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segunda-feira, 4 de abril de 2011

JUSTICEIROS - TESTEMUNHA RELATA NO 190 UMA EXECUÇÃO FEITA POR PMs

Mulher presencia execução feita por PMs e faz denúncia ao 190 em tempo real. Policiais fizeram BO dizendo que vítima resistiu à prisão, por isso foi morta; testemunha está sob proteção policial - 04 de abril de 2011 - Bruno Paes Manso - O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Uma ligação para o telefone 190 do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) em março deste ano mostra uma execução em tempo real. A testemunha permanece sob proteção policial. Ela ligou para a PM e descreveu o crime, que foi gravado.

"Olha, eu estou no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério, com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa do carro e deu um tiro. Eu estou aqui do lado da sepultura do meu pai."

De onde presenciou o assassinato, a denunciante não conseguia ver a placa nem o prefixo da viatura policial. Enquanto falava com o Copom, ela teve sangue frio para esperar os policiais fecharem a viatura e passar em frente dela para que ela relatasse os dados ao Copom. "Espera só um pouquinho porque eles vão passar por mim agora. Espero que não me matem também. A placa é DJM 0451, o prefixo é 29.411, M 29.411."

Em seguida, o policial autor da execução percebeu a presença da testemunha, parou a viatura e foi em direção a ela. Corajosa, a mulher se antecipou e foi falar com o policial. "Tem um PM vindo na nossa direção. Oi, desculpa, senhor, o senhor que estava naquela viatura? O senhor que acertou o disparo ali? Foi o senhor que tirou a pessoa de dentro? Estava próximo de onde estávamos. Eu estou falando com a Polícia Militar".

Ainda durante a ligação, o policial fala à testemunha que estava socorrendo a vítima, conversa que também foi gravada. E tenta levar a testemunha para a delegacia. "Estava socorrendo? Meu senhor, olhe bem para a minha cara. Eu não vou (para a delegacia). Ele falou que estava socorrendo. É mentira. É mentira, senhor. É mentira. Eu não quero conversar com o senhor. E o senhor tem a consciência do que o senhor faz".

Os policiais militares acusados de execução registram um boletim de ocorrência de roubo seguido de resistência e morte. Alegavam que o homem morto havia resistido à prisão. Mas a iniciativa da testemunha fez a versão dos policiais cair por terra. Dois PMs estão presos no Romão Gomes.

A Polícia Militar manteve o caso sob sigilo para preservar as testemunhas.

Como foi a ligação com a denúncia da execução - 04/04/2011 - Estadão.com.br

Testemunha 1: Alô.
Copom: Alô. Pois não?

Testemunha 1: Olha, eu estou aqui no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos, e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa dentro do carro e deu um tiro. Eu estou aqui, próximo da sepultura do meu pai.
Copom: A senhora sabe o prefixo dessa viatura, alguma coisa assim?

Testemunha 1: Não. Eu não vou chegar perto pra olhar. Eu estou olhando a viatura, mas que não dá pra ver o prefixo. Essa hora do dia fazer isso? Já é normal fazer isso aqui, mas não é normal eu assistir isso. Eu estou no Cemitério das Palmeiras, a viatura está parada, está ali.
Copom: Senhora, eu entendo. Ferraz de Vasconcelos. A senhora poderia repetir o endereço ai?

Testemunha 1: A viatura vai passar e vai dar pra ver o prefixo (vozes ao fundo). Estou ligando para a polícia, estou ligando para a polícia.
Copom: Olha, eu vou anotar o prefixo, quando a senhora me falar.

Testemunha 1: Olha, eles estão fechando, eles vão passar pela gente e ai eu vou ver o prefixo da viatura.
Copom: Tá certo.

Testemunha 1: Eles estão lá. Eles vão sair. Ela está dando ré. Vai passar por mim.
Copom: Já está com o prefixo já, senhora?

Testemunha 1: Espera só um pouquinho que eles estão fazendo a curva.
Copom: Eu vou registrar um alerta aqui e eu peço a sua gentileza de também fazer essa denúncia na Corregedoria da Polícia Militar.

Testemunha 1: Espera só um pouquinho que eles vão passar por mim agora.
Copom: Tudo bem.

Testemunha 1: Espero que eles não me matem também. Olha lá. A placa é DJL-0451. O prefixo é 29411, M29441.
Copom: Tudo bem, senhora. Obrigado por essa informação. Eu vou cadastrar essa ocorrência e eu peço que a senhora também ligue na Corregedoria da Polícia Militar. O telefone a senhora pode anotar?

Testemunha 1: (falando com terceiros) Já passei. Já passei. Está bom.
Copom: 0451 o final da placa, né?

Testemunha 1: Eu não sei porque ele está vindo agora. Tem um PM vindo na nossa direção. Eu não sei qual é o (...). (falando com o PM) Oi, desculpa senhor. O senhor que estava naquela viatura ali? O senhor que efetuou o disparo? É o senhor que tirou a pessoa de dentro ali atrás de onde nós estávamos? Eu estou falando com a Polícia Militar.
PM suspeito: Não, não. Eu estava socorrendo o rapaz.

Testemunha 1: Socorrendo? Meu senhor, olha bem pra minha cara.
(Trecho incompreensível)

PM suspeito: calma, senhora. A senhora não sabe o que o rapaz fez.

Testemunha 1: Minha nossa.
(Trecho incompreensível)

Testemunha 1: É verdade então a história, realmente. Ele falou que estava socorrendo, mentira. Ele entrou dentro do cemitério com a (...)

Testemunha 2: Você não sabe o que aconteceu.

Testemunha 1: Eu sei bem. Eu não sei o que ele fez (voz do PM ao fundo) É mentira senhor. Eu não quero conversar com o senhor. O senhor paga o que o senhor faz. O senhor tem a consciência do que faz.
Copom: Senhora? Senhora?

Testemunha 2: Você vai se complicar.

Testemunha 1: Não vou me complicar. Vou me complicar por quê? Ele está dizendo que estava socorrendo, ele entrou dentro do cemitério.

Testemunha 2: Você também, ele ameaçou. Ele ameaçou.
Copom: Senhora?

Testemunha 1: Está bom, obrigada. O senhor já registrou, né?
Copom: Sim, eu já registrei, eu tenho os dados aqui. Mas eu falei pra senhora, liga no telefone da Corregedoria da Polícia Militar e passa essa denúncia.
Testemunha 1: Não entendi.

Copom: A senhora precisa ligar no telefone da Corregedoria da Polícia Militar e fazer essa denúncia.

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