ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

domingo, 18 de março de 2012

ANJOS E BANDIDOS


Oscar Bessi Filho - CORREIO DO POVO, 18/03/2012


Quando criança, eu era apaixonado por filmes de faroeste. De "O Anjo e o Bandido", o mais açucarado de John Wayne, à trilogia italiana dos dólares, sangue e gargalhadas de Sergio Leone. Não perdia nada. Yul Brynner. Trinity. Lee Van Cleef e Giuliano Gemma. Clint Eastwood e os gibis do Tex Willer. Menino, a receita comum daqueles filmes me parecia fantástica. Bandido incomodou? A cidade está acuada pelo crime? A justiça anda acovardada ou inerte? Vem um justiceiro com sua arma e, bang!, resolve. Simples assim. Tá, eu cresci. Perdi o gosto pelos filmes do gênero. E pelos simplismos em geral.

Trabalhei em Alvorada por cinco anos. Tive sorte: na época, a prefeita Stela Farias (PT) lançou um leque de ações de inclusão social, educacional e cultural que retiraram a cidade do topo das páginas policiais. Nunca mais fui lá, não sei o que teve continuidade. Mas problemas imensos foram diminuídos drasticamente. E, embora a grande maioria dos policiais fosse honesta, a corrupção era fato. Atingia uma fatia além do que a natureza humana aceita como normal. Em áreas públicas e privadas. Para compor o cenário, havia bases de traficantes e quadrilhas que atuavam em toda a região Metropolitana.

E a maioria dos alvoradenses, que é do bem? Como nos faroestes, ao se descobrir à mercê de bandidos, uma comunidade percebe que o sistema não faz muito por ela e parte para outras soluções. Sobrevivência. E não é tão difícil entender o instante em que se rompe a racionalidade para resolver as coisas do seu jeito. Quando o desespero bate à porta. Como é viver no medo? Eis o problema dos legisladores brasileiros: não sabem, não querem saber, ou estão lucrando com o circuito da impunidade e da insegurança. Querem uma terra sem lei e sem valores morais. Aí, Polícia prende, sistema solta, e o câncer só aumenta. O ciclo legal não se completa a favor do cidadão.

A descoberta da possibilidade de policiais num grupo de extermínio, pago por cidadãos comuns para resolver o que este sistema não resolve, é um sinal de alerta. Vermelho. A impunidade, as regras cada vez mais difusas, desrespeitadas e desprezadas, a raiva do cidadão comum ao ver bandidos sempre livres para matar e roubar gera isso. Será cada vez pior e é bom abrir os olhos. Jamais se defende uma ação dessa natureza - até porque, invariavelmente, esses grupos acabam se tornando instrumentos mercenários, máquinas assassinas para outros fins. Agora, se não quisermos que anjos nos surpreendam virando bandidos, é preciso parar de fomentar as brasas que ardem sob os pés de todos. É preciso inclusão. Recuperação de verdade. Mas lei forte. Que, quando o inferno é a plataforma, sobreviver não é nada açucarado.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Bem lembrado pelo autor do artigo: é um sinal de alerta. Quando policiais se alvoroçam no direito de fazer justiça pelas próprias mãos, é sinal que as leis são benevolentes, a justiça é falha, o controle é deficiente e o sistema de justiça criminal é caótico.

"Uma nação perdida não é a perdeu um governo, mas a perdeu a lei". "As leis derivam da justiça."

"Onde não há justiça, aparecem bandidos, rebeldes e justiceiros."



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