Estou publicando neste Blog o comentário da jornalista Rosane de Oliveira na sua coluna sobre um desabafo de um Oficial da Brigada Militar. Ele continua atual.
http://blogdainseguranca.blogspot.com/2010/02/desabafo-oficial-pm-critica-falta-de.html
http://blogdainseguranca.blogspot.com/2010/02/dedo-na-ferida-um-desabafo-que-nao-pode.html
DEDO NA FERIDA - ROSANE DE OLIVEIRA - ABERTURA DA PÁGINA 10 DE ZH 01/02/2010.
A repercussão do desabafo do tenente-coronel Sérgio Simões, na entrevista ao repórter Marcelo Gonzatto, publicada em Zero Hora, só surpreende quem não está acostumado a ouvir a voz das ruas. O coronel disse o que se ouve nas esquinas, com a diferença de que ele não é um cidadão qualquer: é peça-chave na engrenagem que move o sistema de segurança no Estado.
É pelo posto que ocupa, de comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, que a entrevista repercutiu tanto. No conteúdo, o coronel não foi original. Reclamou da legislação – que favorece a impunidade –, da falta de mobilização dos políticos para mudar a lei, da libertação dos bandidos ao cumprirem um sexto da pena, da liberação de presos por falta de vagas nos presídios, determinada por juízes, da falta de vagas nas cadeias, mesmo havendo dinheiro reservado para a construção de prédios.
Embora não tenha mencionado que há milhares de mandados de prisão que a polícia não consegue cumprir, o coronel disse verdades incômodas.
Algumas delas:
1. Ninguém pode se sentir seguro quando um filho sai à noite em Porto Alegre. Nem ele, que integra as forças de segurança;
2. Os índices de criminalidade baixaram no Estado, mas ainda são absurdamente altos.
3. O Legislativo é descompromissado com as questões de segurança;
4. Falta empenho para mudar as leis;
5. É preciso mais determinação para construir presídios e aplicar as verbas que estão disponíveis à espera de projetos;
6. A reincidência não é levada em conta na hora de liberar um criminoso detido pela polícia.
O coronel corre o risco de ser punido pela franqueza, mas desde sábado está sendo tratado como uma espécie de representante dos que não têm voz para protestar contra a insegurança e a impunidade.
Marcos Socovara diz: 2 de fevereiro de 2010
Fizeste uma ótima abordagem sobre este assunto, Rosane de Oliveira! A visão simplista das declarações do coronel, bem como sobre o que vai acontecer com ele em decorrência do que disse, é, como já defini, uma opinião medíocre de uma sociedade habituada a apontar erros alheios e “constatar” a origem dos problemas que nos assolam, sem conhecimento de causa, sem adotar nenhuma medida de correção e incapaz de olhar para o próprio umbigo. Não, desta vez tu estás buscando sim a verdadeira origem dos fatos que desencadearam essa tardia e lícita declaração de um comandante do policiamento da zona norte, tentas esclarecer verdadeiramente os gaúchos sobre suas respectivas responsabilidades e fazê-los entender (e admitir) que os incontáveis setores deste contexto social têm, cada um a sua parcela, responsabilidade sobre o caos urbano em que estamos mergulhados. Estado (segurança, saúde, escola, saneamento, lazer), empresa, Igreja, família, meios de comunicação, sociedade civil como um todo, têm responsabilidades diante dessa estúpida inversão de valores que deliberadamente deturpam nossa evolução humana e espiritual.
Tudo começa quando um pseudo-cidadão e uma relapsa cidadã trazem ao mundo seus filhos. Desde tenra idade, essas crianças aprendem que têm todos os direitos assegurados por uma legislação porca, cínica e retrógrada, que serve de parâmetro para decisões jurídicas cínicas e duvidosas. Por outro lado, esses mesmos pseudos-cidadãos asseveram não ter absolutamente nenhum dever para com o Estado e, principalmente, para com seus semelhantes. E o fazem com a complacência de pais incompetentes, relapsos e permissivos. Crescem com o indelével sentimento do coitadismo e da impunidade; sabem que haverá sempre uma boa psicóloga ou assistente social, assim como um deputado qualquer, para lhes passar a mão na cabecinha e lhes dizer que estão certos e que devem exigir reparações ou deveres do Estado. Muito bem, assim nascem, crescem e morrem os sem-número de vagabundos, sonegadores, traficantes, homicidas, estupradores e ladrões, que passam pela vida disseminando mediocridade, crueldade e coitadismo, sempre defendidos por outros tantos desocupados defensores de “direitos humanos”. Quando os policiais são chamados para o meio desse lixo social, têm de obrigatoriamente resolver os problemas de incompetentes pais, de padres que nada fazem em suas repetitivas missas para mudar consciências e melhorar a espiritualidade, de empresários que viram as costas para o trabalhador que insiste em se manter no caminho do bem, de abastados e empolados juízes que libertam indiscriminadamente bandidos destruidores de lares e famílias e do próprio Estado, que não manda saúde e saneamento para as vilas, mas que despeja em profusão policiais para limpar a imundície diária. E, com tudo isso, o policial vai se sobrecarregando, se desequilibrando, se auto-destruindo, sem que, por sua vez, tenha a necessária assistência do Estado e a compreensão dessa sociedade hipócrita, neste círculo vicioso.
Parece-me, cara Rosane, que o policial chegou ao seu limite. Ele não sobrevive mais de promessas cínicas de incompetentes aventureiros políticos, nem está mais disposto a assumir responsabilidades que jamais serão suas, mas que vinham assumindo por um simples sentimento do dever, de humanidade. Chega! Este foi o verdadeiro sentido das declarações do cidadão Sérgio Simões, e por isso deve ser exaltado. Já o coronel Sérgio Simões merece indelével respeito da tropa; mereceria, na verdade, ser o comandante de fato e de direito de 23 mil homens sem comando e sem qualquer assistência do Estado. Ele deve ser protegido contra os politiqueiros fardados, e instigado por 23 mil vozes para que exponha definitivamente as entranhas do sofrimento de uma classe à beira do colapso.
Tens muito ainda por esclarecer a acomodada opinião pública, Rosane de Oliveira. Mãos à obra! Deixemos de lado a hipocrisia e façamos cada um de nós a sua parte. Devemos antes de qualquer coisa separar o joio do trigo: polícia é polícia, bandido é bandido, político é… Bom, aí já não posso afirmar nada!
Parabéns, Sérgio Simões!
Jorge Bengochea diz: 1 de fevereiro de 2010.
Parabéns, Rosane. Teu posicionamento ao elencar as “verdades incômodas” manifestadas pelo TC Simões demostram tua sintonia com a opinião pública e com o sentimento de todos os policiais neste país ao lerem o desabafo do oficial da ativa da BM. É um “clichê surrado” (como diz o presidente da Ajuris), mas que até agora não encontrou atitude diligente e funcional nos Poderes Legislativo e Judiciário. Eles continuam tolerando as leis brandas e uma justiça lenta, divergente, burocrata e movida por convicções pessoais, alternativas e terapeuticas que só interessam aos bandidos, corruptos e justiceiros. A preservação da ordem pública precisa de um sistema que envolva um judiciáriuo diligente, ágil e coativo para dar continuidade aos esforços de quem diariamente arrisca a vida contra armas de guerra e poderes paralelos e garantir direito à justiça e paz social.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
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