Polícia convence delator a não acusar Agnelo Queiroz. FILIPE COUTINHO e LÚCIO VAZ, DE BRASÍLIA. folha.com. 13/12/2011 - 11h14
O policial militar João Dias Ferreira, que foi preso na semana passada pela corregedoria da corporação, foi pressionado por um major e desistiu de acusar o governador Agnelo Queiroz (PT), investigado por irregularidades quando era ministro do Esporte.
Ferreira é dono de duas ONGs acusadas de desviar dinheiro do Esporte. O policial foi preso e solto na semana passada na sede do governo do Distrito Federal, após jogar R$ 159 mil na mesa de funcionários e agredir duas pessoas --entre elas um policial.
Após ser preso pela corregedoria da PM, Ferreira foi pressionado por um colega de corporação a não falar sobre a origem do dinheiro --que seria um "cala-boca" de integrantes do governo para não delatar Agnelo.
A Folha teve acesso a um diálogo de 25 minutos entre Ferreira e integrantes da corregedoria da PM. A conversa se deu após o advogado do PM, André Cardoso, deixá-lo sozinho --ele acompanhou o policial por 14 horas naquele dia. A Polícia Militar já investiga o caso, que ocorreu por volta das 7h de quinta-feira --Ferreira foi preso por volta das 16h de quarta.
Segundo o corregedor da PM, coronel Jahir Lobo, a conversa foi tratava pelo major Márcio Barbosa, enquanto os advogados de Ferreira dizem que foi o major Elisnei Dias. O coronel diz que Elisnei não estava presente durante a conversa.
No diálogo, o major tentou frear Ferreira quando ele começou a falar de irregularidades cometidas por pessoas ligados ao governador. O major disse que o delator seria "réu confesso" caso falasse de Agnelo.
"Você está ingressando no campo da política onde os administradores não são eternos. [...] Dá um tempo, pensa o que você vai fazer, para decidir se é réu confesso e cometeu corrupção passiva. [...] Isso aqui não vai para a imprensa, o sistema aqui é diferente. Você está trazendo um esquema de corrupção, que é principalmente sua", disse.
Na conversa, o major deixou a entender que Ferreira poderia ter tratamento diferenciado. "Nossa corporação, lamentavelmente, tem dois tratamentos. Não sei se você está entendendo, uma turma é tratada de uma forma e outra tratada de outra forma."
O major disse ainda que Ferreira deveria se concentrar apenas no caso de lesão corporal.
"O ideal, do ponto de vista jurídico, é lesão corporal leve. No Código Militar, de repente, você não fica nem hoje lá dentro", disse o major. "Estou te dando subsídios para seu advogado te tirar", completou.
A conversa foi interrompida uma vez, quando o major atendeu o telefone. "Estou tentando, estou tentando", disse.
O advogado André Cardoso afirmou que a gravação "confirma que houve uma tentativa de abafar, por parte da autoridade constituída". "Isso não é correto. Não posso dizer se foi algo político ou corporativo. Meu cliente está sendo pressionado", disse o advogado.
DESISTÊNCIA
Na mesma manhã, segundo o corregedor, o major Márcio Barbosa afirmou que Ferreira desistiu de delatar Agnelo e apresentar mais detalhes do caso que havia contado horas antes, quando foi prestado depoimento sobre lesão corporal.
"Ele não deveria ter instigado João a não falar. Já foi aberto inquérito policial militar para ouvir o major e chamaremos João Dias para prestar o depoimento que havia prometido, agora na presença do Ministério Público Militar."
Procurado pela Folha, o governo do Distrito Federal disse que não iria se pronunciar, alegando que o caso está a cargo da corregedoria da PM, que está tomando providências.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
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