PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - ZERO HORA 03/04/2011
Para a maioria dos gaúchos, as expressões precatório e RPV podem não passar de abstrações que remetem a dívidas judiciais, compromissos não pagos pelo governo, mina de ouro para advogados. Para a aposentada Dirce de Quadros Peralta, 62 anos, são sinônimos de calvário. Ela não é um caso singular: milhares de servidores enfrentam drama semelhante.
Viúva de um brigadiano, dona Dirce entrou na Justiça para recuperar diferenças devidas ao marido, falecido há 20 anos. Ganhou R$ 40 mil e estava disposta a abrir mão de parte do valor para se enquadrar na categoria RPV (Requisição de Pequeno Valor, até o limite de 20 salários mínimos) e receber mais rapidamente o que lhe é devido. Veio de Passo Fundo para conversar com o advogado e levou um choque.
– Ele escreveu neste papel (mostra as anotações) que, dos R$ 20,4 mil, eu teria de dar R$ 12 mil a ele pelos honorários. Disse que, se eu tinha dinheiro para dar ao governo, que desse. Ele cobraria sobre R$ 40 mil.
Dos R$ 20,4 mil, dona Dirce ainda teria de pagar a contribuição para o IPE e o Imposto de Renda retido na fonte. Sobraria quase nada.
O advogado (...) confirma:
– Ela ganhou R$ 40 mil. Se quer dar uma parte para o governo, problema dela. Eu cobro 30% sobre o valor total. É o que está previsto no contrato que ela assinou quando me contratou.
O advogado orientou dona Dirce a não optar pela RPV. Além da quantia irrisória que lhe restaria, não há garantia de que o dinheiro saia tão cedo, já que o governador Tarso Genro estuda limitar os recursos para pagamento das RPVs a 1,5% da receita corrente líquida. Como tem mais de 60 anos e está em tratamento para o câncer, ela tem, em tese, preferência na fila dos precatórios.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É O FIM DA PICADA! ENQUANTO CATEGORIAS DO JUDICIÁRIO E DO LEGISLATIVO GARANTEM SEUS DIREITOS SEM CONTRADITÓRIO, AS CATEGORIAS (E FAMILIARES DOS SERVIDORES) DO PODER EXECUTIVO PENAM E FICAM A MERCÊ DA MOROSIDADE DA JUSTIÇA, DA GANÂNCIA DOS ADVOGADOS E DA MÁ-VONTADE DO GOVERNADOR PARA PRESERVAR OS SEUS. E CONTRA O CALOTE ESTATAL PARECE NÃO EXISTIR JUSTIÇA.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
domingo, 3 de abril de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário