REVOLTA NA REDE SOCIAL - Críticas a secretário pelo Facebook renderão punição. Delegados que atacaram Airton Michels por supostas declarações polêmicas poderão ser removidos - JOSÉ LUÍS COSTA, ZERO HORA, 03/11/2011
Críticas ao secretário da Segurança Pública, Airton Michels, proferidas por delegados da Polícia Civil via Facebook, devem resultar em punição aos autores dos comentários na rede social. A acidez de mensagens contra Michels trocadas entre mais de 50 delegados identificados pela Chefia da Polícia Civil – pelo menos dois ocupam cargos de diretor –, desagradou ao secretário e ao chefe de Polícia, Ranolfo Vieira Junior. Reprimendas aos revoltosos estão em estudo embora ninguém fale publicamente sobre isso.
Os delegados se sentiram ofendidos com supostas declarações de Michels sobre salários e pagamento de diárias para a Operação Verão, em uma reunião na segunda-feira na Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Uma das punições poderá ser a transferência de alguns delegados para cidades mais distantes da Capital ou para setores de menor visibilidade na corporação. É uma prática comum, chamado em delegacias e quartéis da Brigada Militar de “castigo” ou “geladeira”, imposta a quem desagrada o comando das forças policiais. Outra medida em análise que pode ser adotada é a limitação de acesso a redes sociais em computadores da Polícia Civil.
– É preciso repensar essa questão. Se na iniciativa privada as empresas enfrentam problemas, imagina no serviço público. Quantos passam o dia na internet, prejudicando o andamento do trabalho e fazendo intrigas... – comentou um integrante da cúpula da SSP que preferiu o anonimato.
As declarações via Internet contra Michels começaram na tarde de terça-feira e foram postadas em uma comunidade do Facebook da qual fazem parte cerca de 300 delegados e cujo acesso ao conteúdo das mensagens só é permitido aos seus integrantes. Mas como uma parte do grupo ocupa cargo de confiança no governo – entre eles Ranolfo – ou são alinhados ao Piratini, a SSP já sabe quem extrapolou nas manifestações.
Em uma das mensagens, um dos delegados comentou no Facebook a importância de que as críticas vazassem para a imprensa, de modo a expor anonimamente o descontentamento. O delegado Fábio Mota Lopes, diretor da Divisão de Ensino da Academia da Polícia Civil, não se opôs em revelar o conteúdo do que postou na rede social (leia o lado).
Secretário classificou protestos de “molecagem”
Em entrevista publicada ontem em ZH, Michels lamentou que suas declarações na reunião foram distorcidas e classificou as manifestações dos delegados de “molecagem”. Ontem, a assessoria de imprensa da SSP afirmou que Michels não falaria mais sobre o assunto. Pela manhã, o chefe de Polícia ingressou na comunidade virtual e postou mensagem, reforçando que as palavras de Michels foram mal interpretadas, mas evitou comentar o que foi dito no encontro de segunda-feira na SSP.
– Foi uma reunião interna e não tem sentido torná-la pública.
Diretores de departamentos evitaram entrevistas. A associação dos Delegado também preferiu silenciar sobre o caso.
O clima de tensão deverá agitar reunião entre a diretoria da Associação dos Delegados e o governo do Estado para discutir salário. O encontro está marcado para as 10h30min de hoje, na Casa Civil. No sábado, delegados realizam uma assembleia geral.
Os motivos
A revolta dos delegados de Polícia aflorou após uma reunião entre o secretário de Segurança Pública, Airton Michels, o chefe da Polícia, Ranolfo Vieira Junior, acompanhada por alguns diretores de departamentos da corporação. Confira os motivos da discórdia:
- Diretores de departamentos da Polícia Civil teriam reclamado do valor da diária (cerca de R$ 75) paga para a próxima Operação Verão no Litoral. Michels teria concordado, mas lembrado da história de amigos policiais que “alugavam residências em grupo longe da beira-mar, para lá da Paraguassu”. A afirmação chegou por meio da rede social a delegados que não participaram da reunião como uma insinuação de Michels para eles seguirem o exemplo. A ZH, Michels disse que suas declarações foram mal interpretadas.
- Outro comentário polêmico envolvendo o secretário foi sobre o fato de os delegados manterem filhos em escolas particulares. Michels teria dito que, para quem tem três filhos, fica complicado pagar R$ 1 mil de mensalidade escolar para cada um. A declaração chegou a delegados, também via Facebook, como uma sugestão para matricular filhos em escola pública.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
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