Prisão de oficial provoca mal-estar entre polícias. Martha Rocha não quis comentar críticas que desembargador fez a delegado - Ana Cláudia Costa e Herculano Barreto Filho - O GLOBO, 22/12/11 - 0h04
RIO - A prisão do comandante do 7º BPM (São Gonçalo), coronel Djalma Beltrami, acusado de receber propina do tráfico, causou mal-estar entre as polícias Civil e Militar. Nenhuma autoridade quis comentar na quarta-feira a decisão do desembargador Paulo Rangel, do plantão do Tribunal de Justiça, que na véspera determinou a libertação do oficial e criticou duramente a investigação policial. Betrami, que deixou às 4h de quarta-feira o Quartel-General da PM, no Centro, onde estava preso havia 44 horas, disse que nunca recebeu propina:
— Pela primeira vez na minha vida, perdi o direito de ir e vir. Em 27 anos na corporação, nunca respondi a um processo. Levo uma vida humilde e presto contas de tudo o que tenho. Só posso responder pelos meus atos. Não posso responder por outros policiais só porque serviram no meu batalhão. Estou falando como cidadão, não como policial.
Sobre sua transferência em setembro para o batalhão de São Gonçalo, logo após a prisão de seu antecessor, o tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, acusado de ser o mentor da morte da juíza Patrícia Acioli, Beltrami disse que tinha certeza de que poderia mudar a imagem daquela unidade:
— Queria mostrar para aqueles policiais que não tinham feito nada de errado que era possível fazer um bom trabalho lá.
Na quarta-feira, o comandante da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, disse que não se pronunciaria sobre a decisão da Justiça. A assessoria da chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, disse que ela também não ia se pronunciar sobre as críticas do desembargador. Procurado, o delegado Alan Luxardo, da Delegacia de Homicídios de Niterói, responsável pela investigação, também não atendeu as ligações.
O presidente da Associação dos Delegados de Polícia (Adepol), Wladimir Reale, divulgou na quarta-feira um comunicado contestando a opinião de Paulo Rangel — ao conceder o habeas corpus a Beltrami, o desembargador escreveu que "estão brincando de investigar". Na nota, Reale diz serem inaceitáveis as ofensas contra o delegado Alan Luxardo. Segundo a Adepol, o policial é um profissional "sério e responsável". O Sindicato dos Delegados de Polícia do Rio também defendeu Luxardo e criticou a decisão do desembargador.
Prisão teria feito oficial sofrer de hipertensão
Na terça-feira, a Associação dos Oficiais Militares Estaduais do Rio (AME-Rio) divulgou uma nota tratando a prisão do coronel como "um erro doloso com o claro objetivo de atingir os oficiais da PM". Na quarta-feira, o presidente da entidade, Fernando Belo, afirmou que, "pelo bem da sociedade", não deve haver crise entre as instituições.
Beltrami passou a manhã em sua casa em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Na rua onde o coronel mora num prédio de três andares, vizinhos evitavam comentar a prisão do oficial. Alguns, porém, disseram que ele sempre teve uma vida simples e que, com a prisão, passou a sofrer de hipertensão.
— O coronel sempre quis passar para o filho o exemplo de honestidade. Mas o rapaz está sendo alvo de chacota. O coronel Beltrami está arrasado. É um trauma que dificilmente ele vai superar — disse um amigo, sem se identificar.
Na decisão em que concedeu o habeas corpus a Beltrami, o desembargador Paulo Rangel citou as escutas telefônicas usadas como prova contra o coronel. Nelas, aparece um policial pedindo dinheiro a um traficante, dizendo que era para o "zero um" — que a polícia identificou como o comandante do 7º BPM. O desembargador afirmou então, em tom irônico, que ele próprio poderia vir a ser preso, caso alguém mencionasse que "o homem da capa preta queria dinheiro".
Integrantes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, que também participaram da operação na qual Beltrami foi preso, disseram, por meio de sua assessoria, que agora não cabe discutir questões relacionadas a provas fora dos autos e que vão esperar o relatório final de Alan Luxardo para se pronunciar.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
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