POR TRÁS DA GREVE. Queda de braço com Dilma
Mobilização dos servidores federais que transtorna a rotina dos brasileiros tem como pano de fundo um embate entre as centrais sindicais e o governo de Dilma Rousseff
JULIANA BUBLITZ
Agreve dos servidores públicos federais que paralisa o país tem um componente político que transcende a luta por salários. Por trás da mobilização, há uma queda de braço entre as centrais sindicais, viúvas do governo Lula, e a presidente Dilma Rousseff, que não aceita pressões e vem priorizando as demandas do empresariado para superar a crise econômica.
O cabo de força se traduz em uma situação inusitada. De um lado, Dilma é aplaudida por grandes empresários – entre eles, multimilionários como Eike Batista. De outro, é duramente criticada por aqueles que sempre estiveram do lado do PT e que, na Era Lula, gozavam de trânsito livre no Planalto.
– Não é de graça que nomes como o de Jorge Gerdau ganharam mais espaço no poder. O problema é que essa visão empresarial só visa o lucro. Não está preocupada com os trabalhadores – reclama um ex-dirigente da CUT.
Assim que os protestos foram deflagrados, a presidente deu mostras de que não pretendia ceder. Deixou claro que os reajustes ao funcionalismo não eram prioridade. A quebra de diálogo soou como uma afronta para os sindicalistas.
– Nós não mudamos em relação ao governo, mas ele mudou em relação a nós. Lula, mesmo que não aceitasse nossas pautas, sempre nos recebeu. Na gestão Dilma, a mesa de negociações foi suspensa – diz o presidente da CUT no Estado, Claudir Nespolo.
Membros de sindicatos ligados à CUT afirmam que, desde então, a União empurra as negociações com a barriga. A insatisfação é tanta que eles decidiram protocolar uma reclamação formal no escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ligada à ONU, em Brasília.
– Estão mais preocupados em agradar o empresariado do que em negociar. A categoria não aceita mais ser enrolada – assevera Josemilton Costa, secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).
Para Costa, Dilma subestimou a capacidade de mobilização do funcionalismo – que, coincidência ou não, escolheu um ano eleitoral para forçar mudanças. Segundo sindicalistas, mais de 350 mil funcionários estariam de braços cruzados. Como Dilma tem até o dia 31 para fechar o orçamento de 2013, eles apostam no tudo ou nada. A decisão é vista com ressalvas.
– A presidente já provou que não aceita faca no pescoço. Com essa radicalização, os sindicalistas podem acabar dando um tiro no pé – avalia o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp.
Do lado do governo, a ordem é buscar uma solução para o impasse. Porém, em valores bem mais baixos do que os solicitados pelas categorias: serão oferecidos, em princípio, R$ 12 bilhões, menos de 20% do que o exigido. Para o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, o importante, agora, é que os interlocutores apresentem uma proposta. Seja qual for:
– A demora joga mais água no moinho da greve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário