Confiança abalada. A fragilidade em identificar autores de delitos graves aumenta a sensação de impunidade e reduz a confiança da população na Polícia Civil. ZERO HORA, 23/04/2012
Para o psiquiatra forense Rogério Cardoso, a precariedade da apuração policial sugere aos criminosos a ideia de que “o crime compensa” e de que ele não será importunado.
– É o chamado “não dá nada”, tão usado pelos criminosos que possuem uma carreira delitiva, ou seja, não são criminosos eventuais – avalia o médico.
Na outra ponta, a falta de investigação pode estar afastando as vítimas das delegacias. A suspeita de que o caso não será apurado e de que o bandido permanecerá impune desestimula registros de ocorrências – colaborando para o que especialistas definem como taxa obscura, que é a distância existente entre os crimes ocorridos e as ocorrências efetivamente registradas nas DPs.
Pós-doutor em criminologia e professor dos programas de Pós-Graduação em Ciências Criminais e em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Rodrigo de Azevedo acredita que as constatações do Ministério Público indicam que a polícia “não está voltada para investigação”.
– As delegacias no Brasil têm uma lógica cartorária e bacharelesca. A exceção são as delegacias especializadas, que atuam em crimes de maior repercussão, como homicídio, roubos a bancos, ou quando têm vítimas importantes – pondera o pesquisador da PUCRS.
O que diz a polícia
INVESTIGAÇÃO
O que diz o diretor da Divisão de Planejamento da Chefia da Polícia Civil (Diplanco), Antonio Carlos Pacheco Padilha: “Não tenho conhecimento do relatório e não posso falar sobre questões específicas. A regra da polícia é investigar. Se há viabilidade para investigar, será investigado. Agora, se me perguntarem: é possível investigar tudo? É evidente que não. Nós temos uma média de 1,5 milhão de ocorrências por ano no Estado.
Cleber Ferreira, diretor da Delegacia Regional de Polícia de Porto Alegre - “Nós trabalhamos com prioridades. Fatos que traumatizam a população nos mobilizam mais. O volume de policiais é infinitamente menor do que a gente necessita, mas a gente acaba se preocupando. Agora, não é verdade que se investigue apenas crimes com repercussão ou pautados pela mídia. Talvez isto ocorra no Ministério Público. Na polícia, não”.
ARMAS - Cleber Ferreira, diretor da Delegacia Regional de Polícia de Porto Alegre - “O problema das armas nas delegacias existiu, não douramos a pílula, mas foi resolvido. Deve ter no máximo 150 armas nas delegacias. Todas cadastradas. As armas vão para a Justiça, para a perícia ou para o Exército. Esta é a atual realidade. Não há mais, também, armas em baús e armários”.
ESTRATÉGIA - O que diz o diretor da Diplanco, Antonio Carlos Pacheco Padilha: “No ano passado, procuramos estabelecer, em todos os departamentos e em todas as delegacias, o foco na investigação criminal, buscando sempre combater a criminalidade organizada. Em 2011, a polícia cumpriu, em média, 44 mandados de busca e apreensão por dia, incluindo finais de semana. Foram lavrados também 73 autos de prisão em flagrante por dia e realizadas mais de cem grandes operações”.
GESTÃO - O que diz o diretor Diplanco, Antonio Carlos Pacheco Padilha: “Em setembro do ano passado, contratamos uma consultoria, por meio da Secretaria da Fazenda e do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade, para redimensionar o efetivo da Polícia Civil. Faremos a realocação de policias de acordo com a complexidade de elucidação e gravidade dos fatos, em todo o Estado”.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Como pedir eficiência para uma polícia investigativa que ainda trabalha com o arcaico e acessório inquérito policial e ao longo do tempo vem foi sucateada no potencial humano e desmembrada do segmento pericial, essencial para a apuração de delitos?
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