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POLÍCIA PATROCINADA. Especialistas condenam financiamento privado na área - CARLOS ETCHICHURY - ZERO HORA 25/04/2011
A suspeita de que o traficante Maradona estivesse utilizando laranjas para consertar e abastecer viaturas da Brigada Militar (BM) provoca um debate sobre o financiamento privado de atividades relacionadas à segurança pública. Especialistas e policiais ouvidos por ZH desestimulam que o Estado aceite dinheiro para auxiliar policiamento ostensivo e investigação policial.
Para o coronel da reserva da PM de São Paulo José Vicente, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, as polícias devem ter uma estrutura que as permitam rejeitar doações.
– Deveria ter um decreto do governador desautorizando a receber qualquer tipo de doação. É algo ultrapassado, coisa de 30 anos atrás – radicaliza Vicente.
Cientista político e especialista em Segurança Pública, Guaracy Mingardi vai na mesma linha:
– Quem paga, manda.
Se o Estado não tem como garantir o funcionamento do Estado, prossegue Mingardi, “é melhor não ter Estado”.
A dificuldade em controlar a origem dos recursos
Entre policiais da ativa também há desconfiança com recursos alheios ao orçamento público.
– Como tu vais receber de um comerciante para o combustível e, daqui a pouco, investigar o cara? Ou prender o filho dele? – pondera José Antonio Dornelles de Oliveira, delegado regional executivo da Polícia Federal.
Corregedor-geral da BM, o coronel João Gilberto Fritz chama atenção para um outro elemento:
– A parte da população que não tem condições de oferecer dinheiro pode ficar em desvantagem.
Presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública de Canoas (Consepro), o arquiteto Carlos Afonso Schuch acredita que é possível evitar privilégios.
– Só aceitamos contribuições de empresas tradicionais, conhecidas na cidade. Além disso, as instituições (Brigada Militar, Polícia Civil, Instituto-geral de Perícias e Superintendência dos Serviços Penitenciários) beneficiadas não ficam sabendo quem são os doadores – pondera Schuch, à frente de um dos mais tradicionais conselhos do Rio Grande do Sul, há 25 anos em atividade.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A mesma situação do Bico legalizado e da publicidade nas fardas, idéias malucas e amadoras que alguns governantes desejam aplicar no sucateado, fracionado e desvalorizado aparato policial. Não podemos culpar os policiais, pois é a ânsia de melhorarem as condições de trabalho e aumentarem a capacidade de proteção à sociedade que faz buscarem no povo os recursos necessários. O resultado desta iniciativa pode ser a submissão a um interesse escuso como o de Maradona e outros bandidos e corruptores.
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