Escutas da PF revelam esquema de policiais corruptos no Alemão. Fantástico teve acesso a gravações que resultaram na Operação Guilhotina. Caçada aos bens de criminosos inclui armas, drogas, joias e dinheiro. Do Fantástico - g1, 13/02/2011
Policiais militares e civis, acusados de desviar armas, drogas e dinheiro na ocupação no fim de novembro do conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, não dispensavam nada de valor deixado pelos traficantes nas comunidades. O esquema é revelado pelas escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal na Operação Guilhotina, deflagrada na sexta-feira (11), na maior ação contra o esquema de corrupção nas polícias do Rio.
Gravações de conversas entre um policial e um informante foram exibidas pelo Fantástico neste domingo (13). A reportagem teve acesso a trechos dos diálogos, gravados durante a ocupação no Alemão. Uma das escutas mostra um policial negociando armas e drogas que eventualmente fossem abandonadas por bandidos em fuga.
DEGRAVAÇÕES:
Informante: Fala, meu amigo.
Policial: O que ‘tu’ ver aí, 30 por cento é teu.
Informante: Falou, valeu.
Policial: Já fechei aqui.
Informante: Falou.
Policial: Aí ‘tu’ lá de cima a gente vai se falando com calma. Sem se expor.
Outro trecho revela a má conduta de um policial na casa de um traficante que tem o apelido de Choque.
Policial: Os ‘morador’ tão fazendo o seguinte: na casa do Choque o pessoal foi catando e eu falei: ‘Pode apanhar tudo aí’. Todo mundo levou pra casa os bagulhos, aí. Duas ‘piscina’, móvel de primeiro mundo. Aí eu falei: ‘Apanha tudo aí’. Nego apanhou tudo. Apanhou ar-condicionado. Dei tudo pra pro pessoal levar. Tapete, o pessoal gostou... tudo levando pras ‘casa’ deles.
Informante: E pra mim, você não pegou nada pra mim, não?
Em outro momento, um policial fica decepcionado por encontrar somente material para embalar drogas.
Polícia: Só achei endolação. Não achei nada de droga. Mas de endolação joguei tudo no chão. Vou levar isso pra quê? Aquele negócio de balança. Aí tinha um cafofo. Fui lá, falei: ‘Vou achar aqui’. Caixa d’água, dentro de casa, vazia. Entrei lá dentro e não tinha nenhuma.
Em mais um trecho, o policial mostra a intenção de roubar pares de tênis. Para a polícia, o que eles chamam de tênis pode ser fuzis.
Policial: Tem uma laje aqui cara que tem sete pares de tênis zero.
Informante: Pode descer com a viatura, entra com a viatura no estacionamento.
Policial: ‘Tá’ maneiro, ‘tá’ maneiro então. Vou entrar no estacionamento.
A Polícia Federal começou a investigação sobre o envolvimento de policiais corruptos com o tráfico e milícias a partir de em setembro de 2009. Na época, a PF se preparava para invadir a Favela da Rocinha, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, mas a missão foi cancelada.
Os agentes descobriram que a operação havia vazado para os traficantes. Os criminosos comandados por Antônio Bonfim Lopes, o Nem, teriam sido alertados por policiais civis e militares.
Com o avanço das investigações a PF descobriu uma extensa rede de colaboradores dos bandidos dentro de batalhões da Polícia Militar e delegacias. Cada grupo de informantes chegava a receber R$ 50 mil quando avisava os traficantes de operações policiais na favela. Também ganhavam para dar proteção a milicianos e à máfia dos caça-níqueis.
A investigação revelou ainda a participação de personagens importantes da segurança pública, como o ex-subchefe de Polícia Civil, delegado Carlos Antonio de Oliveira. O policial, que está preso, é suspeito de apropriação e desvio de armas e drogas apreendidas com criminosos.
Desde janeiro, Oliveira estava cedido à Prefeitura do Rio, como subsecretário de Ordem Pública. Na nova função, segundo a Polícia Federal, continuou fazendo negócios com criminosos.
Outro personagem conhecido é o inspetor Leonardo da Silva Torres. Ele começou a chamar a atenção pelo hábito de fumar charuto nas operações e usar uniforme camuflado. Leonardo, mais conhecido como Trovão, chegou a aparecer num documentário exibido pela BBC de Londres, em 2009. A equipe inglesa registrou o inspetor em ação, numa favela carioca.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
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