Após abordagem da Brigada Militar, jogadores registram ocorrência por racismo. Volante uruguaio Alejandro pagava contas, acompanhado da mulher e do atacante Douglas, quando funcionários de casa lotérica chamaram a polícia, suspeitando que fossem assaltantes. Roberto Witter - ZERO HORA ONLINE, 3/03/2012 | 13h35
Dois jogadores do São Luiz, de Ijuí, foram abordados pela Brigada Militar (BM) na tarde de quinta-feira. O motivo seria a suspeita de funcionários de uma casa lotérica, que confundiram os atletas com possíveis assaltantes. Para o volante Alejandro e o atacante Douglas, entretanto, o caso se trata de racismo.
Segundo o meio-campista uruguaio, que tem 32 anos e passagem pelo Santa Cruz, a abordagem aconteceu logo depois que ele saiu da casa lotérica, no centro da cidade do noroeste do Estado.
- Estava com a minha mulher. Enquanto eu pagava uma conta com ela, o Douglas ficou do lado de fora. Depois fui até o banco, que fica quase na frente. Quando saí da agência, os policiais chegaram armados e falando grosso. Nós falamos que éramos jogadores do São Luiz, mas disseram que não interessava. Ficamos um tempão ali na rua, sendo constrangidos. Devem ter suspeitado por sermos negros, altos e com a pele tatuada - afirma Alejandro.
Artilheiro do clube no Gauchão com quatro gols, o carioca Douglas, 24 anos, confirma a versão do colega de clube.
- Fiquei encostado no carro e falando no telefone. Talvez seja por isso que tenham suspeitado - conta o atacante.
Vice de futebol do São Luiz, Delmar Blatt relembra casos semelhantes em anos anteriores. Através de uma nota oficial, o clube também repudiou a ação, classificada como um ato de preconceito.
- Tivemos casos de outros jogadores que também foram abordados. Mas foram revistados, identificados e logo liberados - conta Blatt.
Abordagem seguiu técnicas pré-estabelecidas pela BM
De acordo com o capitão Luís Neves, que responde pelo comando do 29º BPM, a abordagem dos policiais seguiu normas pré-estabelecidas pela corporação.
- Houve uma denúncia, por parte de funcionários da lotérica e a guarnição foi até lá. Em caso de abordagens perto de lotéricas ou bancos, a ação ocorre de surpresa, com supremacia da força e de arma em punho. Eles não serão os primeiros nem os únicos que serão abordados desta forma. Só não foram liberados depois porque o condutor não estava habilitado e o licenciamento do veículo vencido. Mas não entendemos que a abordagem tenha sido de maneira errada - afirma o capitão.
A proprietária da lotérica, Lucimere Fogaça, negou que a denúncia tenha partido do estabelecimento.
Um boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Civil pelos jogadores. Um inquérito foi aberto e o caso será investigado nos próximos dias.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
domingo, 4 de março de 2012
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