Representantes da BM e do Denarc emitiram declarações desencontradas para explicar confronto entre agentes em Canoas ontem - zero hora 05/10/2011
Um episódio controverso, seguido de troca de declarações desencontradas, marcou um dia de nervosismo na relação entre a Polícia Civil e a Brigada Militar. Um tiroteio envolvendo agentes das duas corporações, na madrugada de ontem, em Canoas, deixou ferido um agente do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc) e gerou mal-estar na Segurança.
O confronto entre policiais civis e militares que estavam em viaturas discretas na Rua Gildo de Freitas, no bairro Estância Velha, trouxe à tona falhas de procedimentos. E as tentativas de esclarecimento acabaram apimentando o caso. Desde a manhã, quando as primeiras informações davam conta de uma situação insólita, representantes das duas instituições procuravam manter a diplomacia.
Ainda que tenha tentado pôr panos quentes, o diretor do Denarc, Joel de Oliveira, perfilou falhas que teriam levado ao incidente classificado por ele como “lamentável”. Mas os supostos erros citados por Oliveira seriam apenas da BM – entre eles, o fato de que os PMs não teriam se certificado de que as placas das viaturas eram da Polícia Civil e de que usavam, inapropriadamente, equipe não ostensiva.
Ao tomar conhecimento das declarações, o comandante de Policiamento Metropolitano, coronel Silanus Mello, não escondeu a indignação. Evitando explicitar reparos à Polícia Civil, disse que a BM não faria declarações conclusivas sobre o episódio antes que se encerrassem os dois inquéritos abertos pelas duas polícias. E, assim como Oliveira, terminou por cobrar os colegas da outra corporação:
– Faço a mesma pergunta: eles devem ter checado as placas da viatura discreta, e o resultado deve ter sido de não cadastrada. Por que não imaginaram que a viatura podia ser da Brigada?
Conflito de versões
O confronto de policiais civis e militares que depois se transformou em uma gangorra de versões começou na madrugada de ontem em uma operação planejada para combater o narcotráfico em Canoas. Na troca de tiros, o agente do Denarc Eduardo Cabral foi ferido com um tiro de raspão na cabeça.
Na versão apresentada pela BM, uma informação anônima teria relatado a presença de dois carros suspeitos na Rua Gildo de Freitas – uma caminhonete Montana vermelha e um Vectra cinza. Nos dois veículos, estavam cinco policiais civis em campana. Sem saber disso, a BM deslocou para lá uma viatura discreta – um Fiesta preto com quatro homens da P2 (serviço de inteligência). A equipe da BM ficou rodeando a da Civil, até que esta, desconfiada, passou a perseguir a da Brigada em direção a uma rua sem saída – e ali ocorreu o tiroteio iniciado, segundo a BM, pelos agentes do Denarc.
Cabral estava ao lado do motorista que dirigia a caminhonete Montana vermelha. Levou o tiro que atravessou o vidro dianteiro do carro – outro tiro perfurou a porta do motorista, sem atingi-lo – e acabou hospitalizado, sendo liberado em poucas horas.
– Levei o tiro em um lugar onde já havia levado. Nasci de novo – disse Cabral a Zero Hora.
A Polícia Civil argumenta que seus carros estavam com placas não cadastradas – o que deveria remeter à ideia de que se tratava de uma viatura –, e que os agentes colocaram o sinalizador para se fazerem identificar quando iniciaram a perseguição. Segundo a Polícia Civil, os PMs começaram o tiroteio. Na réplica, a BM ressalta que seu carro também estava sem identificação porque era da inteligência e que não houve a utilização do sinalizador pela Civil.
Os nove policiais envolvidos depuseram ontem e tiveram suas armas apreendidas. Conforme Oliveira, as duas corporações vão se reunir para melhorar a comunicação.
As explicações
O QUE DIZ A POLÍCIA CIVIL: - Os carros estavam com placas não cadastradas – o que deveria indicar ao PMs que se tratava de uma viatura discreta. Os agentes colocaram o sinalizador para se fazerem identificar quando iniciaram a perseguição ao carro discreto da Brigada Militar. Argumenta que, se tivesse avisado a Brigada de que havia uma operação no local, as informações poderiam ter vazado. Os policiais militares foram os primeiros a atirar.
O QUE DIZ A BRIGADA MILITAR:- A viatura era discreta porque a P2 (serviço de inteligência) era a que estava mais próxima e foi ao local para averiguação. A P2 chamou o apoio do policiamento ostensivo ao avistar os carros. O carro da BM, que também estava sem identificação, foi abordado pelos policiais civis. Os policiais militares fugiram porque os civis os abordaram sem terem se identificado. Os policiais não viram o sinalizador e revidaram aos tiros da Civil.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
BRIGADA X POLÍCIA CIVIL - TIROTEIO ENTRE POLICIAIS GERA MAL-ESTAR
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