POLICIAIS BANDIDOS - AUMENTAM EXPULSÕES NA BRIGADA MILITAR DO RS

Aumentam expulsões na Brigada. Número de policiais militares que foram excluídos ou licenciados da corporação dobrou em 2010, na comparação com 2009 - CARLA DUTRA, ZERO HORA 04/04/2011

Quase duas vezes mais homens foram punidos com desligamento pela Corregedoria-Geral da Brigada Militar em 2010, na comparação com o ano anterior. Se em 2009 foram 35 casos de exclusão (punição aplicada a policiais que estão há mais de cinco anos na corporação) ou licenciamento (direcionada a PMs sem estabilidade, com menos de cinco anos de atuação), no ano passado foram 69 punições.

Oenvolvimento de PMs com o crime voltou a ser assunto depois que quatro soldados foram presos por assalto a banco, em Júlio de Castilhos, na região central do Estado. Na edição de domingo, Zero Hora mostrou como o quarteto planejou e executou o roubo pelo qual foi capturado em 25 de março.

Corregedor interino da Brigada Militar, o tenente-coronel João Gilberto Fritz não arrisca dizer se o acréscimo é decorrente de mais rigor ou de aumento no número de policiais envolvidos com ações ilegais:

– Também não afirmaria que há maior envolvimento, mas que em dado momento mais casos vieram à tona, foram investigados, com policiais licenciados ou excluídos. Eu, como corregedor, gostaria de saber de todos os envolvidos.

O aumento no número de desligamentos também pode estar relacionado ao acréscimo de efetivo. Entre o final de 2009 e o início de 2010, a tropa cresceu 25%, índice apontado pelo governo Yeda Crusius como o de maior reposição dos últimos 15 anos. Hoje, a BM tem cerca de 24 mil pessoas. Analista criminal, Guaracy Mingardi lembra que o Estado paga um dos piores salários do país a esses policiais.

– Não que isso leve o sujeito a ser corrupto. Mas, com o correr dos anos, os salários ficam mais baixos, e ingressa mais gente com menos qualidade. Aumentam as chances de o policial cometer o ilícito – avalia.

Mingardi também destaca que o aumento das punições pode estar relacionado a mudanças no comando ou nas políticas públicas. Consultor em segurança pública, José Vicente da Silva Filho considera positivo o acréscimo das exclusões. Ele compara o rigor com que punições são aplicadas no Brasil e em Nova York (EUA).

– Lá, às vezes, eles punem por pegar alimentação de graça ou por conseguir desconto em uma compra em razão de ser policial. Considero essa intolerância positiva. Acredito que, no Rio Grande do Sul, esteja havendo mais rigor – opina.

“Alguns delinquem, e eu não sei o que leva a isso” - João Gilberto, Corregedor-geral interino da Brigada Militar. O corregedor-geral interino da Brigada Militar, tenente-coronel João Gilberto Fritz, conversou com Zero Hora sobre os números.

Zero Hora – Os números mostram que, entre 2009 e 2010, as exclusões e os licenciamentos aplicados a policiais militares quase dobraram. Isso indica maior envolvimento de PMs com crimes ou mais rigor?
Tenente-coronel João Gilberto Fritz – Depende do caso concreto. A maneira de olhar da Brigada é sempre a mesma: excluir nos casos mais graves. O que acontece é que há épocas em que acontecem mais casos (de envolvimento com o crime). Também não afirmaria que há maior envolvimento, mas que em dado momento mais casos vieram à tona, foram investigados, com policiais licenciados ou excluídos. Eu, como corregedor, gostaria de saber de todos os envolvidos.

ZH – Pela sua experiência, o que leva um policial militar a se envolver com o crime?
Tenente-coronel Gilberto – Os integrantes da Brigada vêm da sociedade. O policial militar é um ser humano como qualquer outro, embora tenha de ter mais equilíbrio e deva ser preparado para enfrentar adversidades. Alguns, lá pelas tantas, delinquem, e eu não sei o que leva a isso. Neste caso da Região Central, o que posso dizer é que possivelmente eles colocaram tudo o que construíram fora.

ZH – O senhor considera que o salário pago ao policial gaúcho pode ter influência?
Tenente-coronel Gilberto – Não, absolutamente. Ou toda a população do Brasil teria de roubar ou delinquir, porque a maioria ganha menos do que um policial. Seria bom que o nosso policial ganhasse mais, por tudo que ele enfrenta, mas não atrelo salário aos fatos que acontecem.

ZH – Mas, ao contrário do restante da população, o policial está mais exposto a situações que o aproximam do crime.
Tenente-coronel Gilberto – Se ele está mais exposto, está fazendo isso pela exposição. Aí, o que conta é equilíbrio, a retidão de conduta, e não o salário.

ZH – O que pode ser feito para evitar o envolvimento do policial com o crime?
Tenente-coronel Gilberto – A corporação faz tudo o que precisa para evitar. O policial militar recebe todo o treinamento, o acompanhamento, a orientação. No mínimo uma vez por ano, os policiais saem do serviço de rua e se recolhem para sala de aula para, pelo menos, 40 horas-aula recebendo reciclagem, atualização. Eles são fiscalizados. Nada justifica (o crime).