ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

domingo, 3 de abril de 2011

OS SOLDADOS QUE TROCARAM DE LADO


QUADRILHA DE FARDA. Os soldados que trocaram de lado - HUMBERTO TREZZI | JÚLIO DE CASTILHOS - ZERO HORA 03/04/2011

Saiba como a amizade entre quatro amigos que se conheceram no Exército transformou soldados em assaltantes de um banco na localidade de Val da Serra, em Júlio de Castilhos, na Região Central

Eles juraram fidelidade à pátria. Unidos, eles vestiram a farda. Juntos, eles jogaram bola. Parceiros, eles beberam e se divertiram. Gostam de armas, tiros, uniformes e filmes de ação. Entrosados mais uma vez, eles decidiram assaltar bancos. E juntos foram presos.

Soa a roteiro de filme classe B ou livro de ficção barata a trajetória de quatro amigos capturados dia 25, após assaltarem um banco em Val de Serra, distrito de Júlio de Castilhos, no centro do Estado. Mas tudo aconteceu assim, por meio da amizade cultivada na caserna. Willian de Córdova, 22 anos, Hugo Cafieira Rodrigues, 22 anos, Paulo Roberto Severo do Nascimento, 24 anos, e Diego Antunes Soares, 27 anos, serviram durante anos no Exército, em cidades da região central do Estado. Os três primeiros, como soldados na 13ª Companhia de Armamento e Munição, em Itaara. Soares, como sargento em Rosário do Sul.

– Era sargento daqueles de filme, enérgico, no qual os soldados confiavam cegamente – recorda um oficial que foi seu chefe em Rosário do Sul.

Após um tempo com o uniforme verde-oliva, Cafieira e Soares trocaram de farda e viraram PMs, do Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Capital. Willian se tornou PM temporário do 1º Regimento de Polícia Montada de Santa Maria. Nascimento foi o único que se manteve no Exército, de onde deu baixa em fevereiro.

Aquilo que deveria ser o grande golpe resultou numa ação desastrada. Tudo o que podia dar errado, deu. Os quatro conseguiram apenas R$ 10 mil no ataque. Foram emboscados na saída por um policial civil que percebeu o roubo. Na fuga, foram encurralados, e William acabou baleado. Para culminar, capotaram o carro, sendo capturados em flagrante.

Os parentes dos ex-militares estão em choque. De orgulho familiar, o grupo virou motivo de vergonha. As justificativas não convencem.

Nascimento se queixou de falta de perspectiva profissional. Tinha diploma de honra ao mérito do Exército, mas após seis anos de farda estava desempregado, com curso fundamental incompleto. Falta de escolaridade não era o problema de Willian. Ele acabara de passar no vestibular para Direito, mas, pouco disciplinado, não reuniu documentos para se matricular. Contava os dias para deixar a BM. Dizia “não aguentar mais ser mandado”.

Justificativa não satisfaz general

Dívida é o problema que alega Soares, cujos vencimentos diminuíram desde que saiu do posto de sargento do Exército para o de soldado na BM. Cafieira não se ampara em dívidas como desculpa. Sequer admite ter planejado o roubo, embora seus colegas o incluam como um dos mentores.

Nenhuma das desculpas satisfaz o general Sérgio Etchegoyen, chefe da 3ª Divisão do Exército (sediada em Santa Maria), responsável pelos quartéis onde os ex-militares se formaram.

– Não podem se escorar no argumento de falta de dinheiro. Não são favelados, são militares, tinham profissão. Será que a ambição está deixando as pessoas cegas? – questiona.

Chateado por ter de participar da prisão de colegas, o delegado de Júlio de Castilhos, Gabriel Zanella, pede que se mantenha a confiança nas polícias:

– Policiais cometeram o assalto, mas foram policiais que tirotearam com eles, com risco para a própria vida. E os prenderam – conclui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário