LEX LOCI. Delegado é vítima do Efeito Ricúpero - REPÓRTER DE CRIME, O GLOBO, Jorge Antonio Barros - 7.4.2011
Quem fala a verdade não merece castigo. Esse provérbio popular não tem sido levado em consideração pelo poder público principalmente quando o assunto é segurança. A verdade é que desde que o mundo é mundo segurança sempre foi um tema considerado tabu. O raciocínio do setor, tanto na área privada quanto pública, tem sido o do Efeito Ricúpero, o ministro da Fazenda do Governo Itamar, que falava numa conversa informal sem saber que o sinal estava sendo captado por antenas parabólicas: "Eu não tenho escrúpulos, o que é ruim a gente esconde, o que é bom a gente mostra".
O delegado titular da 64a DP (São João de Meriti), Altair Queiroz, pagou com o cargo a suposta ingenuidade. Após um arrastão, que anteontem fez 20 vítimas num dos acessos à Linha Vermelha, naquela município da Baixada Fluminense, o delegado falou a mais pura verdade:
- Realmente, quem não tem outro itinerário e precisa passar na Linha Vermelha à noite fica propenso a esse tipo de ação. Não sei dizer qual é a recomendação. Eu, por exemplo, quando saio da delegacia, à noite, não pegou a Linha Vermelha; uso a Avenida Brasil - disse o doutor delpol, o mesmo que delegado na gíria policial.
Em nota, a Polícia Civil deixou claro que a chefe, delegada Martha Rocha, afastou o delegado por causa da declaração. A queda do delegado foi a forma de tornar pública a reprovação por parte da Polícia Civil. Os ladrões devem estar rindo. Além de ter roubado 20 pessoas, os oito homens fortemente armados ajudaram a derrubar um delegado de polícia, que não deve ser tão ineficiente assim quanto poderia parecer. Afinal ele foi enviado para trabalhar na Corregedoria interna da Polícia Civil.
Com certeza uma autoridade policial, seja delegado de polícia ou comandante de batalhão, não deve transmitir pânico e nem mesmo insegurança aos cidadãos. Mas o poder público também tem a obrigação constitucional de dar segurança à sociedade. Em vez de derrubar o delegado que falou a verdade, a Chefia da Polícia Civil deveria, sim, ajudar a Polícia Militar a reforçar o policiamento nas vias expressas do Rio. Só tiraram o sofá da sala.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
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