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RECEPÇÃO IRÔNICA. Associação admite ter fixado faixa - LEANDRO BECKER, ZERO HORA 22/06/2011
A Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf), que representa servidores de nível médio da Brigada Militar do RS, assumiu ter instalado sobre a sinalização de trânsito uma faixa com mensagem irônica de recepção na rodovia Iraí-Frederico Westphalen (BR-386). Sobre placa próxima à divisa entre o Estado e Santa Catarina, os dizeres: “Bem-vindos ao Rio Grande do Sul. Aqui os policiais militares recebem o pior salário do Brasil.”
Publicada ontem no Informe Especial, na página 3 de ZH, a foto despertou a curiosidade dos leitores. Conforme a Abamf, a medida foi tomada para reivindicar melhores salários a cerca de 17 mil policiais e será adotada em outros municípios nas próximas semanas.
– Vivemos no limite extremo. Nosso salário é de R$ 1.170, enquanto a média nacional é de R$ 2 mil – alega Leonel Lucas Lima, presidente da associação.
A Secretaria da Segurança Pública, por meio da assessoria de imprensa, informou que o reajuste salarial vem sendo discutido pelo secretário Airton Michels e pelo Comitê de Diálogo Permanente, com a intenção de resolver a questão, mas ainda não há nada definido.
No artigo 82, o Código de Trânsito Brasileiro proíbe afixar qualquer tipo de material sobre a sinalização de trânsito, mas não prevê nenhuma penalidade, apenas a retirada do material.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal de Seberi, que atua no trecho Iraí-Frederico Westphalen da rodovia, a faixa ainda não foi removida por “inviabilidade técnica”: a chuva, a necessidade de interromper o trânsito e a indisponibilidade de uma escada especial impossibilitavam, segundo os agentes, a remoção até a noite de ontem.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Está certo que o local foi indevido, mas a manifestação é verdadeira e ao mesmo tempo vergonhosa para um dos Estados que mais arrecada em tributos e que mais gasta no Brasil. O Rio Grande do Sul, a exemplo do Rio de Janeiro, vem ao longo do tempo desprezando seus agentes policiais e bombeiros, justamente aqueles que colocam a vida em risco para proteger o gaúcho e impedir invasões no Piratini. Sem salários dignos, estes agentes públicos (policiais civis e militares e bombeiros militares) especializados e adestrados em recursos proibidos para o cidadão civil são obrigados a vender a folga, o lazer, o tempo com a família e o descanso regulamentar após uma jornada estafante. Mesmo assim, lá estão eles nas ruas, nos campos, nos presídios, nos sinistros, nas calamidades e outras ocorrências driblando as necessidades pessoais e institucionais, encarando bandidos com armas de guerra, dependentes químicos em surto, pessoas transtornadas, pessoas mortas e emoção e sofrimento de pessoas envolvidas nos casos policiais. Tudo isto num cenário caótico que fomenta a insegurança, a impunidade e enfraquece o esforço policial e de bombeiros, pois vigoram no Brasil um arcabouço de leis benevolentes, um sistema de ordem pública desarmônico, legisladores coniventes com a insegurança, governos negligentes e uma justiça distante, morosa, tolerante e alternativa.
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