PM é assassinado por assaltantes em Niterói. Delegacia de Homicídios que atende a cidade e Maricá conta apenas com 30 policiais para 629 mil habitantes - Antonio Werneck e Luiz Ernesto Magalhães - O GLOBO, 10/04/12 - 0h51
RIO - Em mais um caso de violência em Niterói, um PM foi assassinado na noite de segunda-feira, por volta das 21h, ao tentar impedir um assalto a um posto de gasolina na Avenida Professor João Brasil, próximo à Alameda São Boaventura, no Fonseca. Identificado como Celso de Jesus, o policial, lotado no 12º BPM (Niterói), estava à paisana, percebeu a ação dos bandidos e os abordou. Houve troca de tiros e o PM foi atingido por quatro balas — uma delas na cabeça. Ele ainda foi levado para o Hospital Azevedo Lima, mas não resistiu aos ferimentos.
Apesar dos problemas que vem enfrentando, a cidade ainda sofre com a falta de policiais. Líder em pesquisas de qualidade de vida — é a terceira cidade com o melhor índice de desenvolvimento humano (IDH) do país e está no topo no ranking dos municípios com a maior renda média domiciliar per capita do país (R$ 2 mil, segundo o Censo 2010) —, Niterói não tem o mesmo destaque quando o assunto é segurança. A síntese do esvaziamento da cidade poderia ser a situação da Delegacia de Homicídios (DH). Responsável pelo combate ao crime nos municípios de Niterói e Maricá, a delegacia, que já teve 80 policiais há dez anos, hoje trabalha com 30 para cuidar de 629 mil habitantes dos dois municípios. Cada policial da DH cuida de 21 mil moradores.
População aumentou, mas efetivo da PM encolheu
Um estudo do professor Jorge da Silva, coronel reformado da PM e atualmente lecionando na Uerj, revela que Niterói passou a perder efetivo policial com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, em 1975. Na época, observa o professor, a população de Niterói era de 376 mil habitantes e o efetivo do 12º BPM tinha mais de mil homens. "Três décadas depois, a população aumentara para 477.919 (dados de 2008) e o efetivo do batalhão encolhera para 820 componentes (dados de 2009)", diz ele no estudo.
Em 1975, além do 12º BPM, a PM contava em Niterói com a Ala de Cavalaria, no Fonseca, que fazia o patrulhamento a cavalo na cidade; as companhias de Choque, de Trânsito e de Escola (no Fonseca), que formava PMs e complementava o policiamento na fase de treinamento.
Em São Gonçalo, havia ainda o 11º BPM (Neves) — importante para Niterói, pois era limítrofe e fazia a segurança dos presídios. O batalhão acabou transferido para Nova Friburgo. Funcionava ainda na cidade o Batalhão de Serviços Auxiliares (BSA), cujos policiais nos fins de semana eram empregados em eventos extraordinários. Segundo o professor, com exceção do 11º BPM, todas as unidades foram extintas.
Com pouco efetivo, o jeito é improvisar: devido ao aumento da violência, a PM anunciou ontem que vai criar um cinturão cercando todos os acessos a Niterói. O comandante do 12 BPM, coronel Volney Dias, quer apresentar ao coronel Maurício Santos de Moraes, comandante do policiamento da área, uma proposta que abrange São Gonçalo, Maricá, Itaboraí e Cabo Frio. O objetivo é fazer um cinturão de segurança nas entradas das cidades. Será feita também uma reunião para decidir como será esse reforço.
Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), em fevereiro deste ano, o número de assaltos a estabelecimentos comerciais em Niterói aumentou 38,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Os roubos de residência subiram 285,7%; os de veículos, 71,1%; e os assaltos a pedestres, 13,5%. No último caso de violência em Niterói, um homem foi baleado durante um assalto, sábado à noite, e corre o risco de ficar cego de um dos olhos.
O rapaz, que é deficiente auditivo, seguia com a namorada, de moto, pela Estrada de Itaipu, quando foi abordado por dois homens numa outra moto. Segundo o depoimento da jovem, os bandidos atiraram na vítima antes mesmo que ele tivesse qualquer reação e fugiram com a moto.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
terça-feira, 10 de abril de 2012
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