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quinta-feira, 26 de abril de 2012

INQUÉRITOS DIVERGEM EM SUPOSTA TORTURA POLICIAL

AÇÃO DUVIDOSA. PMs da Serra indiciados por tortura. Crime teria sido cometido quando grupo de policiais tentavam localizar suspeito de assalto - GUILHERME A.Z. PULITA, ZERO HORA 26/04/2012

Mais de um ano após uma suposta operação clandestina, três PMs, cujos nomes não foram divulgados, foram indiciados pela Polícia Civil de Caxias do Sul. Sem mandado de busca ou de prisão, os policiais teriam invadido uma casa atrás de um rapaz que acreditavam ser um dos autores do assalto à casa de um juiz e torturado amigos do suposto suspeito para encontrá-lo. O jovem que eles procuravam, de acordo com o inquérito, não teve relação com o assalto.

Quando o juiz, mantido refém com a família, comunicou à Brigada Militar que tinha sido assaltado, em 22 de fevereiro de 2011, teve início uma megaoperação para prender os bandidos. Com uma informação equivocada de um possível suspeito, PMs começaram uma caçada. Depois de prender dois homens, os PMs foram à casa de um terceiro suspeito, no bairro Século XX, onde, conforme o inquérito, teria ocorrido a tortura.

Segundo o depoimento da proprietária da casa e à época namorada do suspeito caçado pela BM, cerca de 10 PMs derrubaram a porta de entrada e invadiram a residência. Todos estavam fardados e chegaram em duas viaturas. A dona da casa e outra jovem teriam sido colocadas de joelho, ao lado de outros dois que estavam na moradia. Foi então que teve início, segundo o apurado pela Polícia Civil, a sessão de tortura. Depoimentos dão conta de que PMs transformaram as pessoas rendidas em alvo, arremessando contra elas ovos, talheres e copos. A todo momento, os brigadianos teriam exigido que indicassem o paradeiro do suspeito.

Uma das jovens relata que foi levada até um quarto. Lá, um PM teria apalpado seus seios e encostado o cassetete em seus órgãos genitais. Enquanto PMs tentavam arrancar o paradeiro do suspeito com golpes de correntes nos jovens, outros brigadianos teriam rasgado roupas, quebrado eletrodomésticos e danificado o carro do suposto assaltante na garagem. Um notebook teria sido jogado dentro de uma piscina.

Inquérito militar não apontou abuso por parte de policiais

Todas as vítimas passaram por exames de lesões, que indicaram agressões. A casa e o carro do susposto bandido foram fotografados, o que também embasou as investigações. O inquérito só foi concluído em abril deste ano, porque o Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO/Serra) só apresentou os PMs para o reconhecimento pessoal da vítima depois de a Justiça ter determinado que eles comparecessem à delegacia. Todos negam que estiveram na casa do Século XX e, por consequência, as agressões.

De acordo com o coronel Nicomedes Barros, chefe do CRPO/Serra, a corporação instaurou um Inquérito Policial-militar (IPM) para apurar o caso. Porém, de acordo com o oficial, a conclusão da investigação militar apontou não ter acontecido abuso de autoridade e muito menos tortura. Os três soldados indiciados seguem trabalhando normalmente.

Presos por engano

- Em 22 de fevereiro de 2011, três adolescentes e um adulto assaltam a casa de um juiz, em Caxias do Sul.

- Na mesma noite, dois suspeitos são presos pela Brigada Militar a pedido do Ministério Público (MP), e são reconhecidos pelo magistrado.

- Outros dois suspeitos e um adolescente também são presos e reconhecidos por fotos pelas vítimas.

- Com base em pedido do MP, os quatro homens têm a prisão preventiva decretada pela Justiça. O adolescente é internado no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case).

- Agentes da DPCA abrem investigação para apurar a participação do adolescente. Os policiais descobrem que os autores do assalto à casa do juiz são outras pessoas.

- Os verdadeiros autores são identificados e chamados para depor. Eles também são reconhecidos pelas vítimas. Os suspeitos presos por engano foram colocados em liberdade.

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