WANDERLEY SOARES, O SUL
Porto Alegre, Terça-feira, 24 de Abril de 2012.
O aniversário do Chefe de Polícia, segundo uma delegada, é um evento institucional.
Aqui da minha torre, ouvidos meus conselheiros, na condição de um humilde marquês, fundamentado em informação oficial e, em consequência, inquestionável, proclamei minha estranheza no entorno da organização da festa em homenagem ao aniversário do jovem chefe da Polícia Civil do RS, Ranolfo Vieira Júnior, que chegou aos seus bem sucedidos 46 anos, programada e realizada na sede da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) na noite de quinta-feira última, dia 19 deste mês de abril. Nada contra a festa. Minha estranheza foi a da mobilização da Divisão de Comunicação Social da Polícia Civil, chefiada pela delegada Vanessa Pitrez de Aguiar Corrêa, cujos funcionários foram colocados na condição de vendedores de ingressos para o evento - R$ 45,00 por cabeça - dentro das próprias dependências da instituição em horário de expediente. Ora, essas festas, que conheço há alguns anos, são organizadas por grupos de colegas e amigos e nunca a custa do erário. Somente a forma adotada pela delegada Vanessa para a venda de ingressos já mereceria, no mínimo, uma reprimenda apimentada da Corregedoria da Polícia Civil. Sigam-me.
Esponja
Pautados pela minha torre, coleguinhas da mídia acordaram para a importância do evento e resolveram acompanhar o seu desenvolvimento que, por conta do erário, estava bem protegido por policiais especialmente mobilizados, além de viaturas de diferentes órgãos da instituição, inclusive as discretas. Destaco que Ranolfo Vieira Júnior é filho de desembargador e, isso, inevitavelmente, abriu o leque de convidados para o poder Judiciário, Legislativo, Ministério Público e diferentes secretarias de Estado. Os convidados, no entanto, nada tinham a ver com as bases do festejo. Nesta moldura, a delegada Vanessa afirmou que o aniversário do Chefe de Polícia é um evento institucional. Tal declaração é um detalhe novo que acrescento aos conhecimentos que adquiri em meio século de jornalismo: o aniversário do Chefe de Polícia é um evento institucional. Já o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, mandou apurar o uso de veículos oficiais na grande festa. Da minha torre me permito sugerir uma solução dentro dos princípios da tolerância dos pedreiros livres e para que a coisa não caia no terreno da galhofa da transversalidade. Passem uma esponja nisso e digam para os organizadores e comensais da festa: que todos desapareçam na curva do rio e se recolham quietinhos às suas casas. E não façam mais isso.
A Lei e o vinho
No início da campanha da Lei Seca, aqui no RS, fui convidado para o aniversário de um dos homens da cúpula da Segurança Pública. O evento, organizado por seus colegas e amigos, teve um desfecho insólito. O homenageado foi surpreendido ao ganhar uma mini-adega plenamente abastecida por preciosos vinhos. Ele, o aniversariante, nenhuma culpa tinha pelo regalo recebido. Na época, nada escrevi sobre isso. Apenas anotei nos da minha torre. Uma festa é uma festa, outra festa é outra festa.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
terça-feira, 24 de abril de 2012
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