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BM expulsa policial que matou atleta promissor. Assassino de Tairone teve processo de exclusão concluído em apenas 90 dias - ZERO HORA 22/06/2011
Foi como uma vitória em cima do ringue. Essa foi a definição do treinador de Tairone da Silva, 17 anos, uma das maiores promessas do boxe gaúcho, sobre a expulsão, ontem, do soldado da Brigada Militar (BM) que assassinou o jovem, em 11 de março.
A notícia chegou por telefone a Anildo Pereira dos Santos, para quem o pupilo era quase um filho. Ao longo do dia, Santos pegou o telefone dezenas de vezes para conversar sobre a novidade com amigos e familiares do boxeador. Preso, o PM Alexandre Camargo Abe, 29 anos, deixou de ser policial ontem com a publicação de seu afastamento no Diário Oficial do Estado. Para o treinador e a família, serviu como um alento de que é possível haver justiça:
– O cara era policial, todo mundo achava que não ia dar em nada.
A família de Tairone não mora mais em Osório. A mãe dele, a agente de saúde Cláudia da Silva, 44 anos, se mudou com o marido, Carlos Roberto, para Atlântida Sul. Depois de 43 anos morando em Osório, não conseguiam suportar o peso da morte do filho.
– A gente era feliz ali. No momento em que ocorreu o crime, morreu tudo para mim. É só chegar em Osório que começo a passar mal – disse Cláudia.
Tairone foi morto com dois tiros depois de passar na frente da casa do policial, na Rua Farrapos. A investigação apontou que o PM tinha ciúmes do rapaz, considerado uma revelação nacional, bicampeão gaúcho de boxe e nome forte para competir na Olimpíada de Londres, no ano que vem.
O comandante-geral da BM, coronel Sérgio Abreu, explicou que o processo de licenciamento de Camargo foi rápido – durou 90 dias – porque ele não tinha estabilidade, adquirida com cinco anos de serviço – período que Camargo completaria este ano. O processo passou pelo comando regional da BM em Osório, foi encaminhado à corregedoria, chegou à Procuradoria-Geral do Estado e acabou no Diário Oficial. Para o coronel, ficou claro que Abe não tinha condições de ser policial.
– Não é só o fato do homicídio. É a conduta que ele teve, a forma que agiu em uma situação aparentemente sem uma motivação – afirmou o oficial.
O boxe perdeu um nocauteador, avalia o técnico. Santos treina 350 garotos, e confia que um dia surgirá outro como ele. Já um novo Tairone na família Silva virá em nome. Uma irmã dele está grávida, e o neto de Cláudia e Carlos Roberto será batizado com o nome do tio que não conhecerá.
O crime
- Tairone da Silva, (na foto, ao lado da mãe, no dia em que seria assassinado) foi morto com dois tiros em Osório, em 11 de março.
- Conforme testemunhas, ele passava pela Rua Farrapos quando foi chamado pelo soldado Alexandre Camargo Abe, 29 anos.
- O PM teria sacado a pistola e disparado pelas costas do boxeador.
- Em seguida, teria se aproximado e dado um tiro à queima-roupa.
- O PM foi indiciado por homicídio duplamente qualificado cerca de 10 dias após o crime.
- Ontem, o policial foi expulso da Brigada Militar.
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