PMs da Assembleia escoltam deputados - FABIO SERAPIÃO, JORNAL DA TARDE6 de novembro de 2011 | 22h07
Onze dos 94 deputados estaduais paulistas contam com escolta de PMs da assessoria militar da Assembleia Legislativa. Esses policiais são cedidos por meio de atos da presidência da Casa – hoje nas mãos de Barros Munhoz (PSDB) –, que não são acessíveis ao público, com a divulgação, por exemplo, no Diário Oficial. O Legislativo afirma que há base legal para o atendimento dos parlamentares.
A Assembleia informou o total de deputados com PMs, mas não quem são. O JT localizou dez deles e tentou ouvi-los sobre o porquê da escolta. As justificativas vão de ameaças sofridas há anos, passando por perigo nas estradas do Estado e até amizade com o oficial.
A cessão dos policiais foi revelada por Major Olímpio (PDT) em reunião do Conselho de Ética. Segundo Olímpio, o procedimento é ilegal (leia ao lado). A Assembleia e o comando da PM, porém, afirmam que as medidas são legais e regulamentadas por ato da Mesa Diretora de 1987.
Um dos que conta com serviços de um subtenente da PM é Fernando Capez (PSDB). “Como o conheço, o indiquei (à Assembleia). Quando necessito, minha assessoria faz a solicitação junto à presidência”. Embora Capez afirme que o subtenente não atua em seu gabinete, o policial é classificado como “assessor” em seu site e possui até e-mail lá, que consta no informativo do parlamentar. “Fernando Capez designou seu assessor especialmente para fazer parte da comitiva a Brasília da Associação de Subtenentes e Sargentos da PM”, diz o site Jus Brasil em 2009.
Reinaldo Alguz (PV) também indicou à assessoria militar da Casa soldado da PM que, desde 2007, faz sua segurança. “Como o trajeto do deputado passa por cidades com grande concentração de presídios, ele pediu para o presidente disponibilizar policial para ser seu motorista”, justifica o chefe de gabinete dele, Marcelo Ergesse.
O soldado da PM designado para segurança de José Bittencourt (PDT), assim como ele, é membro de igreja evangélica. O pedetista informou ser “legal” a cessão do policial, com base em ato da Mesa.
Vitor Sapienza (PPS) possui dois policiais em seu gabinete. A designação de um deles consta em ato do Diário Oficial em 2011. Já o outro foi cedido após solicitação ao presidente. “De vez em quando sou ameaçado de morte, por isso, em agosto de 2009, fiz o pedido”.
José Zico Prado (PT) disse que pediu soldado para acompanhá-lo devido à “ameaça de grupo de desconhecidos, em 2006, na Ilha do Bororé (zona sul da capital)”. Sua colega de partido, Ana Perugini, fez o mesmo em 2009, após receber “ligações no gabinete, disparos contra o carro do marido e bomba em casa”. No mesmo ano, Mauro Bragato (PSDB) solicitou escolta alegando “necessidade”.
Por ameaça a dois colegas de bancada, o líder do PMDB, Jorge Caruso, pediu, há seis meses escolta de soldado. Milton Leite Filho (DEM) e Edson Ferrarini (PTB) têm acompanhamento de oficiais da PM. Eles não responderam ao questionamento do JT.
Major Olímpio
“É desvio de finalidade dos policiais e, portanto, ato de improbidade administrativa do presidente da Casa”, afirma Major Olímpio (PDT) sobre designações de oficiais da assessoria militar da Assembleia Legislativa para segurança de parlamentares. “O único que pode designar é o governador, por ato da Casa Civil, colocando o PM em disponibilidade”, diz, ao citar como exemplo oficial que faz segurança de Vitor Sapienza (PPS).
Para o pedetista, caso deputado sofra ameaça permanente, quem deve prover escolta é a Secretária de Segurança Pública. “Eu fiz requerimento de informações (à presidência), e até agora não responderam”.
Olímpio cita ainda o caso de Afonso Lobato (PV), que há dois meses teve a casa, em Taubaté, invadida por ladrões. À época, o pedetista diz ter enviado à presidência requerimento sugerindo proteção momentânea ao parlamentar. “O que recebi de resposta é que o comando de policiamento da área intensificou o policiamento. Então, qual o critério, ser mais ou menos amigo do presidente?”.
Outro lado
A Assessoria Policial Militar da Assembleia Legislativa conta com 126 PMs, incluindo oficiais e praças. Compete a eles a segurança do Palácio 9 de Julho, do presidente da Casa, e, segundo o comando da Polícia Militar, “dos parlamentares, mediante determinação expressa do presidente ou por ato da Mesa Diretora”.
Questionado, o presidente da Assembleia, Barros Munhoz (PSDB), por meio de sua assessoria, confirmou que 11 parlamentares recebem o “atendimento militar” e informou que a “atividade é regulamentada por ato da Mesa Diretora de 1987”. Entretanto, se recusou a divulgar os nomes e motivos elencados pelos deputados.
O JT questionou o comando da Polícia Militar sobre para saber os motivos de as designações não serem públicas. Em resposta, enviada por e-mail pela assessoria de comunicação da corporação, a PM informou que o procedimento “não é objeto de publicação em Diário Oficial por questão de segurança” e que “a publicidade somente poderia potencializar o risco a que estão expostos” os parlamentares.
‘Rotinas pertinentes’
Sobre as nomeações comprometerem as funções do efetivo da assessoria militar na Casa, a PM ressaltou que “a segurança de parlamentares faz parte das atribuições e rotinas pertinentes” ao destacamento.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Gostaria de saber quantos policiais estão à disposição dos Deputados na Assembléia Legislativa do RS para cumprir funções de segurança, assessoria e motoristas? É pura ilegalidade, um desvio de função praticado por quem deveria fiscalizar os atos do Executivo. É também um descaso para com a segurança dos seus eleitores que ficam sem policiamento nas ruas, a mercê da bandidagem. Está na hora de cobrar do seu deputado. Ao invés de trair o eleitorado atendendo seu interesse particular por segurança, seria melhor atender quem lhe concede o mandato, pois arrisca não ser mais eleito.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
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