
REPRESÁLIA POLICIAL. Delegados ameaçam boicote. Para pressionar governo do Estado por salários, policiais prometem deixar de atuar em operação no verão, entre outros atos - JOSÉ LUÍS COSTA, ZERO HORA 12/11/2011
Em uma queda de braço com o Palácio Piratini por melhores salários, delegados da Polícia Civil revelaram ontem a adoção de medidas que poderão comprometer a segurança dos gaúchos durante o verão e a melhoria dos serviços da corporação em 2012. Em retaliação à postura do governo do Estado, que evita conceder reajuste reivindicado pelos policiais, a Associação dos Delegados (Asdep) anunciou que nenhum dos 87 filiados escalados para a operação no veraneio vai atuar de dezembro a março no Litoral, na Serra e nas fronteiras.
Além dessas medidas, uma centena de delegados, professores na Academia da Polícia Civil, promete não comparecer para dar aulas aos novos 500 alunos dos cursos de escrivão e de inspetor que começam em 4 de janeiro. Os delegados representam 35% do quadro docente da academia, são autores de suas próprias apostilas e não autorizarão o uso delas.
– Se isso acontecer, vai inviabilizar os cursos – afirma o delegado Fábio Mota Lopes, diretor da Divisão de Ensino da academia.
O delegado Mário Wagner, diretor do Departamento de Polícia do Interior e coordenador da Operação Verão, reconhece que, se a decisão da Asdep for mantida, será difícil conduzir o trabalho, embora ele tenha esperança de que ela ainda possa ser revertida.
– A operação começa em 17 de dezembro e acredito que, até lá, esta questão salarial vai estar solucionada – acredita.
As medidas anunciadas ontem pela associação representam a primeira de uma série de ações de boicote idealizadas pela Asdep para pressionar o governo do Estado.
– Queremos que o governo reconheça nosso direito. A forma de recompor as perdas fará parte de um segundo passo da negociação – afirmou o presidente da Asdep, Wilson Müller.
Secretaria e Casa Civil evitaram comentários
Ao revelar as ações, Müller demostrou mágoa com o tratamento dispensado pelo Piratini.
– A Secretaria da Segurança Pública parece que não tem a noção exata do que acontece e está em falta conosco. Foi agendado uma encontro para sexta-feira passada com a secretário, que não aconteceu, e acabou vindo aqui, uma menina da Casa Civil trazer uma proposta (10% de reajuste, que foi rechaçada). Para minha surpresa, esse assunto começou com uma visita à Asdep do então governador eleito e terminou na sexta-feira com uma estafeta – lamentou Müller.
A Secretaria da Segurança Pública e a Casa Civil evitaram comentar a decisão da Asdep sob o argumento de não terem sido informadas oficialmente.
Segundo a assessoria da Casa Civil, nenhuma reunião entre a secretaria e a Asdep estava agendada para sexta-feira passada.
O que foi anunciado
- Os 87 delegados escalados para atuar na Operação Verão anunciaram que não vão participar dos trabalhos no Litoral, na Serra e nas fronteiras. Eles atuam em reforço ao policiamento, comandando 1.549 agentes.
- A principal razão do boicote é o valor da diária (R$ 75) considerada insuficiente para suprir as necessidades de hospedagem e de alimentação.
- Caso os delegados sejam convocados, a Associação dos Delegados (Asdep) diz que entrará com ação judicial para impedir a ordem.
- Uma centena de delegados, professores na Academia da Polícia Civil, não devem dar aula para os 500 alunos dos cursos de escrivão e de inspetor que começam em 4 de janeiro. Além de não comparecer às aulas, os policiais prometem não autorizar o uso de apostilas preparadas por eles. Ao todo, os cursos contam com 282 professores.
OUTRAS AMEAÇAS - Está agendado para segunda-feira à tarde um novo encontro entre a Asdep e a Casa Civil. Caso a negociação não avance, os delegados pretendem aumentar as ações de boicote tais como:
1) Suspender as operações que vêm sendo feitas e que geram a chamada agenda positiva para o governo;
2) Não exceder a carga horária legal (40 horas semanais), gozando folgas necessárias toda vez que houver convocação para trabalho extraordinário, como sobreavisos e escalas de plantão;
3) Colocar os cargos de confiança à disposição, deixando de exercer funções de diretor de departamento ou divisão, delegado regional de polícia ou junto à Secretaria da Segurança Pública. A soma chega a cem cargos, entre eles, 12 diretores de departamentos e 29 delegados regionais.
Medidas esvaziam ação antiviolência do Piratini
Além de comprometer o principal programa de segurança do governo para os próximos meses, os delegados pretendem esvaziar outra ação programada pelo Piratini que ocorre em âmbito mundial. Trata-se de uma campanha pelo fim da violência contra a mulher que se inicia em 20 de novembro. Nesse evento, está prevista a participação das 17 delegadas que atuam em 15 delegacias da Mulher no Estado.
– Não vamos aos eventos, às palestras e atuar nas delegacias móveis – garantiu a delegada Nadine Farias Anflor, coordenadora das delegacias de atendimento à Mulher e integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado, conhecido como Conselhão.
Nadine anunciou que colocou à disposição da Chefia da Polícia Civil seu cargo de coordenadora das delegacias da mulher.
Uma nova reunião entre representantes da Asdep e a Casa Civil está marcada para as 16h30min de segunda-feira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário