Editorial
A situação é alarmante. Segundo pesquisa publicada na sétima edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, nada menos que 70% entre 6.600 entrevistados afirmam não confiar nas polícias do país. O percentual é quase nove pontos superior ao registrado um ano antes.
Feito em sete Estados --AM, BA, MG, PE, RJ, RS e SP-- e no Distrito Federal, o levantamento reflete uma opinião generalizada no país. Seus resultados apresentam variações pequenas entre as diferentes faixas de renda ou educação: quanto mais rico e escolarizado, maior a confiança --mas o índice nunca ultrapassa 36%.
A comparação com outros países é constrangedora. No Reino Unido e nos EUA, por exemplo, mais de 80% da população declara confiar nas suas polícias.
Há motivos para essa percepção negativa do público brasileiro. O mais recente relatório do Índice de Confiança na Justiça no Brasil, elaborado pela Fundação Getulio Vargas, mostra que, entre as pessoas que recorreram à polícia --civil ou militar--, somente 36% ficaram satisfeitas ou muito satisfeitas com o trabalho da instituição.
Ou seja, não é apenas impressão, mas também constatação. Como disse o tenente-coronel Adilson Paes de Souza em entrevista a esta Folha, há uma comprovada ineficiência policial ao lado da brutalidade de diversos agentes.
Com 28 anos na Polícia Militar de São Paulo, Souza, hoje na reserva, afirma que muitos policiais entendem o exercício da autoridade como uma atuação truculenta, arbitrária, brutal.
"E o problema é que quando se sedimenta essa incompreensão da autoridade, entramos na fase do 'todos contra todos'", declara.
Ineficiência e violência formam a imagem negativa da polícia. Desconfiança é seu resultado imediato. Sensação de insegurança é o primeiro desdobramento.
Já é ruim, mas não para aí. Por medo ou por acharem que não vale a pena, muitas vítimas deixam de recorrer à polícia, o que alimenta a impunidade. Forma-se um círculo vicioso, em benefício dos criminosos --e a sensação de insegurança torna-se insegurança de fato.
É crucial interromper essa dinâmica o quanto antes, e um primeiro passo é reduzir a letalidade policial. Não é impossível. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública lembra que a polícia da cidade de Nova York, em 1971, matou 93 pessoas; em 2011, esse número despencou para 8.
Quanto antes os governantes perceberem a urgência dessa tarefa, melhor para a população.
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