Polícia conclui que briga em 1989 no Maracanã foi a principal causa da execução de Patrícia Acioli - O GLOBO, 06/10/2011 às 23h39m; Sérgio Ramalho e Antônio Werneck
RIO - Um ódio nutrido por 22 anos, que começou no dia 3 de setembro de 1989 no estádio do Maracanã durante uma partida de futebol entre o Brasil e o Chile , "foi a principal causa da morte da juíza Patrícia Acioli", executada com 21 tiros no último dia 11 de agosto passado no bairro de Piratininga, em Niterói. A conclusão é do comissário José Carlos Guimarães, chefe da investigação da Divisão de Homicídios (DH), num relatório que aponta o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo) e do 22º BPM (Maré), como o mentor do assassinato.
Naquele disputado jogo pelas eliminatórias da Copa do Mundo da Itália, uma confusão na arquibancada levou a então defensora pública Patrícia Acioli e o então tenente Cláudio Luiz Oliveira a uma violenta discussão. O fato foi parar na 18ª DP (Praça da Bandeira) e o rancor permaneceu, ainda segundo o investigador da DH, até o assassinato da juíza. O documento de 30 páginas, com um resumo de toda a investigação, já foi entregue ao Ministério Público estadual, que tem até segunda-feira para apresentar a denúncia.
Pelas conclusões da polícia, não há dúvida que os dez policiais militares comandados pelo tenente Daniel Benitez, que chefiava o Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM, agiram a mando do tenente-coronel Cláudio. Benitez era uma espécie de "pupilo" do comandante e foi quem organizou a execução. Uma das provas para o contado estreito e constante entre o tenente e o tenente-coronel é o número de ligações telefônicas que um fez para o outro. O tenente-coronel ligou 170 vezes para Benitez entre os dias 18 de junho e 13 de agosto (dois dias depois da morte da juíza) deste ano. Já o tenente falou 237 vezes com o ex-comandante de São Gonçalo entre maio e o dia 13 de agosto deste ano.
Ainda segundo a conclusão da polícia, o tenente-coronel "é um dos oficiais mais arrogantes da Polícia Militar", "amigo pessoal do ex-comandante da PM, coronel Mário Sérgio", e que costumava punir toda a tropa perfilando os militares sob chuva no pátio do batalhão de São Gonçalo. Para os policiais da DH, o plano de matar a juíza ganhou força este ano depois das prisões - por ordem de Patrícia Acioli - de policiais da P-2 (serviço de inteligência) do 7 BPM acusados de homicídio e de um boato: a juíza investigava o tenente-coronel e pretendia prendê-lo.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
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