Um deles, João Carlos de Sousa, por queima de pneu naquele município, e o outro, Marcelo Maier, pela ameaça. A delegacia ficou encarregada de colher provas contra os dois, que já eram alvos de suspeitas por parte da Brigada Militar. Em razão disso, foi autorizada a quebra de sigilo telefônico de ambos. Assim, as interceptações telefônicas e os monitoramentos dos suspeitos ajudaram na conclusão da investigação. Nelas, Sousa aparece combinando o momento em que colocaria fogo em pneus em frente à prefeitura de Alvorada, e Maier, negociando a veiculação de um vídeo com uma emissora de TV, onde aparecia combinando os atos de ameaça ao governador que ocorreram na Capital em meados de setembro. Agora, o inquérito será encaminhado hoje à Justiça de Alvorada.
O TRABALHO DA BRIGADA MILITAR
O Inquérito policial-militar da BM ainda está aberto, já que outras provas estão sendo apuradas por envolverem integrantes da corporação. O trabalho da corregedoria e da inteligência da Brigada Militar consistiu em identificar todo o percurso do vídeo em que Maier aparece anunciando os atos de ameaça ao governador que ocorreram na Capital, desde a negociação até a entrega do material para uma emissora de TV. Por meio de um programa de computador, o Instituto-geral de Perícia diz ter conseguido tirar a camuflagem da voz e retornar ao timbre original de Maier, a pedido da Brigada Militar. Depois disso, segundo a PM, compararam com outro vídeo gravado por Maier disponível na internet. A suspeita é de que Maier também esteja envolvido no caso dos explosivos largados na Rua Fernando Machado, na Capital, no dia 23 de setembro. A BM recebeu da Polícia Civil a gravação telefônica em que Sousa relata a queima de pneus, o que servirá de prova no processo administrativo interno contra os supostos envolvidos nos atos.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
O PIOR SALÁRIO - DOIS PMs SÃO INDICIADOS E PRESOS POR PROTESTOS E AMEAÇA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário