A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
segunda-feira, 26 de março de 2012
ARMA DE CHOQUE TASER DA POLÍCIA MATA BRASILEIRO EM SYDNEY, AUSTRÁLIA
A execução de um brasileiro. Um crime sem motivo, praticado por policiais, com uma arma que não deveria ser letal. As autoridades australianas precisam explicar o que está por trás da morte do jovem Roberto Laudísio Curti nas ruas de Sydney. João Loes - REVISTA ISTO É, N° Edição: 2211 | 23.Mar.12 - 21:00
Muitas dúvidas ainda pairam sobre o que de fato aconteceu na madrugada do domingo 17 de março com o brasileiro Roberto Laudísio Curti, 21 anos, em uma movimentada rua de Sydney, na Austrália. Mas, entre as incertezas veiculadas pela mídia australiana e repercutidas pela imprensa brasileira e mundial, uma coisa é certa: Roberto foi executado. As autoridades australianas devem uma explicação sobre a conduta dos policiais naquela noite e têm de garantir uma investigação isenta. Não importa o que o rapaz tenha feito antes da abordagem dos agentes ou depois que tentaram imobilizá-lo. Ainda que ele tenha bebido um pouco mais, ainda que ele tenha usado algum tipo de droga, ainda que ele tenha roubado um pacote de biscoitos, ainda que ele tenha tentado fugir – e nenhuma dessas possibilidades foi confirmada –, nada justifica a rajada de dardos eletrificados disparados contra ele em plena Pitt Street, via central mais importante de Sydney, a cidade mais populosa da Austrália. “Eram seis policiais armados contra um menino de 21 anos de 1,72 m e 65 kg”, indigna-se Patrícia Laudísio, tia de Roberto. “Eles precisavam dar todos aqueles tiros para imobilizá-lo?”
Patrícia fala como mãe porque foi ela, junto com outras tias e tios do jovem, que assumiu a criação de Roberto depois da morte da mãe dele por câncer quando ele tinha 10 anos. O pai já havia morrido da mesma doença quando Roberto tinha apenas 5 anos. “Ele sempre teve tudo, frequentava o Clube Athlético Paulistano, viajava conosco como nosso filho, conheceu Europa, Cancún, Estados Unidos”, enumera Patrícia. “Não faz sentido ele roubar um pacote de bolachas.” A tia admite que, vez ou outra, rapazes bem de vida, como ele, podem até furtar pequenas coisas para fazer graça ou aparecer para os amigos. Mas isso costuma acontecer quando há plateia, quando os jovens estão em grupo. E Roberto estava sozinho na hora do suposto roubo. Ele teria ligado para a irmã mais velha, que vive na Austrália há mais de dois anos, pouco antes de ser morto. Ninguém sabe muito bem o que foi dito, mas suspeita-se que Roberto tenha avisado, de forma pouco coerente, que estava sendo perseguido.
É aí que a narrativa da madrugada começa a ficar nebulosa. Se é certo que Roberto saiu para se divertir na noite de sábado, pouco se sabe sobre o que aconteceu depois que ele se separou do grupo de amigos com quem estava. O silêncio da polícia do Estado de Nova Gales do Sul, responsável pelas investigações, e um enigmático vídeo divulgado pela corporação que mostraria os 20 segundos finais da perseguição a Roberto vêm alimentando as mais variadas versões sobre o que se desenrolou. A primeira a ganhar corpo foi a de que Roberto teria invadido uma loja de conveniência por volta das 5 horas e roubado um pacote de biscoitos. Os atendentes então chamaram a polícia, que encontrou Roberto circulando pela rua Pitt. Ao tentarem uma abordagem, o rapaz teria fugido, dando início a uma perseguição que culminou com quatro policiais disparando suas armas Taser X26C (leia acima) na direção do jovem. Roberto, pelo que se sabe até agora, morreu pela descarga elétrica das quatro armas.
Outra versão, levantada inicialmente por conhecidos de Roberto, dá conta de que a pessoa no curto vídeo de 20 segundos divulgado pela polícia não era o brasileiro, mas sim outro homem, o mesmo que pode ser o verdadeiro responsável pelo roubo da loja de conveniência. A teoria ganhou força depois que o cônsul-adjunto do Brasil na Austrália, André Luís Costa Souza, declarou que, pelo que ele vinha acompanhando do caso, tudo levava a crer que as forças policiais se confundiram com duas ocorrências diferentes naquela manhã de domingo. Roberto, voltando para casa, poderia ter sido confundido com o ladrão de biscoitos. “Agora, o que a gente mais quer é ver a íntegra das imagens que a polícia confiscou da região onde tudo aconteceu”, disse um amigo de infância de Roberto que preferiu não se identificar. Estima-se que as autoridades tenham, em suas mãos, cerca de 20 minutos de vídeo de mais de uma dezena de câmeras da região que, por ser de grande circulação, era minuciosamente vigiada. Os vídeos, que mostram a loja de conveniência supostamente roubada pelo jovem brasileiro e novos ângulos do ataque policial serão determinantes para o esclarecimento do caso. Por isso, é importante que venham a público.
O que não muda, independentemente da conclusão das investigações, é que houve falha grave na abordagem dos policiais. A reação diante do que era, no máximo, um ladrão de biscoitos foi desproporcional. Talvez a intenção inicial não tenha sido a de matar, uma vez que os policiais optaram pelo uso das armas de choque, tidas como não letais. Mas, no momento em que quatro agentes disparam na sequencia suas armas de choque contra a mesma vítima, a corporação assume o risco de uma execução sumária, como terminou ocorrendo.
O resultado da autópsia do corpo de Roberto ainda não foi divulgado, mas, se a causa da morte realmente estiver ligada às descargas elétricas do Taser, não será a primeira vez que a arma supostamente não letal mata na Austrália. Desde que foi adotada pelas forças de segurança do país em 2002, o Taser já tirou a vida de quatro pessoas. O histórico de letalidade do aparelho nos Estados Unidos também é bem documentado. Desde 2001, mais de 500 pessoas morreram eletrocutadas por ele, segundo relatório da Anistia Internacional. O Brasil adota a arma desde 2006 (leia quadro). Não surpreende, portanto, que uma discussão sobre os usos corretos e incorretos do Taser tenha tomado a Austrália na semana passada, com muitos defendendo um treinamento mais cuidadoso dos policiais, que hoje passam apenas um dia aprendendo a lidar com o dispositivo, ou o banimento completo do aparelho. Infelizmente, para o brasileiro boa praça que estava legalmente na Austrália desde o ano passado aprendendo inglês, a discussão veio tarde demais.
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